A Bunge, uma das maiores comercializadoras de grãos do mundo, divulgou recentemente ter adquirido uma participação de 1,6% na startup de carne de origem vegetal Beyond Meat.
A jogada aparentou ser inteligente, uma vez que a ação da Beyond disparou mais de 250% desde a oferta pública inicial (IPO, na sigla em inglês), ocorrida em maio. De fato, o valor de mercado da Beyond Meat, de 9,9 bilhões de dólares, já é maior que o da Bunge, uma empresa de 201 anos com 31 mil funcionários.
Não é uma surpresa que diversas empresas de alto escalão do agronegócio queiram obter participação em um mercado em rápida expansão.
O investimento da Bunge é apenas um exemplo de como comercializadoras de grãos e fabricantes de sementes estão tentando capitalizar em um mercado que agora representa 5% das compras de carne nos Estados Unidos –uma parcela que deve triplicar em uma década, segundo a empresa de administração de investimentos Bernstein.
Esse crescimento seria espelhado no rápido avanço de substitutos do leite fabricados a partir de produtos como amêndoas.
“Eu realmente acredito que isso continuará a atrair demanda”, disse Vince Macciocchi, presidente do setor de nutrição da Archer Daniels Midland, uma das maiores rivais da Bunge.
A ADM e a também trader de grãos Cargill estão vendendo ervilhas processadas e proteínas de soja para empresas alimentícias e restaurantes que as utilizam para a fabricação de hambúrgueres vegetais, salsichas, substitutos ao peixe e outros produtos.
Elas também estão entrando no mercado através de aquisições e parcerias corporativas, ou aproveitando seus laboratórios e recursos de pesquisa para ajudar na criação de novos produtos de origem vegetal destinados a clientes como fabricantes de alimentos e bebidas. A ADM fez parceria com a brasileira Marfrig, maior produtora de hambúrgueres de carne bovina do mundo.
A empresa de sementes Corteva está em estudos para possíveis ofertas de sementes de vegetais.
As comercializadoras de grãos e fabricantes de sementes estão seguindo a liderança da Beyond Meat e de outra startup, Impossible Foods, que, ao lado de tradicionais produtoras de carnes, como Tyson Foods e Maple Leaf, lucram com os substitutos de origem vegetal à carne.
A demanda por alternativas à carne cresceu, à medida que consumidores acrescentam proteínas vegetais às suas dietas por razões de saúde e por preocupações com o bem-estar animal e com os danos da pecuária ao meio-ambiente.
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Mesmo assim, as grandes empresas agrícolas ainda jogam um tanto quanto na defensiva, afinal de contas, traders de grãos fornecem ração animal aos rebanhos de todo o mundo, um negócio que seria afetado se as vendas de carne de origem vegetal avançarem às custas da carne animal.
Já fabricantes de sementes, como a Bayer, vendem para agricultores que cultivam milho e soja, produtos que são comercializados em geral para a alimentação de animais.
(Por Rod Nickel em Winnipeg e Tom Polansek em Chicago)
Fonte: Reuters