
Conhecido pelo porte imponente e pelos que parecem dreadlocks, o Baudet du Poitou – “Burro dos Dreads” – quase foi extinto após a Revolução Industrial, mas hoje ressurge como símbolo da tradição e conservação animal na França.
Poucos animais no mundo carregam uma assinatura estética tão peculiar quanto o Baudet du Poitou, também chamado de burro de Poitou. Natural da antiga província de Poitou, na França, este animal gigante chama atenção não só pelo tamanho – um dos maiores entre as raças europeias – mas principalmente por seu penteado exuberante, com longos e espessos pelos que se transformam em verdadeiros dreadlocks naturais quando não são escovados por longos períodos.
Mas por trás da aparência estilosa e da curiosidade que o Poitou desperta, há uma história marcada por protagonismo, abandono e resistência.
A origem do Baudet du Poitou remonta à época romana, quando os primeiros registros da criação de burros para produção de mulas surgiram na região de Poitou. Sua existência documentada data pelo menos do início do século XVIII. Em 1717, um conselheiro do rei já descrevia os animais da região como “burros tão altos quanto grandes mulas, cobertos por pelos de meio pé de comprimento e com articulações comparáveis às de cavalos de carruagem”.
Os criadores franceses desenvolveram paralelamente duas raças complementares: o próprio Baudet du Poitou, e o cavalo Mulassier do Poitou. O objetivo era claro: cruzar essas duas linhagens para gerar mulas de qualidade excepcional, fortes, grandes e extremamente resistentes para o trabalho agrícola e de tração.

O sucesso foi tanto que, até meados do século XX, dizia-se que a mula resultante desse cruzamento era a melhor mula de trabalho do mundo. Em seu auge, estima-se que a região de Poitou produzia cerca de 30 mil mulas por ano, abastecendo não só a França, mas também o mercado europeu.
O cenário começou a mudar com o avanço da mecanização agrícola e a chegada dos tratores e automóveis, que substituíram os animais de tração nas fazendas e nas cidades. Sem demanda pelas mulas, o interesse na criação do Baudet du Poitou também desapareceu.
O declínio foi rápido e devastador. Muitos criadores, sem perspectivas econômicas, abandonaram ou sacrificaram seus rebanhos. O ápice dessa crise veio em 1977, quando havia apenas 44 exemplares conhecidos da raça em todo o mundo.
A situação tornou-se tão crítica que a raça foi oficialmente considerada em risco de extinção. Foi nesse momento que ONGs, criadores especializados e instituições de preservação animal uniram esforços para tentar salvar o Baudet du Poitou da completa extinção.

Graças ao trabalho conjunto de organizações e criadores, a raça começou a se recuperar, ainda que lentamente. Estima-se que atualmente existam cerca de 180 exemplares puros do Baudet du Poitou, espalhados principalmente pela França, mas também em iniciativas de preservação em outros países.
Apesar da melhora, o número ainda é considerado muito abaixo do ideal para garantir a segurança genética da raça.
Além de seu valor histórico, o Baudet du Poitou ganhou espaço como símbolo da conservação de raças antigas, despertando interesse de zoológicos, criadores e amantes de animais raros em todo o mundo.
O Baudet du Poitou é um dos maiores burros do mundo, rivalizando em tamanho apenas com o burro andaluz. Por padrão, ele possui entre 1,35 m e 1,50 m de altura na cernelha, sendo robusto, com articulações largas e cabeça longa.
A pelagem, de tom preto ou marrom, é um dos maiores diferenciais da raça. O peito, barriga, nariz e contorno dos olhos são geralmente brancos ou acinzentados, e os pelos do corpo são extremamente longos, macios e ondulados. Quando deixados sem cuidados estéticos, formam os chamados cadenettes – longos cachos que chegam a tocar o chão e deram origem ao apelido popular de “burro com dreadlocks”.

Outro traço característico do Poitou são suas orelhas enormes, muitas vezes portadas na horizontal, e seus pés largos e peludos.
Durante séculos, os criadores mantinham uma tradição: quanto mais desgrenhado e longo o pelo do burro, maior seu valor. Atualmente, embora muitos criadores optem por manter os animais tosados para facilitar os cuidados, ainda é possível encontrar alguns indivíduos com os tradicionais “bourailloux” – as longas e pesadas pelagens naturais da raça.
O Baudet du Poitou representa mais do que uma curiosidade estética. Ele é um exemplo vivo dos impactos da industrialização sobre o mundo rural e da importância dos esforços de preservação de raças ameaçadas.
Hoje, mesmo longe do protagonismo que teve durante séculos, o burro francês de dreadlocks segue sendo um símbolo da resistência da biodiversidade agrícola e do comprometimento de criadores que lutam para manter viva uma raça única no mundo.
A recuperação do Baudet du Poitou ainda é um desafio, mas sua história comprova que, com mobilização e cuidado, é possível reverter até os cenários mais críticos de extinção.
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