Durante sua campanha, Lula prometeu que o brasileiro “voltaria a comer picanha,” mas a realidade atual é bem diferente. A chamada “inflação da picanha” elevou o preço da carne bovina e preocupa tanto o governo quanto o consumidor.
O preço da carne bovina voltou a ser um dos assuntos mais discutidos no Brasil. Cortes nobres, como a picanha, chegaram a valores recordes, superando R$ 120 em algumas regiões, enquanto outros itens da cesta básica também registram aumentos significativos. A alta é atribuída a fatores econômicos, climáticos e de oferta, gerando impactos diretos na inflação e no custo de vida da população.
A alta nos preços da carne bovina
Em Campo Grande (MS), um dos maiores mercados pecuários do Brasil, o preço da picanha mais que dobrou em relação ao ano anterior, conforme apontou conteúdo e levantamento do Correio do Estado.
Em setembro de 2023, o quilo custava R$ 56; em novembro de 2024, saltou para R$ 115,98 (sendo superior a R$ 120 em algumas regiões) — um aumento de 105,41%. Outros cortes também acompanharam essa tendência:
- Contrafilé: subiu 43,97%, de R$ 34,30 para R$ 49,38.
- Coxão mole: aumento de 51,99%, de R$ 30,64 para R$ 46,56.
- Costela: registrou alta mais moderada, 15,20%, com preços variando entre R$ 22,89 e R$ 26,98.
Esses aumentos refletem não apenas a inflação do setor, mas também uma mudança no comportamento do mercado. Segundo o economista Staney Barbosa Melo, a escassez de animais prontos para o abate está entre os principais fatores para essa alta.
O ciclo do mercado pecuário e seus efeitos
De acordo com especialistas, o mercado da carne é cíclico e altamente influenciado pelas condições econômicas. Nos últimos anos, os produtores reteram matrizes para aumentar a reprodução, o que resultou em um excesso de oferta em 2023. Com o ajuste no mercado, a escassez de animais terminados agora faz com que frigoríficos precisem pagar mais pelos poucos animais disponíveis. Isso, por sua vez, impacta diretamente os preços ao consumidor.
Michel Constantino, doutor em Economia, observa que o aumento dos preços também está ligado à alta demanda interna e externa: “As exportações brasileiras de carne cresceram 30% neste ano, impulsionadas pela valorização do dólar, que tornou o produto mais competitivo no mercado internacional.”
Impactos na vida do consumidor
O encarecimento da carne bovina afeta diretamente o orçamento das famílias brasileiras. O mecânico José Mário de Oliveira Barbosa relata que teve de substituir a carne bovina por frango e carne suína para equilibrar as contas. “Impossível comer carne de boi todo dia. O jeito é economizar e adaptar o cardápio,” desabafa.
Laura Mendes de Aquino, secretária, destaca o impacto nas festas de fim de ano: “Com esses preços, o churrasco da família vai ter que ser mais modesto. Não cabe no orçamento.”
Além disso, dados do Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) confirmam a pressão inflacionária. Em Campo Grande, a inflação oficial registrou uma alta de 8,71% em outubro, acima da média nacional de 5,81%.
Perspectivas para o futuro
O presidente do Instituto Mato-grossense da Carne (Imac), Caio Penido, acredita que o aumento nos preços da carne bovina é sazonal e que o mercado deve se equilibrar nos próximos meses. “Com o reabastecimento do mercado e aumento da oferta, a tendência é de queda nos preços. Porém, isso pode levar algum tempo,” pondera.
Entretanto, especialistas alertam que, enquanto as condições climáticas e econômicas não melhorarem, os preços dos alimentos, incluindo a carne, continuarão pressionados. A valorização do dólar e os altos custos de produção ainda são desafios significativos para o setor.
Impactos políticos do preço da carne bovina para o governo Lula
O aumento do preço da carne bovina é também uma dor de cabeça política para o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Durante sua campanha, Lula prometeu que o brasileiro “voltaria a comer picanha,” mas a realidade atual é bem diferente. A chamada “inflação da picanha” preocupa tanto o governo quanto o consumidor.
Rafael Cortez, cientista político, explica que a inflação de alimentos tem um impacto direto na popularidade do governo. “Se a economia não melhorar até 2026, a inflação pode dificultar as ambições políticas do presidente,” analisa Cortez.
“Se a economia não melhorar até 2026, a inflação pode dificultar as ambições políticas do presidente,” analisa Cortez.
Com o aumento no consumo interno, redução do desemprego e uma massa salarial em recuperação, o governo enfrenta o desafio de equilibrar esses avanços com os impactos inflacionários. O cenário atual reflete a complexidade de uma economia que, embora aquecida, ainda precisa superar desafios estruturais.
E agora, vai ter picanha no fim de ano?
O aumento dos preços da carne bovina escancara os desafios enfrentados pela cadeia produtiva e os impactos no dia a dia do brasileiro. Enquanto consumidores tentam adaptar seus hábitos alimentares e produtores buscam soluções para equilibrar oferta e demanda, o governo precisa lidar com a pressão política e econômica que acompanha esse cenário. As promessas de melhora ainda esbarram em uma realidade de desafios persistentes, onde o churrasco de fim de ano pode não ter o sabor esperado.
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