Parte da produção de pescado brasileira é descartado no processo de filetagem; aproveitamento dos subprodutos além de reduzir a geração de resíduos agrega valor à produção
Vários autores* – Atividades industriais ou agropecuárias precisam de manejos de resíduos adequados a fim de minimizar os impactos ambientais garantindo a sustentabilidade na produção. A aquicultura e industrialização do pescado geram resíduos de alta concentração proteica e de fácil decomposição. Apenas em 2018, produziram-se 179 milhões de toneladas de pescado no mundo, sendo 82,1 milhões de toneladas oriundos da aqüicultura. Do total produzido, 156 milhões (87%) foram destinados ao consumo humano, mas 65% a 50% (101,4 a 78 milhões de toneladas) foram descartados no processo de filetagem (etapa que é realizada a remoção do filé propriamente dito) (FOGAÇA, 2020; SILVA et al., 2017; VALENTE et al., 2014).
O aproveitamento dos subprodutos além de reduzir a geração de resíduos agrega valor à produção aumentando o faturamento da indústria. Dependendo da tecnologia empregada, o subproduto pode ser destinado à alimentação humana, à farmacologia, à produção de biomateriais, à produção animal através da fabricação de ração e ou à agricultura pela produção de adubo orgânico através da compostagem da cabeça, carcaça e vísceras.
A compostagem pode ser definida como um processo de decomposição aeróbia controlada e de estabilização da matéria orgânica em condições que permitem o desenvolvimento de temperaturas termofílicas, resultantes de uma produção calorífica de origem biológica, com obtenção de um produto final estável, sanitizado, rico em compostos húmicos e cuja utilização no solo, não oferece riscos ao meio ambiente. Ou seja, o seu processo promove a degradação da matéria orgânica pela ação de microrganismos (bactérias e fungos) transformando-a em um composto estabilizado, rico em nutrientes: o adubo.
A decomposição pode ocorrer em leiras com revolvimentos manuais periódicos, leiras estáticas com aeração forçada ou natural ou em sistemas fechados utilizando reatores, sendo que este último acelera o processo de decomposição (INÁCIO; MILLER, 2009).
Independente do método usado o importante é garantir uma aeração eficiente, umidade em 55 a 60% e proporções de carbono e nitrogênio (C/N) entre 25:1 a 35:1 (LIRA; NUNES, 2017). Resíduos do abate de animais possuem baixa relação C/N por isso é importante incluir materiais celulósicos para elevar a relação. Alguns estudos demostraram bons resultados e estabilidade da compostagem em 90 dias com proporções de resíduo/palha de trigo e resíduo/serragem de madeira de 7:1 e 16:1, respectivamente, ou seja, a cada 7 kg de resíduos (fonte rica em nitrogênio) acrescenta- se 1 kg de palha ou a cada 16 kg de resíduo usa-se 1kg de serragem (COSTA et al., 2009).
Outra pesquisa, usando serragem de eucalipto Eucalyotus sp e casca de amendoim Arachis hypogaea, mostrou que a casca de amendoim gera maior rendimento do composto estável e a recarga dos resíduos nas leiras (Figura 5) diminuiu em 28% o espaço ocupado pela composteira. As leiras foram formadas por camadas conforme a figura 4 sem a recarga de resíduos, ou como a figura 5 quando houve recarga.
Toda composteira deve ser diariamente monitorada para transformar de modo eficiente os resíduos em compostos orgânicos estáveis e de alta qualidade (LOPES, 2020). Caso não ocorra a estabilização adequada, o composto pode apresentar odores desagradáveis e comprometimento da qualidade. A falta de estabilidade está relacionada à deterioração heterogênea, encontrando maravalhas intactas e decomposição muito rápida dos resíduos (VALENTE et al., 2014).
Portanto, a compostagem é uma alternativa viável para o manejo racional dos resíduos da aqüicultura. Garante benefícios para o enriquecimento do solo, contribuindo para menor custo na adubação para agricultura, especialmente, na produção de hortaliças. A compostagem em leira é eficiente para o manejo dos resíduos gerados pela aqüicultura, desde que às exigências de temperatura, umidade, oxigênio e a proporção carbono e nitrogênio sejam supridos.
*Autores:
• Marília Parreira Fernandes – Zootecnista pela Univ. Fed. de Uberlândia; Mestranda em Zootecnia pelo IFGoiano
• Adriano Carvalho Costa – Zootecnista, Mestre e Doutor em Zootecnia pela Univ. Fed. de Lavras; Professor IFGoiano
• Matheus Barp Pierozan – Médico Veterinário pela Univ. Fed. de Santa Maria; Mestrando em Zootecnia pelo IFGoiano.
• Rafaella Machado dos S. de Medeiros – Zootecnista pelo Centro Univ. Cat. do TO, Mestranda em Zootecnia pelo IFGoiano.
• Hortência Aparecida Botelho – Zootecnista, Doutorado em Zootecnia pela Univ. Fed. de Goiás.