Atividade tem ‘sementes’, ‘plantio’ e ‘colheita’. Fruto do mar está valorizado no mercado e consumo está em expansão no Brasil. Veja como é a produção e rentabilidade!
Uma fazenda bem longe do campo, localizada dentro do mar. Em Angra dos Reis, na Ilha Grande, no Rio de Janeiro, produtores utilizam as águas da região para a criação de vieiras, um fruto do mar sofisticado que está ganhando popularidade nos restaurantes brasileiros.
O fruto do mar ganhou fama na França e, quando começou a ser produzido em águas brasileiras, tinha outro nome: Coquille Saint-Jacques.
A vieira é um tipo de molusco, um animal de corpo mole e, assim como o mexilhão e a ostra, ela é bivalves, isso significa que eles tem uma concha que se abre em duas partes, mas apenas a vieira é nadadora. Ela se movimenta graças a um músculo que está bastante valorizado nas cozinhas de grandes restaurantes pelo mundo.
Com 15 fazendas marinhas, Ilha Grande é a maior produtora de vieiras do país. No ano passado, a região produziu 26 toneladas da espécie, e o Brasil importou três vezes mais (78 toneladas).
Os produtores gastam em torno de R$ 30 para produzir uma dúzia e recebem R$ 50.
Fazendeiros do mar
Nuno de Azambuja é um fazendeiro do mar, que também pode ser conhecido como maricultor. Ele produz junto com dois sócios: Bruno Zirotti e Felipe Barbosa.
O método de produção utilizado pelo trio é o de superfície: boias sustentam um sistema flutuante onde gaiolas ficam presas. Essas gaiolas também são chamadas de lanterna, porque lembram lanternas orientais.
Dentro delas, as vieiras ficam separadas por andares com o objetivo de diminuir a quantidade de animais por lanterna.
“É muito importante manter os lotes homogêneos, para não ter nenhuma competição por alimento dentro da lanterna”, explica Zirotti.
Os produtores precisam limpar gaiolas e conchas, para água circular bem. Isso porque que as vieiras se alimentam de pequenas algas que elas filtram do mar.
Sementes
Essas vieiras cultivadas na ilha nasceram no continente, em um laboratório mantido pela Eletronuclear e chefiado pelo chileno Carlos Vicuña. No local, ele estimula a desova das vieiras.
Na concha, perto do cobiçado músculo, fica o órgão reprodutor que também é comestível. O lado laranja é feminino e o branco, masculino. Por isso, uma mesma vieira pode liberar óvulos e espermatozoides.
Depois da desova, Vicuña faz a fecundação. Aí as larvas se desenvolvem, grudam em redes e terminam de formar a própria concha dentro do mar.
Após dois meses, elas são recolhidas. Nesse estágio, elas são chamadas de “sementes” e são menores que uma unha.
“A gente precisa peneirar para que a semente que vai ser entregue ao maricultor tenha um tamanho em torno de 8 mm, que vai garantir com que elas tenham uma sobrevivência um aproveitamento melhor na fazenda”, explica o biólogo Renan Ribeiro.
A porção com mil sementes é vendida para os maricultores por mais ou menos R$ 100.
Plantio e colheita no mar
Os produtores que compram as sementes precisam fazer o transporte rápido, isso porque as vieiras não aguentam mais que 40 minutos fora da água. Chegando à fazenda marítima, os maricultores fazem o “plantio” dos moluscos.
Quando as vieiras completam um ano e meio, é hora de colher. Se o produtor utilizar uma balsa, é possível recolher até 6 mil vieiras em um dia.
Os funcionários que fazem a colheita precisam ser mergulhadores certificados.
Se a concha tem 8 cm, ela está pronta. Para produzir uma dúzia, o maricultor gasta cerca de R$ 30 e vendem por R$ 50.
Investimento
O produtor Felipe Barbosa é veterinário e decidiu investir R$ 100 mil com Azambuja e Zirotti na fazenda de vieiras. Em três anos, eles conseguiram recuperar o valor.
“A gente tinha embasamento técnico já, sabia que tinha viabilidade econômica, então a gente não se preocupou”, explica Barbosa.
Para começar uma produção comercial de vieiras, os maricultores precisam de várias autorizações, como licença ambiental, conseguir uma garantia de que não atrapalham a passagem dos barcos e a aprovação federal para usar o mar.
O produtor Carlos Kazuo, que faz o cultivo “meia água”, onde as lanternas ficam um pouco mais fundo, afirma que os maricultores devem também tomar cuidado para não poluir visualmente a região, que é conhecida pelo turismo.
Pequenos produtores do mar
O maricultor Lourival Ramos Filho largou a pesca há 20 anos para apostar na produção de vieiras.
“A gente teve um momento difícil na pesca e, por conta disso, começou a haver dificuldades de tocar a vida”, lembra.
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A maricultura foi a chance de continuar na ilha. Duas décadas depois, ele brinca que construiu as paredes da casa com concha de vieira. E criou três filhos que hoje são seus parceiros no mar.
“Vendo a satisfação deles de saírem comigo para o mar e estar aqui trabalhando… Isso é muito rico para mim”, comemora Ramos Filho.
Fonte: G1