
Com a disparada no preço do cacau e mudanças na formulação dos produtos, consumidores devem redobrar a atenção com o “ChocoFake” – chocolate fake – para não levar “gordura vegetal por chocolate”
A Páscoa de 2025 chegou com um alerta importante para quem pretende manter a tradição dos ovos de chocolate: nem todo ovo com gosto de chocolate é, de fato, chocolate. Diante da crise no mercado global de cacau, muitas indústrias têm lançado mão de alternativas mais baratas, criando os chamados “ovos sabor chocolate” — versões com menos de 25% de cacau, compostas principalmente por açúcar e gorduras vegetais.
O preço do cacau explodiu nos últimos dois anos, atingindo valores recordes acima de US$ 10 mil por tonelada. A alta foi puxada por quebras de safra na África Ocidental — especialmente na Costa do Marfim e em Gana, que concentram mais da metade da produção mundial — impactadas por pragas e mudanças climáticas.
Esse aumento resultou em efeitos visíveis no mercado brasileiro: a produção de ovos de Páscoa caiu de 58 milhões em 2024 para 45 milhões em 2025, uma redução de 22%. Para conter os custos, muitas marcas reformularam receitas, reduziram gramaturas e optaram por composições alternativas.
O que é o “ovo sabor chocolate”?
Segundo a legislação brasileira, para um produto ser considerado chocolate, ele precisa conter no mínimo 25% de sólidos de cacau. Porém, a indústria pode usar diversos tipos desses sólidos — como pó, massa ou manteiga de cacau — o que abre brechas para produtos com qualidade inferior passarem por chocolate.
Os “ovos sabor chocolate” contêm gorduras vegetais em vez de manteiga de cacau, e frequentemente são acrescidos de aromatizantes e emulsificantes, resultando em um produto mais barato, porém menos saudável e com qualidade sensorial inferior.
Comparativo de ingredientes:
- Chocolate ao leite verdadeiro: açúcar, manteiga de cacau, cacau, leite em pó integral, emulsificante e baunilha natural.
- Sabor chocolate: açúcar, gordura vegetal, cacau em pó, emulsificantes, aromatizantes e espessantes.
Como identificar o “chocolate fake”
A principal dica é ler atentamente o rótulo. O cacau (massa ou manteiga) deve aparecer entre os primeiros ingredientes da lista. Produtos em que “açúcar” ou “gordura vegetal” aparecem primeiro e com menção a “sabor chocolate” devem ser vistos com desconfiança.

Outro ponto de atenção está nas embalagens. Muitas imitam as tradicionais, dificultando a distinção. O Instituto Brasileiro de Defesa do Consumidor (Idec) e o Procon alertam que a venda de “ovos sabor chocolate” com visual similar ao original pode induzir o consumidor ao erro.
Estratégias da indústria e reações dos consumidores
Com a disparada do custo, empresas do setor adotaram táticas para não repassar totalmente os aumentos aos consumidores, como o uso de ingredientes alternativos e redução de peso dos produtos — a chamada “reduflação”.
Nas redes sociais, consumidores têm se manifestado com críticas sobre a perda de qualidade do chocolate. “Estamos vivendo a era do ‘ovo fake’. Tem cheiro de ovo, formato de ovo, mas quando você abre, é só gordura com açúcar”, comentou um internauta. Postagens nostálgicas sobre os ovos dos anos 90 já acumulam milhões de visualizações.
Existe alternativa?
Apesar do cenário desafiador, há esperança para os chocólatras exigentes. Cresce no Brasil o movimento “bean to bar”, que valoriza chocolates com maior teor de cacau, produção artesanal e sustentabilidade. Esses produtos, porém, são mais caros: uma barra de 80g pode custar entre R$ 30 e R$ 35.

Para quem não abre mão do chocolate na Páscoa, especialistas recomendam moderar o consumo e priorizar a qualidade. Afinal, mesmo pequenas quantidades de um bom chocolate são capazes de trazer mais prazer e menos prejuízos à saúde.
Peso dos ovos
Segundo o superintendente do Imeq-PB, Arthur Galdino, a indicação do peso deve ser igual ou superior ao declarado na embalagem. Caso o consumidor perceba irregularidade, deve pesar o item em uma balança verificada pelo Inmetro no próprio estabelecimento comercial. “A indicação do peso deve ser igual ou superior ao declarado na embalagem”, ressaltou o superintendente.
No caso dos ovos de Páscoa, que oferecem brinquedos como brindes, o item extra deve possuir também o certificado do Inmetro e ter adequação à faixa etária da criança. Na embalagem deve conter a seguinte frase: “ATENÇÃO: Contém brinquedo certificado no âmbito do Sistema Brasileiro de Avaliação da Conformidade”.
Dica final: Se o preço estiver bom demais para ser verdade, desconfie. Em tempos de cacau nas alturas, chocolate de verdade custa caro — e o consumidor atento é o último filtro contra o “ChocoFake”.
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