
Durante a seca as pastagens sofrem uma queda significativa em qualidade e o teor de proteína bruta pode cair de 10% para menos de 4%, enquanto a digestibilidade reduz drasticamente. Veja como fazer a nutrição do rebanho bovino na época seca
Quando o pasto some, o desafio começa. Em muitas regiões do Brasil, o período seco se impõe com força entre maio e setembro, reduzindo drasticamente a qualidade e a disponibilidade da pastagem. O cenário se repete ano após ano: solos esturricados, capim seco, cochos vazios e animais perdendo escore corporal a olhos vistos. Para o produtor que não se antecipa, a seca se transforma em sinônimo de prejuízo. Já para quem se planeja, ela se torna apenas mais uma etapa do ciclo pecuário.
Em 2024, propriedades que investiram em suplementação proteica registraram ganhos médios de até 550 g por dia em bovinos de recria, mesmo com as pastagens comprometidas. Enquanto isso, rebanhos sem manejo nutricional adequado apresentaram queda de até 20% no peso corporal. A diferença entre um cenário e outro está no planejamento alimentar. E é disso que trataremos a seguir.
Por que a seca afeta tanto o desempenho dos animais?
Durante a seca, as pastagens sofrem uma queda significativa em qualidade. O teor de proteína bruta pode cair de 10% para menos de 4%, enquanto a digestibilidade se reduz drasticamente. Isso significa que o animal consome fibra de baixa qualidade, sente fome constante e não consegue extrair energia suficiente do alimento. Resultado: perda de peso, baixa imunidade, redução na produção de leite, atraso na cobertura das matrizes e aumento da mortalidade de bezerros.
A seca, portanto, não compromete apenas a nutrição — ela desequilibra todo o sistema produtivo.

Suplementação estratégica
Para suprir a carência nutricional provocada pela estiagem, a suplementação é o caminho mais eficaz — desde que feita com critério técnico. Os suplementos mais usados nesse período são:
- Ureia: substitui parte da proteína verdadeira e estimula a digestão de fibras. Deve ser fornecida com cuidado, em misturas bem formuladas.
- Proteinado de seca: com 1 a 2 g de proteína por kg de peso vivo/dia, ajuda o animal a aproveitar melhor a forragem seca.
- Suplemento mineral com aditivos: reforça o metabolismo e pode incluir ionóforos ou probióticos que favorecem o desempenho.
Produtores que investem em proteinados de 1% no período seco conseguem manter ou até aumentar o escore corporal dos animais, preparando-os para o ganho compensatório no início das águas.
Volumosos conservados: silagem, feno e estratégias regionais
A produção antecipada de volumosos é uma das medidas mais eficientes para enfrentar a seca. A silagem de milho pode fornecer de 7 a 9% de proteína bruta, com alta energia e palatabilidade. Já o feno bem armazenado garante uma reserva de fibra segura.
Outras alternativas regionais também têm ganhado força:
- Cana-de-açúcar com ureia: solução prática e acessível, comum no Sudeste e Centro-Oeste.
- Palma forrageira: excelente fonte de água e energia para regiões semiáridas.
- Capineiras irrigadas e sorgo: opções viáveis para corte e trato.
A chave está no planejamento: quem silencia o silo em março, garante alimento em julho.

Alimentos alternativos e coprodutos
Na escassez, a criatividade e a técnica se encontram. Muitos produtores têm adotado coprodutos agroindustriais na dieta dos animais:
- Casca de soja: boa fonte de fibra digestível e energia.
- Polpa cítrica peletizada: rica em energia, melhora a fermentação ruminal.
- Bagaço de cana amonizado: alternativa volumosa de baixo custo.
Todos esses alimentos requerem análise bromatológica e orientação técnica para formulação da dieta. Mas seu uso pode reduzir significativamente os custos sem comprometer o desempenho.
Cada fase, uma exigência
Os requerimentos nutricionais variam conforme a categoria e a fase produtiva:
- Bezerros e bezerras: precisam de proteína e energia para crescimento.
- Novilhas e vacas prenhes: exigem dieta balanceada para evitar abortos e preparar a lactação.
- Bovinos em terminação: demandam energia para ganho de peso eficiente.
- Matrizes leiteiras: não podem ter quedas bruscas de escore corporal, sob risco de queda na produção e problemas reprodutivos.
A adoção de ferramentas como o BR-CORTE permite formular dietas precisas, reduzindo o desperdício e aumentando o retorno sobre o investimento.
Assistência técnica: o diferencial entre acertar e errar na seca
A nutrição na seca não pode ser feita no “olhômetro”. Contar com o apoio de um zootecnista ou técnico agrícola é decisivo para acertar na formulação da dieta, acompanhar o consumo no cocho e realizar ajustes conforme a resposta dos animais.
O uso de tecnologias como cochos automáticos, softwares de monitoramento e balanças eletrônicas ajuda a medir resultados em tempo real. Pecuaristas que adotaram essas ferramentas viram aumentos de até 30% na eficiência alimentar durante a estiagem de 2024.
Nutrir bem o rebanho na seca é mais que uma obrigação zootécnica — é uma decisão estratégica. Ela impacta diretamente na taxa de prenhez, no peso à desmama, no desempenho da terminação e na longevidade produtiva das matrizes. É na seca que se define o lucro da próxima estação.
A seca não precisa ser sinônimo de prejuízo. Com planejamento, conhecimento técnico e boas práticas de manejo, é possível manter a produtividade e garantir o bem-estar do rebanho mesmo nos meses mais críticos.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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