Frigorífico em RJ com dívida de R$ 115,5 milhões tem “escândalo” investigado pelo MP

Após a aprovação do plano de recuperação judicial do frigorífico, novas denúncias colocam em xeque a lisura do processo. Ex-gestor ressurge com acusações, administrador judicial é questionado e Ministério Público investiga indícios de fraude.

Conteúdo atualizado as 12:25 com nota explicativa sobre o comprovante de pagamento emitido em nome do escritório de advocacia.

O frigorífico Rio Beef, localizado em Ji-Paraná (RO), acumula uma dívida de R$ 115,5 milhões e enfrenta um cenário de crise severa. Embora o plano de recuperação judicial tenha sido recentemente aprovado pelos credores, sérias denúncias de irregularidades, suspeitas de desvio de dinheiro e questionamentos sobre a administração judicial colocam em dúvida a viabilidade do processo. O Ministério Público de Rondônia investiga possíveis crimes falimentares.

O Compre Rural teve acesso exclusivo aos documentos relacionados ao processo, reafirmando a urgência e comprometimento do veículo de comunicação em expor os fatos e cumprir o seu dever de levar informação ao público.

O Reaparecimento de Lucas Zanchetta e Suas Acusações

Apenas dois dias após a aprovação do plano de recuperação judicial, o ex-gestor do frigorífico, Lucas Zanchetta Ribeiro, voltou à cena, publicando vídeos com acusações graves contra o atual gestor, Antônio Carlos Faitaroni.

Em seus vídeos, Lucas Zanchetta Ribeiro afirma ter sido vítima de Antônio Carlos Faitaroni, alegando que este seria o verdadeiro responsável pelo endividamento milionário do frigorífico. Segundo ele, a crise financeira da empresa teria sido gerada por má gestão e por uma complexa operação de empréstimos a juros abusivos, que Faitaroni teria praticado ao longo dos anos contra a própria empresa para ocultar desvios. Lucas também acusa Faitaroni de cometer fraudes e de abusar de suas prerrogativas como gestor da empresa, nomeado pela Justiça em 2022. Além disso, Zanchetta aponta supostas irregularidades no processo de recuperação judicial.

Lucas Zanchetta Ribeiro também afirmou que irá retomar a gestão do frigorífico Rio Beef, chegando a dar um ultimato a Antônio Carlos Faitaroni para que renunciasse à diretoria em até 48 horas – prazo este que já venceu.

No entanto, uma busca pública revelou que o próprio Lucas Zanchetta Ribeiro possui um histórico de problemas com a gestão e falências de empresas do setor frigorífico, como a Churrascaria Porcão, a New Beef e a Pecus Brasil. Ele é réu em centenas de processos cíveis, trabalhistas e até criminais.

O Compre Rural tentou entrar em contato com Lucas Zanchetta Ribeiro para comentários, mas não conseguiu localizá-lo.

Uma busca processual (Processo nº 7005261-51.2022.8.22.0005) revelou ainda que, ao contrário do que ele afirma em seus vídeos, Lucas Zanchetta Ribeiro nunca se manifestou judicialmente sobre a disputa societária com Antônio Carlos Faitaroni. Além disso, documentos apontam possíveis irregularidades financeiras supostamente praticadas por ambos no frigorífico.

YouTube video

Possível Conflito de Interesses na Administração Judicial

Outro ponto controverso no caso envolve o administrador judicial, Dr. Rodrigo Totino, que já advogou para Antônio Carlos Faitaroni em um processo encerrado em 2021 (Processo nº 0003014-80.2012.8.22.0002). Além disso, o escritório de advocacia do qual Totino faz parte ainda presta serviços para Faitaroni em outro processo na Justiça Federal (Processo nº 0008092-35.2011.4.01.4100).

Além da relação entre Totino e Faitaroni, foi identificado um pagamento de R$ 42 mil realizado pelo frigorífico, em fevereiro de 2022, diretamente para o escritório MBT Advogados Associados, do qual o administrador judicial é sócio, cerca de um ano antes do pedido de recuperação judicial. O comprovante desse pagamento segue anexado ao conteúdo.

⚠️ Segundo resposta do escritório envolvido, esse esclarece que: “Sobre a questão do pagamento recebido em 2022 e do comprovante apresentado na matéria, trata-se do processo de n° 7001248-09.2022.8.22.0005, no qual atuamos CONTRA o Frigorífico, conforme documentos em anexo”. (Veja os documentos enviados que confirmam o esclarecido).

Esse fato aponta que tanto o Dr. Rodrigo Totino, quanto o seu escritório (Machiavello, Bonfá e Totino Advogados Associados), não podem vir a ser alvo de suspeição no processo de recuperação judicial ou na nomeação do administrador judicial pela Justiça, conforme esclarecido em Nota oficial do escritório.

Frigorífico Rio Beef
Antônio Carlos Faitaroni

O Compre Rural entrou em contato com a Administração Judicial do Frigorífico Rio Beef, garantindo o direito de resposta, que respondeu prontamente:

“O Dr. Rodrigo Totino é um dos sócios integrantes da banca MBT Advogados Associados, sendo que esta patrocinou um único processo em favor do Sr. Antônio Carlos Faitaroni e sua esposa. Trata-se da ação de Servidão Administrativa, ajuizada no ano de 2012 e encerrada em 2021. Ressalta-se que a banca é integrada por vários sócios, sendo que no ano de 2012, Dr. Rodrigo Totino não era integrante da referida sociedade de advogados. Tanto o Dr. Rodrigo Totino quanto a banca MBT Advogados Associados jamais atuaram na defesa dos interesses da empresa Frigorífico Rio Machado ou de seu sócio em questões ligadas à atividade empresarial”. Veja abaixo o documento enviado pelo escritório em seu direito de resposta no final do conteúdo.

Outras Irregularidades no Processo de Recuperação Judicial do Frigorífico Rio Beef

Paralelamente, mesmo após a aprovação do plano de recuperação pela maioria dos credores, surgiu nos autos um recurso pedindo que o Juiz se manifeste sobre possíveis irregularidades ocorridas ao longo do processo, algumas já noticiadas pelo Compre Rural, incluindo:

a) a realização de pagamentos irregulares em favor do sócio Eduardo de Almeida Ferreira e seu filho; b) a compra de gado do próprio sócio Antônio Carlos Faitaroni por preços acima do mercado; c) pagamentos privilegiados a credores; d) o pagamento milionário de bonificações; e) a vinculação entre o sócio Eduardo de Almeida Ferreira e Lucas Zanchetta Ribeiro; f) a falta de transparência e de documentos contábeis essenciais, como o livro-razão e extratos bancários; g) um conjunto de elementos que desmentem as alegadas causas apresentadas para a crise financeira do frigorífico.

O Ministério Público segue investigando possíveis crimes falimentares, enquanto credores e pecuaristas observam com preocupação os desdobramentos do caso.

A investigação sobre eventual cometimento de ilícitos encontra-se sob a responsabilidade do Ministério Público, que está conduzindo as apurações necessárias, segundo a Administração Judicial.

Documentos em anexo:

Frigorífico Rio Beef
Pagamento realizado pelo Frigorífico Rio Beef ao escritório responsável pela AJ da RJ.

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