O objetivo foi realizar o intercâmbio de informações e experiências nacionais e internacionais sobre a redução de PDA.
Representantes da indústria da alimentação, logística, varejo, associações do setor, governo, bancos de alimentos e especialistas, além de instituições de pesquisa, universidades e ONGs se reuniram em 26 de setembro, em São Paulo, em torno da iniciativa Save Food Brasil para discutirem os desafios para redução de Perdas e Desperdícios de Alimentos (PDA) no País.
O objetivo do encontro, que contou com a parceria da Embrapa, Organização das Nações Unidas para a Alimentação e a Agricultura – FAO, World Resources Institute – WRI Brasil e World Wildlife Fund – WWF, com o apoio da Fundação Cargill, foi realizar o intercâmbio de informações e experiências nacionais e internacionais sobre a redução de PDA, para equacionar o problema do desperdício de alimentos também no Brasil.
A Save Food Brasil é uma Iniciativa com apoio da FAO/ONU que visa formatar uma rede de profissionais com expertise na matéria, estimular o diálogo intersetorial, por meio da propagação das melhores práticas e processos de inovação na área, além de sensibilizar a sociedade por meio de maior conscientização sobre o assunto.
Segundo dados da FAO, agência da ONU para agricultura e alimentação, cerca de um terço de todo o alimento produzido no mundo é desperdiçado. Essa quantidade seria suficiente para alimentar, com folga, todas as pessoas que estão em situação de insegurança alimentar no planeta. Ainda é capaz de gerar impactos econômicos, sociais e ambientais, causando até US$940 bilhões em perdas econômicas por ano e agravando a insegurança alimentar.
O custo agregado vai muito além do monetário. Os alimentos desperdiçados consomem um quarto da água utilizada pela agricultura, demanda uma área do tamanho da China e acarreta 8% das emissões globais de gases de efeito estufa – GEE.
Conforme os dados, se os alimentos desperdiçados fossem um país, seria o 3º maior emissor de gases de efeito estufa do planeta, ficando atrás da China e dos Estados Unidos.
Cortar a perda e o desperdício de alimentos também pode ajudar países e empresas a cumprir acordos internacionais e corporativos, incluindo o Acordo de Paris sobre Mudanças Climáticas. As Metas de Desenvolvimento Sustentável (Sustainable Developing GOALS) – especificamente Metas MDS.
O pesquisador da Embrapa Agroindústria de Alimentos (RJ) Murillo Freire salientou que a iniciativa da FAO visa trazer o discurso para o Brasil, onde o tema é relegado a segundo plano, cria uma oportunidade para o País discutir um assunto que ganha cada vez mais vigor no mundo. “A PDA está ligada aos impactos ambientais, como a produção de gás metano, por meio da decomposição dos alimentos, desperdício de água e insumos e de mão de obra. O que buscamos é conectar os atores para o compartilhamento de experiências e atividades conjuntas adiante,” disse Freire.
O pesquisador lembrou que a Embrapa pode contribuir com os desafios de redução das perdas de alimentos, uma vez que existem diversas ações de pesquisa nesse sentido na Empresa, embora dispersas e componentes de outros projetos. “O caminho seria criarmos mecanismos ou arranjos que propiciem a união ou a conexão desses projetos que já atuam nessa linha de pesquisa,” ponderou ele.
A opinião é compartilhada pelo consultor da FAO/ONU, e do Programa de Desenvolvimento das Nações Unidas PNUD/ONU Altivo Andrade Cunha. Conforme ele, a maior parte das perdas de alimentos em termos quantitativos no País acontece na etapa pós-colheita, onde ocorre a estocagem, manuseio, pré-processamento, embalagem e transporte. “O Brasil é campeão na produção de alimentos, e parte desse sucesso é fruto da grandiosa estrutura de pesquisa agropecuária, como a Embrapa, universidades e institutos. Essa mesma base de pesquisa pode aceitar o desafio de mitigar o desperdício de alimentos, desenhando mecanismos de gestão e prevenção ao longo da cadeia,” explicou.
Versão do protocolo
O evento serviu também para apresentar, em caráter oficial no Brasil, a versão em português do Food Loss & Waste Protocol desenvolvido pelo WRI Brasil.
O documento é uma síntese do padrão para quantificar e computar as PDAs, o raciocínio inerente, direcionamento para realizar o inventário e os principais requisitos de conformidade padronal global. Visa facilitar a medição do PDA no Brasil e incentivar a transparência e consistência dos dados que forem relatados.
Atualmente países, cidades e empresas não contam com um nível de informação suficiente sobre a quantidade de alimentos desperdiçados, o motivo da perda e o destino. O Padrão PDA fornece os requisitos para relato e contabilização, com definições universais para descrever os componentes e incluí-los em um inventário.
Conforme Alcione Silva, membro executivo da Rede Save Food Brasil, o primeiro ponto a ser trabalhado é a questão da medição do PDA no País. Trabalhamos com o número mundial, que versa que um terço dos alimentos produzidos não são ingeridos, ou seja, são perdidos. Conforme ela, no Brasil não há ainda uma estatística oficial sobre o problema.
Ainda segundo Alcione, é preciso entender a dinâmica do desperdício de alimentos nos nossos centros de abastecimento, supermercados e mesmo na casa do consumidor para construirmos visibilidade do tamanho do problema no Brasil. Saber onde e como ocorre o desperdício. “Afinal, o que não é medido, não pode ser gerenciado,” destacou.
Seminário contra o desperdício
A Embrapa e a Embaixada da União Europeia no Brasil promoverão em 31 de outubro, no Museu de Arte do Rio de Janeiro – MAR, o “Seminário Sem Desperdício,” com especialistas europeus e brasileiros sobre a redução do desperdício de alimentos no âmbito dos Diálogos Setoriais União Europeia – Brasil.
Fonte: Embrapa