Climatologista também faz um alerta preocupante sobre uma possível inversão climática que trará geadas mais intensas e frequentes ao Brasil
Em uma apresentação feita no programa Tempo&Dinheiro o professor Luiz Carlos Molion, climatologista de grande renome no Brasil, fez comentários sobre a redução de chuvas – principalmente no Sudoeste – e sobre as previsões de massas de ar polar mais intensas. Segundo ele, duas ondas polares “já entraram, causando problemas sérios…e é provável que duas mais aconteçam [este ano]…na realidade, vai ser um cenário climático que pode persistir pelos próximos 10-15 anos.”
O professor faz um alerta preocupante sobre uma possível inversão climática que trará geadas mais intensas e frequentes ao Brasil, nas próximas décadas. Ele explica que “o meteorologista russo, Vangengeim, percebeu que havia períodos em que o jato polar ficava mais zonal, seguindo praticamente um círculo de latitude, e isso fazia com que o ar frio fosse se acumulando na região polar, [com] a temperatura baixando pela perda de radiação infravermelha pro espaço exterior e – ao mesmo tempo – que o ar quente ficava confinado na região tropical.”
Essa diferença de temperatura entre ar polar e ar tropical vai aumentado, ano após ano, de tal forma que quebra o jato polar, tornando-o muito instável, formando os “meandros” que podem ser vistos na imagem da direita na Figura 1.
Assim, há a entrada de ar frio vindo do polo em direção ao equador e a entrada de ar quente dos trópicos em direção aos polos. E essa configuração vai se propagando, de oeste para leste, de tal forma que as regiões têm surtos de ar polar se alternando com surtos de ar quente.
“Então, nesse último período de 1976 a 2005, o jato ficou praticamente zonal e, no período anterior, o jato estava com esses meandros”, salienta Molion. Ele conta que Vangengeim criou o chamado Índice de Circulação Atmosférica (ICA), que é representado pela linha mais fina na Figura 2. “Note que é interessante como ele se justapõe à chamada temperatura média global.”
De 1916 a 1945, o ICA estava crescendo e isso coincidiu com o aquecimento do planeta, com temperaturas bastante elevadas na década de 30. De 46 a 75, o índice estava decrescendo, chegando a um mínimo em 75, quando houve aquela famosa geada de julho de 75, além de outras geadas intensas, como a de 52 e a de 55.
Posteriormente, em 76, o quadro se inverteu e as temperaturas passaram a crescer novamente, produzindo esse período mais aquecido que nós tivemos de 76 até 2005, e um período mais chuvoso também. “Agora, o grande problema é saber se – entre 2006 e 2035 – o índice vai começar de novo a decrescer, como foi de 46 a 75.”
Segundo Molion, esses ciclos tem um período aproximado entre 25 e 30 anos. “Claro, não se sabe ao certo, porque essas séries são relativamente curtas. Então, a grande questão é saber se agora o índice realmente vai decrescer, né. E, aí nós teríamos então um período de 2006 a 2035…semelhante a 1946-1975, com uma frequência maior de geadas severas…fatais.”
“E a gente já pode perceber isso, no ano a ano, já alguns meses antes. Por exemplo, já em outubro percebemos que as frentes frias que estavam passando pelo hemisfério norte…estavam chegando até a região equatorial, semelhante àquela figura de uma circulação com um componente meridional mais intenso, do que estava entre 75 e 2005.”
Redução nas chuvas
O professor Molion comenta também que “quando se tem mais chuva aqui na região tropical, em cima dos oceanos…o ar sobe para a formação de nuvens de chuva e desce seco. E quando ele desce seco, ele cria uma camada de inversão, mais ou menos entre 2 km e 3 km de altura. E esse ar descendo seco, ele vai criar um sistema de alta pressão na superfície, que é altamente persistente. Como nós estamos vendo agora…temos uma frente fria lá, saindo do continente norte-americano. Nós temos uma frente fria nossa, aqui no Brasil, mas que não é tão ativa sob ponto de vista de precipitação. Com raras exceções, algumas células são, mas de maneira geral a frente não é, por conta então do domínio dessa alta pressão, que pega o país praticamente todinho.”
Então, o ar seco desce sobre a região e cria uma inversão de temperatura, que inibe o desenvolvimento das nuvens e, consequentemente, traz uma redução da precipitação. De acordo com a Itaipu Binacional, a média de precipitação na área brasileira da bacia do Rio Paraná é de 1400 mm por ano, mas houve uma redução de 600 mm no ano passado, o que significa uma queda de 40% nas chuvas que caem na região.
Olhando-se para este ano, de janeiro a março, o mapa do INMET também mostra uma redução bastante significativa na bacia do Rio Grande e na bacia do Rio Paranaíba – os dois que se juntam para formar o Rio Paraná. “Depois a gente vê que a redução persistiu de abril a junho, com reduções acumuladas entre 50 e 200 mm de chuva nesse período. De tal sorte que, como já chove menos nessa época, então a redução é mais significativa, em torno de 80%”, acrescenta Molion.
Mas, esta situação não é de agora. Como mencionado anteriormente, é muito provável que tenha havido uma virada no clima, na circulação, com um componente meridional mais intenso, a partir de 2005/2006.
Com informações do Programa Tempo&Dinheiro
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