Inovações tecnológicas para melhorar o desempenho de vacas leiteiras sob estresse térmico; entenda também o impacto do problema na produtividade
Vários autores* – Em regiões tropicais, o estresse por calor causa efeitos negativos sobre a saúde e a função biológica do animal, resultando em baixo desempenho produtivo e reprodutivo dos bovinos leiteiros. Neste intuito, tecnologias inovadoras detectam com precisão o estresse térmico e auxiliam na solução para minimizar as perdas.
Parâmetros fisiológicos, como frequência respiratória e temperatura retal, podem avaliar as cargas térmicas individuais nos animais. Da mesma forma, a termografia infravermelha é uma tecnologia não invasiva que mensura a temperatura superficial do corpo. Baseia-se no princípio de que os corpos formados por matéria emitem certa carga de radiação infravermelha. Esta é capturada por um termograma para obter os índices de mudanças fisiológicas como o conforto térmico nos animais.
O cálculo do índice de temperatura e umidade (ITU) é bastante utilizado em rebanhos leiteiros. A partir do resultado obtido de uma fórmula baseada na temperatura ambiente (T) e umidade relativa do ar (UR), como a proposta por Thom (1959): ITU = (0,8 x T + (UR/100) x (T – 14,4) + 46,4), o estresse térmico é classificado em ameno ou brando (72 a 78), moderado (79 a 88) e severo (89 a 98).
Atualmente, sistemas de imagem integrados com sensores, assim como sistemas de monitoramento de atividade e ruminação, auxiliam na identificação do estresse térmico mediante avaliação do comportamento animal. Os sistemas de imagem monitoram diariamente o consumo de alimento e água, enquanto a temperatura ambiente e umidade são registradas continuamente pelos sensores integrados. Vacas leiteiras ingerem água com maior frequência na estação quente, chegando a consumir 63,8 litros/dia comparado 37,3 litros/dia em condições termo neutras (Perissinotto et al., 2005; Tsai et al., 2020). Além disso, os animais reduzem o consumo de ração para evitar a carga extra de calor produzida pela ingestão e processamento metabólico de nutrientes. Consequentemente, há queda na produção de leite e sólidos totais.
Os sistemas automatizados de monitoramento de atividade e ruminação monitoram ininterruptamente o comportamento do animal por meio de sensores presentes em coleiras ou brincos que registram as atividades individuais. Estes dados são interpretados por um software específico que identifica movimentos, tempo de alimentação, ruminação e estresse por calor. Assim, além de detectar individualmente problemas de saúde de maneira precoce e ter precisão na detecção do cio, geram relatórios que mostram tendências nos lotes de animais, permitindo tomar decisões imediatas em relação ao bem-estar, nutrição e dissipação de calor.
O estresse por calor também promove alteração na dinâmica folicular ovariana, redução na expressão do estro, falhas na fertilização e morte embrionária precoce em vacas leiteiras. Dessa forma, a produção de embriões in vitro e in vivo durante os meses mais frios representa uma alternativa para aumentar a taxa de prenhez nos meses mais quentes, quando os ovócitos têm sua capacidade de sobrevivência comprometida.
Durante o período quente do ano, melhores resultados podem ser obtidos com o uso de embriões frescos produzidos in vitro e in vivo oriundos de doadoras menos afetadas pelo estresse por calor como novilhas, vacas não lactantes e fêmeas de raças adaptadas Bos taurus.
Independente da tecnologia utilizada, é importante proporcionar ambiente e manejo adequados que favoreçam conforto térmico e bem estar dos animais. Sombreamento artificial (sombrites) e/ou natural (árvores) impede a incidência solar, minimizando o calor evaporativo animal causado pela alta temperatura ambiente. Os sistemas silvipastoris são opções para a pecuária leiteira, pois associa pastagens com leguminosas, árvores e o próprio animal. De acordo com Martins et al. (2020), vacas em lactação da raça Gir mantidas sob sombra natural na estação seca apresentaram 16% mais folículos ovarianos e produziram 81% mais ovócitos viáveis em relação a vacas mantidas em áreas em pleno sol.
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Os sistemas confinados como tie stall, free stall, Compost Barn e cross ventilation auxiliam no conforto dos animais. O tie stall é composto por baias individuais onde as vacas permanecem a maior parte do tempo, sendo utilizado para rebanhos menores. No free stall, os animais ficam livres dentro de uma área cercada contendo baias individuais forradas com cama orgânica ou inorgânica para descanso e outra área livre para a sua alimentação. No Compost Barn, os animais ficam soltos em galpões com cama de material orgânico com espaço suficiente para caminhar e deitar. Já o cross ventilation é um sistema de ventilação em túnel, caracterizado por diminuir a exposição dos animais ao estresse por calor devido a combinação de altas taxas de troca de ar e fluxo de ar com alta velocidade.
Assim, as tecnologias disponíveis revelam que o efeito negativo do estresse por calor pode ser minimizado. Contudo, a escolha e a implementação para aumentar o conforto térmico e maximizar os índices produtivos e reprodutivos de bovinos leiteiros devem ser baseadas no tipo de sistema de criação, nível de mão de obra disponível e no custo benefício.
*Larissa de Souza Reis, Renata Brandão de Gois, Thaisa Campos Marques, Karen Martins Leão |Instituto Federal Goiano – Campus Rio Verde
Referências
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