
Raça Heke criada a pedido de Hitler nos anos 1930 desenvolveu comportamento agressivo e levou fazendeiro britânico a tomar decisão drástica. Conheça a história das vacas ‘nazistas’
Em 2015, um episódio incomum envolvendo vacas com origem ligada ao regime nazista chamou atenção no Reino Unido. Derek Gow, fazendeiro e ecologista britânico renomado, decidiu sacrificar metade do seu rebanho de 12 vacas da raça Heck, após sucessivos ataques dos animais a funcionários em sua fazenda no condado rural de Devon, no sul da Grã-Bretanha. Conheça a história das vacas ‘nazistas’ que precisaram ser sacrificadas!
As vacas, descritas por Gow como “incrivelmente agressivas”, representavam um risco constante para a equipe da fazenda. “Tivemos que reduzir o rebanho para seis porque alguns deles simplesmente atacavam qualquer pessoa que se aproximasse. Tentavam matar qualquer um. Lidar com isso não era nada divertido”, relatou o produtor em entrevistas à imprensa britânica na época.
Apesar do episódio traumático, Gow afirmou não se arrepender de ter trazido os animais para o Reino Unido, ressaltando que a história por trás da raça Heck é “fascinante”. A carne dos animais abatidos foi aproveitada para a produção de salsichas, que, segundo ele, ficaram “deliciosas”.
A origem da raça Heck remonta à década de 1930, quando os irmãos zoologistas Heinz e Lutz Heck, atuando a pedido das autoridades do regime nazista, iniciaram um programa de cruzamento seletivo com o objetivo de “ressuscitar” o auroque, um bovino selvagem europeu extinto no século 17 devido à caça excessiva.
Os auroques eram animais robustos, de pelos escuros, fortemente musculosos e com chifres longos, que habitaram florestas europeias por milhares de anos. O projeto dos irmãos Heck, apoiado ideologicamente pelo nazismo, buscava recriar essa imagem como um símbolo de força, pureza racial e conexão com a natureza germânica, ideias centrais na propaganda do Terceiro Reich.
Para isso, os Heck utilizaram linhagens de gado espanhol de touros de briga, conhecido por sua agressividade, entre outras raças rústicas europeias, como forma de alcançar o comportamento e a aparência física desejada pelo governo de Adolf Hitler.
A raça Heck foi largamente associada à simbologia nazista durante a Segunda Guerra Mundial, sendo exibida em exposições, zoológicos e até em materiais de propaganda. Porém, com a derrota da Alemanha em 1945, a maioria dos exemplares criados na época foi destruída. Ainda assim, alguns animais sobreviveram em reservas ecológicas da Europa, como a Bélgica e a Holanda, onde a raça foi mantida por criadores interessados em conservação genética.
Foi de uma dessas reservas, na Bélgica, que Derek Gow adquiriu os 12 exemplares levados à sua propriedade no Reino Unido. Ele era o único fazendeiro britânico a manter um rebanho da raça. Inicialmente motivado pelo interesse em restauração de ecossistemas e pela curiosidade histórica, o fazendeiro se viu, no entanto, diante de um dilema quando os animais começaram a apresentar comportamentos violentos.
“Eles investiam contra qualquer um. Era impossível manter uma operação segura”, disse. O sacrifício se tornou inevitável.
Atualmente, estima-se que cerca de 2 mil exemplares da raça Heck sobrevivam espalhados por países da Europa e em outros lugares do mundo, geralmente em áreas de preservação ou mantidos por instituições de conservação. Embora parte dos animais carregue ainda o comportamento hostil, muitos descendentes da raça foram selecionados para serem mais calmos e manejáveis.
Derek Gow afirmou que os seis animais poupados do abate em sua fazenda britânica eram tranquilos e não apresentavam riscos aos trabalhadores.
A história das vacas Heck continua despertando curiosidade e debate entre estudiosos de genética animal, historiadores e ambientalistas. O episódio no Reino Unido reacende discussões sobre os limites da recriação genética, os impactos comportamentais em raças manipuladas pelo homem e os fantasmas ideológicos que podem estar embutidos em certos experimentos da história.
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