Apostando em melhoramento genético intensivo, grupo com sede em São Paulo lidera a venda de touros reprodutores com folga no Brasil
Um touro reprodutor no rebanho está para a pecuária assim como uma ‘lavoura de sementes’ está para a agricultura. É ali que nasce o processo produtivo, literalmente.
Imagine, então, ter milhares deles à disposição, altamente selecionados, a ponto de animais com elevadíssimo potencial genético serem negociados para o abate, uma vez que, por lei, ultrapassariam a cota de comercialização para animais reprodutores vivos no programa de melhoramento do governo federal, o CEIP – Certificado Especial de Identificação e Produção.
O que parece sonho para muitos criadores de gado é uma realidade consolidada na Fazenda São Francisco, que pertence ao grupo CFM, de origem inglesa e que se instalou em São Paulo no começo do século passado.
Com propriedades no interior paulista, além do Mato Grosso do Sul e da Bahia, o grupo CFM tem, hoje, aproximadamente 30 mil cabeças de gado nelore, a raça mais popular do Brasil, das quais mais de 1,5 mil foram comercializadas em leilão e pessoalmente em 2017. É o maior volume de vendas no Brasil, com cerca de 500 cabeças de vantagem para o segundo colocado.
O ‘x’ da questão é que os 1,5 mil touros entregues representam apenas 30% dos bezerros que tinham nascido em 2015. Isto porque, pelas regras do CEIP, este é o percentual máximo permitido para a venda de reprodutores vivos.
Os outros 70% viraram carne gourmet, que abasteceu os mercados internacionais mais exigentes. Uma consequência lucrativa para o negócio principal do grupo, que é o melhoramento genético.
Apostando em criar os bezerros exclusivamente a pasto, para selecionar os melhores animais nas condições mais básicas, o CFM já comercializou 40 mil animais nos últimos 40 anos, desde que o trabalho com genética ganhou força em suas fazendas. Juntos, eles dariam conta de botar para pastar mais de 1 milhão de novos bezerros.
“Em pecuária, nós buscamos aumentar quantidade de arroba produzida por hectare, e não tem como fazer isso sem priorizar precocidade sexual e fertilidade, e depois buscar aqueles animais que são mais ganhadores de peso”, diz o gerente pecuário do grupo, Tamires Neto. “Esse tem sido o foco e a gente segue nessa linha, acreditando que é a melhor forma de aumentar a rentabilidade na pecuária.”
O trabalho com fêmeas precoces – que emprenham com, no máximo, 14 meses de idade (praticamente metade do tempo médio no mercado) – e machos com alto desempenho tem gerado bezerros que desmamam com até 20 kg a mais que a média do próprio grupo CFM, que já é superior ao nivelamento global.
“Se ele for para um rebanho que não teve melhoramento nenhum, certamente vai dar um diferencial maior que esse”, acrescenta Neto.
Qualidade x quantidade
Hoje, estima-se que somente 20% dos touros reprodutores no país tenham passado por programas de seleção genética. Significa que o Brasil, líder mundial em exportação de carne bovina – com 1,2 milhão de toneladas – e dono do maior rebanho comercial do mundo, com aproximadamente 220 milhões de cabeças, escolhe os descendentes desse legado basicamente “no olho”, sem um pano de fundo estatístico.
“Esse é um número realmente absurdo, que tem esse percentual que passou por uma seleção e o restante não tem informação nenhuma, realmente isso atrapalha a pecuária. Poderia estar evoluindo muito mais rápido”, afirma Neto.
“O desafio é tão grande e importante quanto é a genética para o desenvolvimento da pecuária. Claro que a gente tem que investir muito em sanidade, alimentação, melhoria de pasto, acabar com pasto degradado. Mas se a gente fizer tudo isso e não tiver genética para desenvolver, não vamos evoluir com a pecuária brasileira.”
* O jornalista viajou a convite do Road Show, organizado pela Texto Comunicação Corporativa.
Fonte: Gazeta do Povo