Técnica de edição gênica já tem sido testada nos EUA para a produção de suínos livres da doença; trabalho também deve ser desenvolvido em bovinos
O sequenciamento do genoma bovino em meados de 2009 abriu um grande leque de possibilidades para as técnicas de produção de proteína animal. Os avanços nos estudos nessa área permitiram o desenvolvimento de uma técnica chamada de “edição gênica”, que permite a retirada ou adição de determinada particularidade de um animal ou raça a qualquer outro indivíduo do mesmo tipo. Para isso, basta extrair a fração de DNA correspondente à característica desejada e adicioná-la ao material genético de outro animal durante o período embrionário.
Por meio desse processo, os geneticistas conseguiram produzir animais da raça Holandês sem chifres, evitando o desgaste com a descorna dos bezerros. “Trata-se de uma técnica revolucionária que irá solucionar grande parte dos problemas da pecuária mundial, além de alavancar o bem-estar animal no sistema produtivo”, destacou Tad Sonstegard, diretor científico (Chief Scientific Officer) da empresa americana Acceligen, de Minessota.
Entre os trabalhos mais recentes da empresa, Sonstegard destaca a produção de suínos castrados geneticamente por meio da adição do gene correspondente à puberdade tardia. “Os órgãos reprodutores desses animais crescem de maneira bem mais lenta do que os demais, sendo possível engordá-los e abatê-los antes que os hormônios se desenvolvam”.
Para chegar a esse resultado, o geneticista explica que foram usadas as informações obtidas com as pesquisas de humanos que não entram na puberdade ou a desenvolvem tardiamente, onde foi possível identificar a região do genoma que responde por essa característica.
Atualmente, a empresa está desenvolvendo pesquisas para que seja possível produzir animais imunes à febre aftosa. Nesse caso, os animais portarão o gene que evita que o vírus entre no organismo. “As pesquisas estão avançadas e devemos ter resultados concretos até o próximo ano”, destacou Sonstegard.
Embora inicialmente o foco seja nos suínos, o geneticista adiantou que já foram iniciadas as pesquisas em bovinos. Em ambos os casos o fator de maior dificuldade é o fato de os EUA serem livres da doença sem vacinação. “Teremos que estudar outras maneiras de realizar as pesquisas e os testes, mas acredito que devemos conseguir produzir os primeiros animais livres de aftosa em no máximo cinco anos”, concluiu.
Outra área em que a edição gênica tem avançado é na adaptabilidade de raças taurinas ao clima tropical. Para isso, a empresa estudou o genoma do Senepol e encontrou o gene slick, que faz com que os animais dessa raça sejam mais resistentes ao calor. “Agora esse gene pode ser adicionado ao DNA de embriões taurinos para a produção de animais adaptados ao clima tropical, ampliando a presença dessas raças no Brasil”, adiantou Sonstegard.
Expansão global
Para se expandir pelo mundo, a edição genética ainda esbarra em questões regulatórias já que cada país tem uma legislação própria. Outro entrave é a resistência de entidades contra pesquisas de modificação genética. Nesse caso, o principal argumento utilizado pelos cientistas é de que a técnica só tem a trazer benefícios à cadeia produtiva, principalmente na área de bem-estar animal, como já citado no caso do gado Holandês.
Um dos pioneiros nos trabalhos de genômica no Brasil, o pesquisador da Unesp de Araçatuba e sócio da AgroPartners Consulting, José Fernando Garcia, está atuando como consultor das empresas estrangeiras para assuntos regulatórios. Segundo ele, os processos estão em andamento e a técnica deve chegar ao País em cerca de três anos. “Será um grande marco para a pecuária brasileira”, arrematou.
Fonte: Portal DBO