Desenvolvido em parceria entre Embrapa e Innova Agrotecnologia, produto é composto por três estirpes de bactérias. Testes de campo revelaram aumento de 10% no rendimento de grãos com a aplicação do bioinsumo.
Resultado de uma parceria da Embrapa com a empresa privada Innova Agrotecnologia, o Combio é o primeiro bioinsumo para a soja brasileira com duas funções: estimulação de crescimento e proteção contra fungos. O produto é uma combinação de três estirpes bacterianas que atuam na fixação biológica de nitrogênio e na promoção de crescimento de plantas: BR 29 (Bradyrhizobium elkanii), BR 10788 (Bacillus subtilis) e BR 10141 (Paraburkholderia nodosa).
“O diferencial desse inoculante é que colocamos bactérias que desempenham vários mecanismos estimuladores e que também protegem as sementes na fase de emergência do solo, evitando ataque de fungos oportunistas”, detalha o pesquisador Jerri Zilli, da Embrapa Agrobiologia (RJ), um dos responsáveis pela pesquisa.
Testes de campo desenvolvidos pela Innova Agrotecnologia revelaram aumento de 10% no rendimento de grãos. Nem mesmo a forte estiagem ocorrida na safra 2020/2021, a exemplo do que ocorreu no estado de Mato Grosso, impediu o efeito satisfatório do bioinsumo. No Paraná, uma lavoura sem qualquer inoculante apresentou rendimento de 61 sacas por hectare, outra com coinoculação tradicional rendeu 63 sacas e a área com o Combio teve rendimento de 66 sacas. “Nossa intenção não é confrontar os inoculantes que estão no mercado. O objetivo é incentivar um manejo que evite fungicidas químicos, considerados agressivos à bactéria rizóbio”, pontua Zilli.
O produto surgiu a partir de uma prospecção de centenas de bactérias com o objetivo de encontrar microrganismos antagônicos a fungos que interferem na germinação e emergência das plântulas de soja na lavoura. Atualmente, para garantir o bom stand de plantas, praticamente 100% das lavouras de soja no Brasil recebem tratamento de sementes com fungicidas químicos, que, na maioria das vezes, são prejudiciais ao Bradyrhizobium. “Durante o estudo, verificamos que Bacillus subtilis e Paraburkholderia nodosa apresentavam grande potencial antagônico a fungos e, além disso, estimulavam as plantas por meio de diversos mecanismos, culminando em plântulas mais uniformes e com maior vigor”, explica Zilli.
Constatada a característica de proporcionar o crescimento das plantas de soja, as bactérias foram consorciadas ao Bradyrhizobium, imprescindível para o aporte de nitrogênio à cultura. Após os testes em casa de vegetação e em campo, constatou-se que as plantas inoculadas com o Combio desenvolveram-se de forma superior comparativamente à inoculação padrão com Bradyrhizobium, e apresentaram ampla nodulação e sanidade.
O pesquisador da Embrapa Luís Henrique Soares de Barros acredita que o Combio possa substituir com vantagens o inoculante tradicional na cultura da soja, que contém apenas o microrganismo específico destinado à fixação biológica de nitrogênio. “O Combio tem, além do microrganismo simbionte, duas outras estirpes, que valorizam a promoção do crescimento e conferem maior vigor para a cultura, por meio de atuação bioquímica complementar à planta”, revela.
Os testes para validação do efeito de antagonismo a fungos para fins de registro como fungicida biológico estão em andamento e seguindo a legislação vigente. A expectativa dos pesquisadores envolvidos é que esse diferencial seja totalmente comprovado e que, em breve, o produto possa ser oferecido como o primeiro bioinsumo multifuncional para a soja. “Agregamos duas funções em um único produto, o que confere maior praticidade. Com menos uma etapa no campo, o agricultor tem menos trabalho”, frisa Barros.
Atualmente, o produto tem um registro especial temporário e está sendo ofertado como inoculante com ação na fixação biológica de nitrogênio e na promoção de crescimento de plantas de soja. Para ser comercializado como biofungicida, precisa ainda cumprir algumas exigências da atual legislação brasileira. A expectativa é que essa nova tecnologia esteja disponível nas próximas safras.
Ação do Combio
O bioinsumo Combio é um inoculante líquido para ser aplicado via tratamento de sementes ou mesmo no sulco de plantio. A estirpe BR 29 (Bradyrhizobium) atua na formação de nódulos e fixação do nitrogênio. As estirpes BR 10788 (Bacillus) e BR 10141 (Paraburkholderia) atuam no estímulo ao crescimento de plantas e protegem as sementes pela sua capacidade antagonista.
O desenvolvimento de um insumo biológico multifuncional para a cultura da soja vai ao encontro das perspectivas do mercado, que busca cada vez mais por soluções tecnológicas sustentáveis para controlar pragas e doenças e aumentar a produtividade. A vantagem é a redução no uso de fertilizantes nitrogenados e produtos químicos para controle de pragas e doenças, o que implica uma agricultura ambientalmente mais amigável.
Para outras informações comerciais sobre o Combio, os produtores devem entrar em contato com a Innova Agrotecnologia.
Prospecção de bactérias
As pesquisas para o desenvolvimento do Combio tiveram início em 2020 e utilizaram a coleção de microrganismos mantida no Centro de Recursos Biológicos Johanna Döbereiner (CRB-JD), situado na Embrapa Agrobiologia, em Seropédica (RJ). Para a formulação do produto, mais de 700 bactérias foram prospectadas dentro da coleção do CRB-JD. Inicialmente, as combinações de microrganismos estavam sendo testadas para associar fixação biológica de nitrogênio e promoção de crescimento. A partir da avaliação das estirpes, também passou a ser considerado seu potencial no combate a fungos prejudiciais à cultura da soja – o que implicaria o desenvolvimento de um produto ainda mais completo e inovador.
Com cerca de 7 mil microrganismos, entre bactérias e fungos, a coleção do CRB-JD foi formada ao longo de anos de pesquisas, a partir da coleta na natureza, em diferentes regiões do País. Cada uma das bactérias ali depositadas foi estudada e passou por avaliação quanto ao seu potencial de uso como insumo biológico na agricultura brasileira.
O início desse trabalho foi ainda nos anos 1950, quando a pesquisadora Johanna Döbereiner isolou as primeiras bactérias fixadoras de nitrogênio. Desde então, a coleção se multiplicou e mais de 50 estirpes já foram autorizadas pelo Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) para o uso em inoculantes comerciais.
Até 2012, conhecia-se apenas as características fenotípicas e morfológicas (aparência e forma) dos microrganismos depositados no CRB-JD, e isso limitava o desenvolvimento das pesquisas. Mas, nos últimos anos, com o uso de ferramentas moleculares, foi possível conhecer melhor a taxonomia (classificação) dos microrganismos e, além disso, estruturou-se um banco de DNA que está disponível para os pesquisadores.
Atualmente, cerca de 80% dos microrganismos da coleção estão caracterizados por meio do sequenciamento de DNA. Isso significa que se alguém necessitar fazer novos estudos para trabalhos biotecnológicos não precisa cultivar a bactéria, podendo apenas utilizar os DNAs armazenados. Além disso, a partir do DNA, é possível fazer o sequenciamento genômico da bactéria e identificar genes com potencial agrobiotecnológico.
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