
O Brasil nunca transformou tanto milho em etanol como agora. O milho brasileiro passa a ser mais do que uma commodity de exportação: torna-se peça-chave na segurança energética e alimentar do país.
O avanço acelerado da indústria de etanol de milho no Brasil está redefinindo o papel do país no comércio global de grãos. O aumento expressivo do consumo interno da commodity tem pressionado os preços e gerado incertezas sobre o volume disponível para exportação, especialmente em um momento em que o Brasil se consolidava como um dos maiores fornecedores mundiais de milho. As informações são da Bloomberg, com reportagem de Dayanne Sousa e Clarice Couto.
O Brasil nunca transformou tanto milho em etanol como agora. A temporada atual deve registrar recorde de processamento de grãos pelas usinas, refletindo diretamente nos preços internos. Segundo o Cepea, a produção de etanol é um importante vetor de consumo, ajudando a sustentar valores mais altos para o grão.
Além da produção de biocombustível, a crescente demanda por ração animal também pressiona o mercado. Isso tem mantido os preços do milho elevados e reduzido a previsibilidade das exportações brasileiras.
Queda nas exportações é preocupação global
Atualmente, o Brasil exporta cerca de 20% de todo o milho comercializado no mundo, com expectativa de embarcar 41 milhões de toneladas nesta safra, segundo o Departamento de Agricultura dos EUA (USDA). No entanto, esse cenário pode mudar.
Luiz Fernando Roque, da Hedgepoint Global Markets, alerta que a tendência de aumento nas exportações brasileiras pode estar perto do fim, dada a força do consumo interno.
Outro fator que contribui para essa tensão é o clima desfavorável. Atrasos no plantio da soja afetaram o calendário da safrinha de milho, que já se desenvolve sob risco maior de seca no fim do ciclo, comprometendo a produtividade.
Produtores apostam em preços futuros
O aumento da demanda e a expectativa de valorização têm levado os produtores a postergar vendas. No Mato Grosso, apenas 39% da próxima safra de inverno havia sido vendida até fevereiro, abaixo da média de 48% dos últimos cinco anos, segundo a AgRural.
Para André Pessôa, presidente da Agroconsult, os preços devem se manter altos mesmo com a colheita da safrinha prevista para o final do ano. A consultoria estima que o consumo doméstico de milho suba 9% em 2025, totalizando 96 milhões de toneladas, com o uso para etanol ultrapassando 22 milhões de toneladas.
Implicações geopolíticas e comerciais
A redução das exportações brasileiras ocorre em um momento sensível para o mercado global. Os Estados Unidos enfrentam dificuldades nas vendas externas após a China impor tarifas de 15% sobre o milho americano, como retaliação a políticas comerciais de Washington.
Dessa forma, o milho brasileiro se tornava uma alternativa atrativa, mas o aumento do consumo interno pode frustrar parte dessa expectativa, levando países importadores a buscar novos fornecedores.
O crescimento do etanol de milho representa uma virada estratégica para o Brasil, que passa a depender mais do mercado interno para o escoamento da safra. Entretanto, isso pode comprometer a posição do país como potência exportadora, especialmente em momentos de instabilidade climática ou conflitos comerciais globais.
Com um cenário volátil e de forte transformação, o milho brasileiro passa a ser mais do que uma commodity de exportação: torna-se peça-chave na segurança energética e alimentar do país.
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