Apesar da gravidade do cenário, o diretor da Associação Brasileira do Agronegócio, (Abag), Eduardo Daher, garante que o setor tem alternativas.
As sanções econômicas dos EUA e da União Europeia contra a Rússia desde que o país invadiu a Ucrânia impactou de forma direta o agronegócio brasileiro, que tem no país um importante parceiro comercial. O bloqueio já teve efeito sobre os custos de produção, gerando uma alta ainda maior no preço dos fertilizantes e levando a cotação de grãos como soja, milho e trigo aos maiores patamares em mais de uma década.
Apesar da gravidade do cenário, o diretor da Associação Brasileira do Agronegócio, (Abag), Eduardo Daher, garante que o setor tem alternativas. “Dizer que está faltando fertilizante nas fábricas não é verdade. O que aconteceu é que eles encareceram dramaticamente”, defende o executivo ao citar Canadá e Alemanha como fornecedores alternativos de potássio, cuja dependência de importações do Brasil chega a 95% de seu consumo. “Você tem fontes alternativas, mas elas agora ficaram mais difíceis e, evidentemente, mais caras”, resume Daher.
Ele lembra que o país vinha importando fertilizantes da Bielorrúsia, país que sofre com embargos desde dezembro do ano passado, a partir de uma manobra logística comum nesses casos. “O by pass era dado pela Lituânia, mas esta semana os EUA também proibiram a exportação via Lituânia”, conta Daher.
A suspensão gerou confusão ao ser divulgada como uma decisão russa num momento em que o país ainda não tinha interrompido suas exportações – medida anunciada dois dias depois. Embora reconheça as limitações russas para repetir a mesma estratégia neste momento, ele aponta os impactos logísticos como principal gargalo.
“Nós temos hoje um problema logístico que já estava difícil e ficou pior, vai ficar pior”, afirma Daher. As duas maiores companhias de transporte marítimo internacional anunciaram esta semana que deixarão de atender os portos russos diante do conflito na região, complicando ainda mais as trocas comerciais com o leste europeu. Segundo o presidente da Associação Brasileira de Proteína Animal (ABPA), Ricardo Santin, o setor tem estudado rotas alternativas para manter os embarques para o país, destino de 2,4% das exportações brasileiras de frango e de 0,8% das exportações de carne suína.
“Estamos estudando rotas alternativas para que as entradas se deem por Vladivostok para que passe longe da área conflagrada. São ações que estão no radar para não interromper esse fluxo de comércio”, afirma Santin.
A cidade portuária de Vladivostok encontra-se no extremo leste da Rússia, já no continente asiático, próximo da fronteira com a Coreia do Norte e banhada pelo mar do Japão. Mesmo com os esforços, os prejuízos para a indústria de proteína animal são inevitáveis.
“A Rússia vai diminuir momentaneamente as importações com certeza. E diminui também aquela boa expectativa que a gente tinha de aumentar as vendas de carne suína através das novas cotas”, lamenta Santin.
(…) eu não vejo nenhum catastrofismo. Claro que está mais difícil, claro que está mais caro, claro que está com problema de logística e claro que agora está com problema financeiro. É uma sanção que pode não ser dramática para o agronegócio mas pode ser dramática de forma global” Eduardo Daher, diretor da Associação Brasileira do Agronegócio (Abag)
Em novembro, o país havia anunciado a abertura de uma cota adicional de 100 mil toneladas de carne suína por um período de seis meses ao Brasil, com previsão de aumento nos embarques já neste início de ano.
Segundo o presidente da ABPA, as sanções não se aplicam a alimentos e, enquanto houver condições logísticas e financeiras, o setor continuará enviando carne para o mercado russo. Em relação à exclusão dos principais bancos do país do sistema de pagamentos internacionais Swift, Santin ressalta: “saíram do swift alguns bancos, mas não são todos”.
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“Foram mantidos os bancos para fazer pagamento de energia e as sanções, tanto dos EUA quanto da Europa, estão excetuando alimentos. Isso é algo que temos que conversar com nossos importadores e buscar alternativas. Acho que vai ter algum banco lá da Rússia que vai estar dentro do sistema swift e poderia fazer pagamentos”, avalia o presidente da ABPA. Segundo o diretor da Abag, o setor também avalia a possibilidade de realizar pagamentos para empresas russas sediadas em outros países europeus, o que ajudaria a mitigar os efeitos das sanções à Rússia sobre a economia brasileira.
“A Rússia proibiu, mas Genebra não. E eles estão em alguns lugares com divisas de competência para continuar fornecendo. Então, eu não vejo nenhum catastrofismo. Claro que está mais difícil, claro que está mais caro, claro que está com problema de logística e claro que agora está com problema financeiro. É uma sanção que pode não ser dramática para o agronegócio mas pode ser dramática de forma global”, conclui Daher.
Fonte: Reuters