
O termo “charque” (do quíchua charki) refere-se a uma carne que passa por um processo de salga e desidratação ao sol, tornando-a durável por longos períodos. Compreenda qual é a diferença entre carne de sol, charque e carne seca.
O charque é muito mais que uma simples carne salgada; ele carrega consigo uma herança cultural e econômica que definiu regiões inteiras no sul da América Latina. Produzido nas pampas de países como Argentina, Uruguai e Brasil, a carne foi vital para a economia e cultura dessas áreas, especialmente nas cidades de Pelotas, Buenos Aires e Montevidéu. Sua produção em larga escala e sua capacidade de conservação sem refrigeração tornaram-no um produto essencial para a alimentação de trabalhadores e para a exportação.
O que é o Charque?
O termo “charque” (do quíchua charki) refere-se a uma carne que passa por um processo de salga e desidratação ao sol, tornando-a durável por longos períodos. Diferente da carne de sol e da carne-seca, o charque possui um preparo específico, caracterizado por uma intensa cobertura de sal e exposição prolongada ao sol. Esse método visa aumentar a conservação, mantendo a carne própria para consumo, mesmo em climas quentes e sem refrigeração.
A Carne que Moldou o Pampa e Impulsionou a Economia do Cone Sul
História: Da América Andina ao Cone Sul
O charque tem origem nas práticas pré-colombianas dos povos andinos, que desidratavam carnes de lhama ou de outros animais para garantir a alimentação durante o ano. No Brasil, esse método chegou ao Nordeste, onde foi adaptado para a carne bovina. A produção inicial brasileira estava concentrada nos estados do Ceará, Rio Grande do Norte e Paraíba, abastecendo a economia açucareira e sendo utilizado como alimento básico dos trabalhadores escravizados.
Contudo, uma grave seca em 1777, conhecida como “Seca dos Três Setes”, devastou os rebanhos nordestinos, inviabilizando a produção de charque na região e abrindo espaço para o Rio Grande do Sul, que contava com vastos campos e rebanhos bovinos. Nesse cenário, Pelotas despontou como o novo centro produtor, consolidando o ciclo do charque gaúcho.

A Expansão e o Ciclo do Charque em Pelotas
Em 1780, José Pinto Martins, um refugiado da seca cearense, fundou a primeira charqueada em Pelotas. Esta região logo se destacou pela quantidade de charqueadas, que se multiplicaram nas margens dos rios, facilitando o transporte e a exportação para outras partes do Brasil e para o exterior. A cidade de Pelotas, com suas charqueadas, se tornou um dos maiores centros de produção e exportação de charque do país, iniciando o que ficou conhecido como o Ciclo do Charque.
Durante o século XIX, a carne de charque alimentou os trabalhadores do café e da mineração em todo o Brasil, assim como em regiões que também adotavam o sistema escravocrata, como o Caribe.
Características da carne: Preparação e Conservação
O charque é produzido com cortes bovinos menos nobres, como acém e músculo, e sua preparação segue etapas rígidas para garantir a conservação prolongada:
- A carne é desossada e cortada em mantas finas.
- Recebe uma camada espessa de sal, chegando a até 2 cm de cobertura.
- Em seguida, as mantas são empilhadas e expostas ao sol em galpões ventilados, permanecendo até cinco dias ao ar livre.
Após a salga, o charque é rapidamente lavado para remover o excesso de sal e depois seco ao sol. Este processo de cura intensa resulta numa carne firme, que precisa ser dessalgada antes do consumo.

Impacto Econômico e Cultural: Monopólio Gaúcho e a Revolução Farroupilha
O sucesso das charqueadas no Rio Grande do Sul transformou o charque em um importante produto de exportação, mas também gerou tensões. Com o tempo, os impostos cobrados pelo governo imperial sobre o produto gaúcho aumentaram significativamente, o que contribuiu para o descontentamento local e o desencadeamento da Revolução Farroupilha (1835–1845). Este conflito, conhecido também como Guerra dos Farrapos, foi impulsionado pela tentativa dos gaúchos de reduzir a carga tributária sobre a produção de charque, buscando autonomia econômica e política.
Uso Atual do Charque na Culinária Brasileira
Hoje, o corte de carne gaúcho continua a ser uma iguaria popular em várias regiões do Brasil, sendo utilizado em pratos típicos como:
- Arroz carreteiro e charque farroupilha no Sul do Brasil;
- Escondidinho de charque com purê de macaxeira no Nordeste;
- Arrumadinho, que combina charque com feijão verde e farofa, também no Nordeste.

