Propriedades, benefícios e desafios para o uso da molécula foram apresentados na programação brasileira durante a COP26.
Entre todas as possibilidades de se obter uma matriz energética menos poluente, a exemplo do que já pode ser visto com o etanol e o biogás, surge no cenário mundial o hidrogênio verde, que recebe esse nome por ser derivado de fontes renováveis. A molécula pode ser utilizada para gerar energia e dar origem a produtos que não agridem o ambiente.
As propriedades, benefícios e os desafos para o uso do hidrogênio verde foram apresentados e discutidos na programação do Brasil durante a Conferência do Clima (COP26), em Glasgow, na Escócia, na semana passada.
Alessandro Gardemann, presidente da Associação Brasileira do Biogás (Abiogás) avaliou que o uso da molécula é viável, mas pouco praticado. Para o agro, o combustível limpo é alternativa para o setor de transportes e para a produção de biofertilizantes. “Transformar o resíduo em biofertilizante aumenta o carbono orgânico, a estrutura de solo… Biofertilizante segue o modelo de agricultura tropical e o setor deve aproveitar essa oportunidade”, aconselhou.
O hidrogênio é uma das moléculas mais abundantes no planeta Terra. Diferente dos combustíveis fósseis, como o petróleo, é obtido por meio de uma transformação eletroquímica. Para que a molécula do hidrogênio (H) possa ser utilizada, precisa ser separada de outros compostos, como o metano (CH4). Depois, no momento em que hidrogênio e oxigênio reagem juntos, acontece a eletrólise, resultando em água e energia.
Em sua versão verde, pode ser obtido, por exemplo, durante o processo de geração de energia solar, eólica ou biomassa, sem emitir gases causadores do efeito estufa. O próprio biometano, segundo Gardemann, além de um combustível a ser explorado em larga escala pela agropecuária brasileira, pode ser outra fonte de hidrogênio, sem relação com origens fósseis. “A descarbonização de metano é uma grande oportunidade de receita internacional e os europeus estão atentos ao hidrogênio verde como energia renovável”, afirmou.
Estas possibilidades foram apresentadas por João Guillaumon, sócio na consultoria McKinsey & Company, no 2º Congresso Brasil-Alemanha de Hidrogênio Verde, realizado no final do mês de outubro. Em uma projeção para 2040, de acordo com ele, o uso da fonte renovável vai permitir que o Brasil deixe de emitir 75 milhões de toneladas de CO2 por ano. “O País tem potencial tanto de produção quanto de consumo deste combustível”, reforçou.
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No mercado doméstico, segundo ele, o principal usuário tende a ser o setor de transportes, como ferrovias e caminhões para carga pesada e longas distâncias. “Já temos a matriz energética limpa, o que nos dá vantagem competitiva, além do potencial de expansão de solar e eólica. Temos o melhor custo, e as condições climáticas são favoráveis, principalmente no Nordeste, mas também no Sul e Sudeste pelos biocombustíveis”, defendeu Guillaumon.
Em apresentação na COP26, na última quarta-feira (03/11), Ricardo Cavalcante, presidente da Federação das Indústrias do Ceará (FIEC), defendeu investimentos estrangeiros para produzir hidrogênio verde no Estado. De acordo com ele, a região nordeste produz 85% da energia eólica e mais de 50% do potencial de energia renovável do País.
“Tal potencial representa 160 vezes a atual demanda de energia elétrica brasileira, portanto existe um enorme excedente com elevada produtividade, que pode ser transformada em hidrogênio verde”, disse em gravação reproduzida no Pavilhão Brasil da Conferência do Clima.
Ele afirmou ainda que o Estado de Ceará desponta como “rara e extraordinária oportunidade de investimento” mediante vantagens competitivas, como complementaridade das energias renováveis, parceria entre o Porto de Pecém e o Porto de Roterdã, na Holanda, e ainda incentivos fiscais, clima estável e “terras para uso a preços competitivos”.
Explorar esse potencial de produção e consumo de hidrogênio verde depende, no entanto, de superar alguns desafios, de acordo com os especialistas. Durante o ongresso Brasil-Alemanha de Hidrogênio Verde, João Guillaumon, da McKinsey & Company, destacou, entre os principais, licenciamento e rastreabilidade. “É preciso identificar qual a fonte de energia utilizada e também a certificação, além de todo armazenamento, logística e transporte”, disse.
Na COP26, na semana passada, Alessandro Gardemann, da Abiogás destacou que é preciso levar informação ao produtor rural, além de assistência e viabilidade para armazenagem e logística. “A grande dúvida é como vai ser transportado”, admitiu, sugerindo o aproveitamento da mesma infraestrutura do gás natural liquefeito (GNL).
Na tentativa de superar esses gargalos, Ricardo Cavalcante anunciou, também durante a COP26, uma parceria entre o governo do Ceará, a FIEC, a universidade federal do Estado (UFC), e o Complexo Portuário de Pecém para criar um “ambiente favorável para investimento voltados ao hidrogênio verde”. “As oportunidades são reais e sem volta, o que faz do Ceará o grande celeiro para receber esse hidrogênio verde”, defendeu.
“As oportunidades são reais e sem volta, o que faz do Ceará o grande celeiro para receber esse hidrogênio verdeRicardo Cavalcante, presidente da Federação das Indústrias do Ceará (FIEC)
Fonte: Globo Rural