Gigante do café com dívidas de R$ 2 bilhões mira recuperação judicial e assusta o mercado

O grupo mineiro Montesanto Tavares, responsável por aproximadamente 8% das exportações de café do Brasil, com dívidas de R$ 2 bilhões, um dos maiores exportadores de café do Brasil enfrenta turbulência financeira e mira recuperação judicial.

Divulgado inicialmente pelo Brazil Journal, o grupo mineiro Montesanto Tavares, responsável por aproximadamente 8% das exportações de café do Brasil, está à beira de uma recuperação judicial (RJ). A empresa, controladora das tradings Atlântica Coffees e Cafebras, enfrentou um revés importante na última terça-feira, quando a Segunda Vara Empresarial de Belo Horizonte negou seu pedido de carência de 60 dias para renegociar dívidas.

Um cenário financeiro alarmante

O endividamento total do grupo é estimado em R$ 2 bilhões, com R$ 100 milhões já vencidos, sendo o Banco do Brasil o principal credor deste montante. Outros bancos como Macquarie, Pine, Santander e BTG Pactual, além da multinacional Cargill, também figuram na lista de credores.

O grupo Montesanto Tavares, fundado em 1998, possui seis unidades operacionais em Minas Gerais e uma em São Paulo, além de trabalhar com cerca de 2 mil produtores rurais. Em 2022, suas tradings movimentaram 12 milhões de sacas de café e registraram faturamento de R$ 3,3 bilhões. Apesar do histórico robusto, os problemas financeiros se agravaram após a quebra da safra 2021/2022, causada por eventos climáticos como geadas e seca, que resultaram na perda de 24 milhões de sacas no País.

Impactos das adversidades climáticas e financeiras

Segundo o grupo, muitos produtores não entregaram os volumes de café contratados, prejudicando o cumprimento de compromissos com clientes internacionais. Além disso, a escalada no preço do café, que dobrou nos últimos 12 meses, gerou chamadas de margem que comprometeram severamente o fluxo de caixa da empresa. Em novembro, essas chamadas representavam impressionantes 158% dos recebíveis do grupo, com o valor de derivativos saltando de R$ 50 milhões para R$ 470 milhões.

Os problemas financeiros também foram ampliados pela mudança na forma de financiamento das operações. Os bancos passaram a exigir Adiantamentos de Contrato de Câmbio (ACCs), uma linha de crédito que não entra em dívidas cobertas em uma RJ, substituindo o capital de giro usado para tapar buracos no caixa. O Montesanto Tavares argumentou que os ACCs foram utilizados de forma desvirtuada, mas a Justiça considerou os contratos válidos.

Críticas e tensões com credores para a Montesanto Tavares

A decisão da Justiça também veio após manifestações contrárias dos credores, incluindo o BTG Pactual, que defendeu a regularidade dos ACCs e destacou que o grupo tinha pleno conhecimento dos contratos. Já a Cargill criticou os pedidos do grupo como uma tentativa de “blindagem patrimonial”.

Entre os credores, há insatisfação com a gestão do Montesanto Tavares. Alguns afirmam que a empresa se recusa a cobrar judicialmente os produtores inadimplentes, o que seria uma prática temerária. Além disso, a renúncia de Ricardo Tavares, sócio majoritário, em setembro, levantou suspeitas de que o movimento seria uma estratégia para proteger seu patrimônio.

Negativa judicial e próximos passos

O juiz Murilo Silvio de Abreu negou o pedido de suspensão das liquidações de hedge e das chamadas de margem, destacando que a situação apresentada pelo Montesanto Tavares não justifica a medida. Para o magistrado, a empresa pode recorrer, mas o caminho parece cada vez mais apontar para um pedido formal de recuperação judicial.

Credores já articulam um pedido de investigação forense para apurar a contabilidade e os contratos do grupo, enquanto no setor, a crise financeira do Montesanto Tavares já era esperada. Um executivo de uma cooperativa comentou: “Era sabido que o grupo estava sofrendo chamadas de margem altíssimas, aumentando sua necessidade de caixa.”

Um futuro incerto para a Montesanto Tavares

Com o julgamento desfavorável em primeira instância e a escalada da dívida, o Montesanto Tavares enfrenta um dos momentos mais críticos de sua trajetória. O desfecho dessa disputa jurídica será determinante não apenas para a sobrevivência do grupo, mas também para os cerca de 2 mil produtores que dependem da empresa para comercializar sua produção de café.

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