Resultados apontam que as principais hospedeiras do nematoide causador da Soja Louca II, além da soja, são o algodão e o feijão.
Os primeiros resultados sobre as pesquisas com plantas hospedeiras do nematoide Aphelenchoides besseyi, causador da Soja Louca II, revelam que, além da soja, outras duas culturas são hospedeiras: o algodão e o feijão, e também quatro plantas daninhas: trapoeraba, agriãozinho-do-pasto, cordão-de-frade e caruru
Os primeiros resultados sobre as pesquisas com plantas hospedeiras do nematoide Aphelenchoides besseyi, causador da Soja Louca II, revelam que, além da soja, outras duas culturas são hospedeiras: o algodão e o feijão, e também quatro plantas daninhas: trapoeraba, agriãozinho-do-pasto, cordão-de-frade e caruru. Além de avaliar aspectos de hospedabilidade do nematoide, os pesquisadores Maurício Meyer, da Embrapa Soja, e Luciany Favoreto, da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), também buscavam respostas sobre como o nematoide sobrevive no solo de uma safra para outra e se há cultivares de soja mais sensíveis ao nematoide, entre outros dados.
Nematoide conhecido na cultura da soja
Nas lavouras de soja, o nematoide foi identificado há mais de dez anos e há registro de que pode causar reduções de até 100% na produtividade. A doença causa abortamento das vagens, enrugamento e escurecimento das folhas. A Soja Louca II é uma doença que predomina em regiões quentes e chuvosas como os estados do Maranhão, Tocantins, Pará e Mato Grosso. Mais informações sobre o histórico do problema na cultura da soja estão disponíveis no fim deste texto.
Havia poucos estudos relacionados ao nematoide Aphelenchoides spp. “Esses trabalhos eram menosprezados, talvez pelo baixo impacto econômico do Aphelenchoides sobre culturas agrícolas quando comparado aos nematoides-de-galha, de cisto e o Pratylenchus”, contam os pesquisadores. “Porém, é imprescindível gerar resultados de pesquisa para o estabelecimento de estratégias de controle, no menor prazo possível, para minimizar as perdas na produção de soja e de algodão”, alertam.
Segundo Maurício Meyer, existem relatos da ocorrência do problema em lavouras de feijão na Costa Rica, por isso os testes foram conduzidos no Brasil. “Inoculamos em feijoeiro, as populações de nematoide oriundas da soja, e confirmamos os mesmos sintomas descritos na Costa Rica, contudo, não existe relato de ocorrência do problema em lavouras de feijão brasileiras”, explica Meyer.
Com relação ao algodão, ao contrário, no início de 2017, foram identificadas as primeiras lavouras atacadas pelo nematoide Aphelenchoides besseyi, nas regiões de Sapezal e de Sorriso, em Mato Grosso. Para orientar os produtores sobre os sintomas e iniciar estudos sobre o manejo da doença, foi formado um grupo de trabalho composto pela Embrapa Agrossilvipastoril, Grupo Scheffer, Instituto Mato-Grossense do Algodão (IMA-MT), Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig), JEM Análise Agrícola e Universidade Estadual Paulista Júlio de Mesquita Filho (Unesp) de Jaboticabal.
De acordo com o pesquisador do IMA-MT Rafael Galbieri, o nematoide está presente no solo, e um dos fatores que pode ter favorecido seu ataque foi o excesso de chuvas nas regiões atingidas, em fevereiro e março deste ano. “É difícil avaliar danos ainda, porque identificamos os primeiros ataques no início deste ano na cultura do algodão”, conta o pesquisador. “Ainda não definimos as estratégias de manejo, porque é tudo muito recente. O importante é que formamos um grupo de trabalho para aprofundar os conhecimentos sobre a doença na cultura do algodão”, anuncia.
Avanços em culturas agrícolas
Quanto à capacidade de hospedar o nematoide, os pesquisadores avaliaram as culturas de algodão, feijão, milho, milheto e sorgo. Apenas o algodão e o feijão foram confirmados como hospedeiros, ou seja, podem sofrer danos causados pelo nematoide. De acordo com Maurício Meyer, da Embrapa Soja, Valéria de Oliveira Faleiro, da Embrapa Agrossilvipastoril e Luciany Favoreto, da Epamig, as amostras confirmadas de plantas do algodoeiro, da região de Sapezal (MT), apresentavam sintomas de engrossamento de nós, deformações foliares, diminuição de porte e perda de botões florais, similares aos observados na soja. As plantas de algodão foram analisadas pelos laboratórios das instituições parceiras que formaram um grupo de trabalho para investigar o problema.
