
Ex-secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul palestra na Abertura da Colheita do Arroz e fala sobre os efeitos deste gargalo do agro nos demais setores produtivos
O Cenário Econômico e Desafios da Economia Gaúcha foi tema de palestra para o público no auditório Frederico Costa na tarde desta quarta-feira, 19 de fevereiro, na 35ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas. O economista Aod Cunha, ex-secretário da Fazenda do Rio Grande do Sul, foi o painelista deste tema, mediado pelo economista-chefe do Sistema Farsul, Antônio da Luz.
No início, o especialista explicou que faria uma explanação do cenário macro com repercussões e impactos mais relevantes aos produtores rurais, depois chegando mais especificamente para a economia gaúcha. Segundo Cunha, o Brasil não vem acompanhando nos últimos anos o crescimento de outros países, mostrando em números os fatores que levaram a este cenário. Sobre o atual tema relacionado às tarifas de importação, que voltaram à pauta global após Donald Trump assumir novamente a presidência dos Estados Unidos, Cunha espera que haja uma elevação. “O fato é que o mundo vinha em uma trajetória de reduções de tarifas e não de aumento”, salientou.
Para Cunha, no cenário global, a tendência é ter um custo de capital mais alto do que foi nos últimos anos. “E, como adicional, isso tudo indica que a gente deve ter um mundo menos globalizado para muitas cadeias, no sentido de as cadeias estarem voltando talvez para tarifas maiores visando a proteção da indústria nacional. E isso também joga, de certa forma, com alguma pressão de custos, de preço adicional, que impacta também a inflação e juros”, observou.
O economista revelou que há muito espaço para os Estados Unidos aumentar tarifas de importação para produtos brasileiros se realmente perseguirem o tema de igualdade tarifária. “Esse é um ponto de atenção no Brasil para alguns setores. Que setores têm mais diferença? Quando a gente quebra isso por setores eu vou pegar minério de ferro, carne, etanol, químicos, alimentação processada, preparada, algodão, café. O Etanol é um caso. Temos uma média que põe em tarifa de 18% na importação de Etanol, quando os Estados Unidos colocam 2,5%. Isso é um ponto muito sensível para o Brasil se fosse levado ao pé da letra de equalização tarifária. Praticamente inviabilizaria exportação brasileira”, ponderou.
Para o Brasil, Cunha falou sobre a expectativa de inflação mais alta e taxas mais altas, o que será um desafio para as empresas. “Me desconforta um pouco porque eu acredito, tanto pela análise econômica dos dados quanto pela minha experiência na vida com as empresas, que é impossível manter este nível de atividade econômica por muito tempo com este nível de taxa de juros real que a gente está tendo. Tem uma hora que isso faz um preço”, avaliou.
Chegando à economia gaúcha, o especialista salientou que o tema da seca e a falta de irrigação são preponderantes para o Estado, que vem sendo assolado diretamente nos últimos anos por estes fatores. “De longe é o maior problema econômico do Rio Grande do Sul, não só do agro, mas de todo o Rio Grande do Sul, que é a incapacidade de saber armazenar água e conseguir enfrentar períodos recorrentes de seca que não tiram só a geração de renda da produtividade do setor de grãos, mas tiram renda da indústria, do serviço, do comércio, do Estado todo.”
Cunha salientou ainda que este é um grande desafio do Estado: “Existe toda a discussão, mas por que não anda mais? O governo podia dar mais dinheiro, é problema da legislação, é um problema de cultura empresarial, o arroz irriga, mas a soja não, especialmente na pequena propriedade. Tem uma série de discussões sobre isso. O fato é que é inadmissível o quanto que o Rio Grande do Sul perde a todo momento de renda com isso”, concluiu.
A 35ª Abertura Oficial da Colheita do Arroz e Grãos em Terras Baixas é uma realização da Federação das Associações de Arrozeiros do Rio Grande do Sul (Federarroz) e correalização da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) e do Serviço Nacional de Aprendizagem Rural (Senar), além do Patrocínio Premium do Instituto Rio Grandense do Arroz (Irga) e apoio da Prefeitura Municipal de Capão do Leão. O evento tem como tema “Produção de Alimentos no Pampa Gaúcho – Uma Visão de Futuro”. Mais informações pelo site colheitadoarroz.com.br.
VEJA MAIS:
- Trump usa estratégias milenares para alçar liderança global
- Conheça a ‘carne perfeita’ para bife e churrasco que deixou a picanha no chinelo
ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias
Não é permitida a cópia integral do conteúdo acima. A reprodução parcial é autorizada apenas na forma de citação e com link para o conteúdo na íntegra. Plágio é crime de acordo com a Lei 9610/98.