Empresa obtém licença para uso de larva em ração animal

A empresa tem capacidade de produzir 1 tonelada de farinha por dia, mas a intenção é chegar a 10 toneladas ao dia até o fim do ano, e busca investidores.

Dizer que alguém tem uma paixão por insetos é um pouco exagerado, mas notar o valor agregado deles é a especialidade de Diogo Carvalho. Depois de vender, em 2017, a empresa de controle biológico Bug para a subsidiária da holandesa Koppert no Brasil, o executivo passou a se dedicar ao uso de insetos para produzir ração para animais. Agora, ele e os sócios João Pisa e Heraldo Negri deram mais um passo em direção ao que acreditam ser o mercado do futuro: a empresa do trio, a Cyns, tornou-se a primeira do país a obter a licença do Ministério da Agricultura para processar insetos e criar farinhas e larvas desidratadas para ração em escala comercial.

Em Piracicaba (SP), onde fica a sede da empresa e de outras várias startups do agronegócio, os sócios investiram R$ 5 milhões para montar a Cyns e provar que os insetos são potentes fontes de proteínas para os animais. No momento, a empresa tem capacidade de produzir 1 tonelada de farinha por dia, mas a intenção é chegar a 10 toneladas ao dia até o fim do ano. Para isso, os sócios pretendem lançar rodadas de investimento.

“Queremos fazer como fizemos com a Bug, criar tranches para crescer em módulos. Estamos em busca de investidor pessoa física, fundos de investimento, indústrias e outro grupos, do Brasil e do exterior” — Diogo Carvalho, sócio da Cyns

Atualmente, os clientes da Cyns são companhias formuladoras de ração com grande demanda pela farinha de larvas. “Nós vendemos absolutamente tudo o que produzimos”, diz. Na linha de insetos desidratados, os clientes são criadores de animais exóticos e peixes, mas também há demanda entre fabricantes de rações para pets.

A Cyns usa a mosca negra, que tem como grande diferencial a capacidade de se alimentar de resíduos industriais sem deixar rastro de contaminação, o que reduz a pegada de carbono da cadeia. Além disso, o produto é agradável ao paladar dos animais e facilmente digerível. “A farinha de larvas de mosca tem uma concentração média de proteína 60% superior à de outras fontes com que se faz ração, como peixe, carne e osso”, afirma.

Engorda em uma semana

A criação é feita separada do abate, em canteiros, como manda a legislação. A engorda da larva ocorre em uma semana — o ciclo todo, do ovo ao produto final, leva 12 dias. “Ela é muito produtiva”, diz Pisa, que toca a operação em Piracicaba e conhece a capacidade da mosca negra desde que estudou engenharia agronômica e se interessou por compostagem.

Pisa explica que a mosca negra é mais produtiva que outros insetos, como grilos ou tenébrios. A cada dez dias, produz-se 30 quilos de larva viva por metro quadrado, o que equivale a 10 quilos de proteína bruta. “Costumo dizer que, se o ovo dessa mosca fosse um pintinho, a cada 15 dias teríamos frangos de 500 quilos cada”.

A Cyns também quer utilizar o óleo proveniente do abate das moscas como complemento para ração. “E estamos mandando esse óleo para testes em indústrias de cosméticos”, diz Pisa. No futuro, a empresa pretende ainda obter o registro para produção de farinha para alimentação humana.

Fonte: Valor Econômico
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