Na maioria dos casos as doenças reprodutivas podem ocorrer a qualquer momento da vida do animal, mas são identificadas em sua maioria apenas após a ocorrência de abortos, quando as perdas já são irreversíveis.
As doenças reprodutivas no gado leiteiro geram perdas significativas que podem criar obstáculos sérios para a pecuária em geral, isso é incontestável. É crucial na pecuária reconhecer que os índices produtivos, reprodutivos e financeiros de uma fazenda estão sempre interconectados. Particularmente no caso do gado leiteiro, os problemas reprodutivos podem ter consequências devastadoras. Isso ocorre porque a produção de leite está intimamente ligada ao ciclo reprodutivo dos animais destinados a essa atividade.
Um bom status reprodutivo dos animais é crucial para aumentar a produção de leite. O problema é que cerca de 50% das perdas gestacionais são causadas por doenças reprodutivas. Na maioria dos casos, essas doenças são identificadas apenas após a ocorrência de abortos, quando as perdas já são irreversíveis.
Quando o pecuarista percebe que algo está errado, é provável que o rebanho já esteja infectado, resultando em perdas financeiras e de tempo devido às gestações abortadas. No artigo de hoje, vamos abordar as principais doenças reprodutivas que afetam o gado leiteiro e como elas impactam a produtividade e a rentabilidade do seu negócio.
Quais são as principais doenças reprodutivas?
Determinar quais doenças são mais prejudiciais é complicado, pois isso pode variar de uma fazenda para outra. Da mesma forma, identificar as principais doenças é uma tarefa delicada, já que certos patógenos se adaptam melhor a diferentes ambientes. Portanto, vamos destacar as doenças reprodutivas mais comuns em rebanhos bovinos brasileiros.
Você sabe quais são as doenças reprodutivas mais comuns e como elas agem?
Leptospirose Bovina – Bacteriana
A leptospirose é uma doença conhecida, mas, ao contrário dos humanos, nos bovinos ela ainda não está totalmente controlada. Após a infecção, a bactéria leptospira circula no sangue e alcança o útero, causando problemas reprodutivos como aborto, natimorto e nascimento de bezerros fracos.
Embora a bactéria esteja presente em todo o país, sua disseminação é mais frequente em locais ou períodos de maior umidade. Acreditar que outro animal é o principal disseminador é um engano. Bovinos infectados atuam como reservatórios da doença e podem transmiti-la a animais saudáveis.
Os ratos desempenham um papel importante na introdução da doença no rebanho, mas, uma vez que a leptospirose entra, são os bovinos infectados que a disseminam, seja por via oral ou cutânea.
Rinotraqueíte Infecciosa Bovina (IBR) – Viral
A IBR é causada por um herpesvírus que, além de problemas reprodutivos, pode causar lesões em várias partes do organismo do animal. Essas múltiplas lesões ocorrem principalmente em animais jovens, contaminados pelas mães. Nos adultos, a infecção geralmente acontece via cópula.
O problema maior desse vírus é sua capacidade de permanecer em estado de latência em locais como gânglios nervosos por longos períodos. Isso é perigoso porque, sem manejo adequado e exames periódicos, o herpesvírus pode reativar-se em momentos de maior fragilidade do animal hospedeiro.
Diarreia Bovina a Vírus (BVD) – Viral
A BVD é causada por um vírus da família Pestivírus, semelhante ao que provoca a Peste Suína nos rebanhos de suínos. Em animais cronicamente infectados, o Pestivírus pode desencadear um quadro conhecido como Doença das Mucosas.
A infecção pode ser transmitida por inalação, via oral ou transplacentária (de mãe para feto). Se o feto for contaminado entre 50 e 120 dias de gestação e sobreviver, ele pode se tornar permanentemente infectado.
Após o nascimento, esses animais se tornam disseminadores do vírus no rebanho. Portanto, é crucial redobrar os cuidados, já que esses animais não são detectáveis pela sorologia convencional.
Brucelose – Bacteriana
A Brucelose é uma doença bacteriana bastante prevalente, mas pouco diagnosticada. Apenas cerca de 20% do rebanho nacional é examinado regularmente com as técnicas adequadas. O grande desafio da brucelose é sua natureza pouco invasiva, o que dificulta seu diagnóstico.
Quando uma fêmea é infectada, a probabilidade de aborto devido à brucelose diminui com o passar das gestações. Isso pode diminuir a percepção de que há algo errado com o rebanho, já que é mais provável ocorrer um aborto na primeira gestação após a contaminação do que nas gestações subsequentes. No entanto, as fêmeas jovens tendem a manter uma alta taxa de aborto, mesmo com o passar do tempo.
Por que essas doenças acontecem?
As doenças reprodutivas geralmente ocorrem devido à falta de manejo sanitário adequado, onde os produtores muitas vezes não monitoram devidamente os índices reprodutivos do rebanho. Animais mais velhos, já infectados, tendem a apresentar problemas de parto e produzir bezerros fracos, com baixa viabilidade.
A combinação de manejo inadequado, falta de prevenção e controle das doenças deve ser tratada com seriedade. Sem medidas preventivas, os animais ficam expostos, enquanto a falta de manejo sanitário adequado aumenta o risco de infecção.
O monitoramento dos índices reprodutivos não apenas fornece informações valiosas para o planejamento, mas também pode auxiliar na detecção de casos clínicos. A falha em acompanhar indicadores como a média de abortos, taxa de concepção e detecção de cios pode resultar em uma abordagem baseada apenas nos sinais clínicos evidentes, ignorando os sinais subclínicos nos animais. Isso pode levar a um maior intervalo entre os partos, resultando em prejuízos significativos para a propriedade.
Prevenindo as doenças
Algumas doenças reprodutivas podem ser prevenidas através da vacinação, evitando a contaminação entre adultos, e pela avaliação individual dos índices zootécnicos do rebanho. O manejo sanitário adequado também é essencial, observando animais com sinais clínicos e isolando-os dos animais saudáveis do rebanho. Dessa forma, é possível tratar esses animais individualmente para evitar a transmissão das doenças aos demais.
Qual o impacto delas no resultado da fazenda?
O resultado reprodutivo desempenha um papel crucial na lucratividade e produtividade de um rebanho. Em um sistema onde a reprodução não é eficiente, as principais consequências incluem:
- Maior gasto com inseminação
- Aumento dos custos com medicamentos para tratar doenças reprodutivas
- Descarte involuntário de animais afetados
- Diminuição da longevidade dos animais
- Redução no número de animais de reposição
- Declínio no progresso genético
Além disso, haverá um aumento de vacas secas no rebanho e prolongamento do período seco desses animais, resultando em um intervalo maior entre as lactações e consequente redução no potencial de produção de leite.
Portanto, é essencial implementar um sistema de gestão das informações reprodutivas do rebanho para identificar possíveis problemas que estejam causando perdas, facilitando a tomada de decisão. Identificar os animais que estão fora do padrão também é crucial para corrigir problemas antes que as consequências se tornem irreparáveis. Assim, para alcançar a máxima produção leiteira com o mínimo custo de produção, os animais devem manter um ciclo reprodutivo estável.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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