Diferenças entre Charque, Carne de Sol e Carne-seca
Embora o charque, a carne de sol e a carne-seca compartilhem a base de cura por salga, cada um possui peculiaridades no preparo:
- Carne de sol: Usa uma quantidade menor de sal e é curada por menos tempo, o que resulta em uma carne mais suave e de textura macia.
- Carne-seca: Passa por uma cura mais intensa que a carne de sol, mas menos intensa que o charque, com um teor de sal que pode chegar a 30% do peso da carne.
- Charque: Tem a salga mais forte e a exposição ao sol mais prolongada, o que o torna quase completamente desidratado e com um sabor marcante.
Charqueadas Turísticas: A Herança de Pelotas
Hoje, algumas charqueadas, como a Charqueada São João em Pelotas, estão abertas à visitação e preservam as características originais do século XVIII. Estes locais permitem que visitantes conheçam de perto a história dessa carne que moldou a economia e a cultura do pampa gaúcho.
Dessa forma, o charque é muito mais que um produto gastronômico; ele é um símbolo de resistência e identidade das pampas. Do sustento econômico das charqueadas à riqueza histórica das regiões produtoras, a carne representa um elo entre o passado e o presente, evidenciando a importância da cultura alimentar para a formação de uma sociedade.

Quer ficar por dentro do agronegócio brasileiro e receber as principais notícias do setor em primeira mão? Para isso é só entrar em nosso grupo do WhatsApp (clique aqui) ou Telegram (clique aqui). Você também pode assinar nosso feed pelo Google Notícias.
Fávaro critica Trump e diz que Brics são esperança de volta à normalidade no comércio
Ministro Fávaro criticou medidas protecionistas adotadas pelo governo dos EUA; “O mundo não precisa de supertaxação, de protecionismo. Taxar a exportação de alimentos é taxar o combate à fome, é encarecer a comida no mundo.”
Brics: ‘Financiamento climático é responsabilidade de países ricos’, diz Fávaro
Grupo defende acesso de países em desenvolvimento a transição justa e, segundo o grupo, o financiamento climático é responsabilidade de países ricos
Continue Reading Brics: ‘Financiamento climático é responsabilidade de países ricos’, diz Fávaro
Haras investe mais de R$ 300 mil em clonagem e gera cópia de égua campeã mundial do hipismo
Com técnica avançada de transferência nuclear, Haras Rosa Mystica aposta na preservação genética com clone de égua campeã mundial do hipismo, enquanto novo marco abre caminho para biotecnologia no esporte equestre brasileiro
Rei do Frango compra fazenda histórica por R$ 250 milhões, afirmam fontes
Empresário José Garrote, da Super Frango, também reconhecido como o ‘Rei do Frango’, adquire a Fazenda Jabuti, uma das mais emblemáticas do agronegócio goiano, em negócio milionário e com porteira fechada
Continue Reading Rei do Frango compra fazenda histórica por R$ 250 milhões, afirmam fontes
Conheça as maiores vaquejadas, esporte que movimenta R$ 800 milhões por ano
Localizadas nos estados de Pernambuco, Maranhão, Bahia e Sergipe, essas quatro são as maiores vaquejadas que – junto com as outras provas – preservam uma prática secular enquanto se reinventam com o passar dos anos
Continue Reading Conheça as maiores vaquejadas, esporte que movimenta R$ 800 milhões por ano
Brics pede renegociação de dívidas de países pobres dentro do G20
O texto do Brics ressalta que juros altos e condições de crédito internacional mais restritas pioram as vulnerabilidades de muitos países pobres.
Continue Reading Brics pede renegociação de dívidas de países pobres dentro do G20