Além do algodão, 22 variedades de feijão foram avaliadas para se entender como as diferentes cultivares podem ser sensíveis ao patógeno causador da Soja Louca II. “Apesar de todas hospedarem o nematoide, observamos a existência de variabilidade genética entre as plantas, assim como acontece com a soja”, explica Favoreto.
No caso da soja, das 64 cultivares avaliadas, 62 delas apresentaram maior intensidade de sintomas. “Esses resultados indicam alguma variabilidade genética da soja para resistência a A. besseyi”, diz Meyer. Segundo ele, a Embrapa vai estudar fontes de resistência genética para desenvolver cultivares resistentes ao problema. Até o momento, nenhuma das cultivares de soja avaliadas mostrou-se resistente ao nematoide.
Enquanto novos resultados de pesquisas vêm sendo gerados, os pesquisadores recomendam técnicas de manejo de plantas na lavoura, tais como a dessecação antecipada à semeadura de soja e algodão, e um efetivo controle de plantas invasoras.
De acordo com o pesquisador da Embrapa Cocais Dirceu Klepker, a incidência de Soja Louca II nos estados do Maranhão, Tocantins e Pará foi reduzida, na safra 2016/2017, em função de um rigoroso manejo de plantas daninhas em pós-colheita, da dessecação antecipada e de controle em pós-semeadura, nos diversos sistemas de produção da soja, além da adoção de cultivo de milho em sucessão à soja.
Plantas de cobertura também foram avaliadas para averiguar se podem hospedar o nematoide. Os pesquisadores analisaram a braquiária (U. ruziziensis) e três espécies de crotalária. “Essas espécies apresentaram baixa concentração de nematoide por grama de tecido vegetal, não sendo consideradas multiplicadoras do nematoide”, constata Meyer.
Plantas daninhas hospedeiras
De acordo com Favoreto, as plantas daninhas trapoeraba, agriãozinho-do-pasto, cordão-de-frade e caruru apresentaram maior capacidade de multiplicação e manutenção de A. besseyi. Na trapoeraba, por exemplo, aos 50, 80 e 150 dias de inoculação foram encontrados, respectivamente, 3, 27 e 94 nematoides por grama de tecido vegetal. A população de nematoides observada no agriãozinho-do-pasto, cordão-de-frade e caruru também foram significativas. “O que prova que os nematoides estão se alimentando e multiplicando nessas plantas e que elas são fonte de inóculo para a próxima safra, sendo necessária a sua eliminação para o manejo da doença.”
Histórico da Soja Louca II
Por mais de dez anos, diversos pesquisadores brasileiros tentaram identificar a causa da Soja Louca II (SL-II). Somente em 2015, os pesquisadores da Embrapa e da Empresa de Pesquisa Agropecuária de Minas Gerais (Epamig) identificaram o nematoide da haste verde da soja, Aphelenchoides besseyi, como agente causal da Soja Louca II. No entanto, para responder a questões sobre o comportamento do nematoide e opções de manejo, por exemplo, os pesquisadores abriram outras frentes de pesquisa. Os primeiros resultados estão sendo divulgados agora.
Meyer diz que os sintomas da SL-II são observados no início da fase reprodutiva da soja, que apresenta afilamento das folhas do topo das plantas, enrugamento das folhas e engrossamento das suas nervuras. Além disso, Meyer explica que as folhas com sintomas apresentam coloração mais escura e menor pilosidade em relação às folhas normais. Também é observado que as hastes exibem deformações e engrossamento dos nós. As vagens podem apresentar lesões, rachaduras, apodrecimento, redução do número de grãos e menor pilosidade.
Os pesquisadores relevam ainda que as plantas afetadas registram um alto índice de abortamento de vagens, provocando, muitas vezes, a indução de uma nova floração e sintomas de superbrotamento. “Esse abortamento é mais intenso na parte superior das plantas, diminuindo em direção à base, o que impede o processo natural de maturação, permanecendo a planta verde mesmo após a aplicação de herbicidas dessecantes”, relatam.