Segundo analista do banco holandês, barreiras comerciais travestidas de sanitárias são impostas para defender mercado e pressionar preços.
Os importadores de carnes em geral estão impondo barreiras comerciais travestidas de barreiras sanitárias como forma de pressionar preços e defender seu mercado doméstico. A análise é de Wagner Yanaguizawa, especialista em proteína animal do Rabobank, e explica tanto as barreiras da Arábia Saudita ao frango brasileiro a demora da China em reativar as importações de carne bovina, interrompidas desde 4 de setembro, o que levou a uma queda de 49% das exportações brasileiras do produto em outubro. O banco apresentou nesta quarta (11/10) suas perspectivas para o agronegócio em 2022.
A expectativa inicial era de uma retomada breve dos embarques. Mas, com dois meses de embargo, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), estima um prejuízo de até US$ 1,8 bilhão se as exportações continuarem suspensas até dezembro. E a situação permanece um incógnita para o setor, afirmam analistas de mercado.
Yanaguizawa afirmou que todos os fundamentos são positivos para o retorno rápido das exportações para a China, já que os protocolos foram cumpridos, da Organização Mundial de Saúde Animal (OIE) confirmou que os casos de EEB (vaca louca) no Brasil são atípicos e o governo brasileiro se propôs a conversar, mas os chineses parecem estar mandando um recado: “o que de que os preços estão muito caros e nós queremos preços melhores.”
O analista acrescentou que o preços em dólar por tonelada da carne brasileira vendida à China, aumentou 29% em setembro em comparação com os valores de janeiro. “Eles estão importando mais do Brasil e mais caro. Em um cenário de preços de carne suína mais baixos no mercado local e demanda pressionada pelos casos de coronavírus, os chineses têm logicamente interesse em comprar carnes mais baratas ”, disse Yanaguizawa.
Ele lembrou que, no entanto, a China tem uma grande dependência da carne brasileira, que ainda é a mais barata do mundo. De janeiro a setembro do ano passado, o Brasil foi responsável pela maior fatia de exportações de carne bovina da China, com 43%.
No mesmo período neste ano, aumentou sua participação para 45%. O especialista prevê um aumento dessa demanda até pelo menos 2025, porque as mudanças de hábito de consumo na pandemia elevaram o consumo de carne bovina entre os chineses e, diante do cenário de crescimento limitado da produção local, a alternativa é elevar as importações.
Por outro lado, o Brasil também fica numa posição de dependência em relação à China e o mercado brasileiro de carne bovina em 2022 tende a ser tão volátil quanto neste ano, segundo o analista.
Reserva à suspensão temporária dos embarques para a China, ele projeta uma redução nas exportações de carne bovina de 2% em volume neste ano, em comparação com o ano anterior, e um aumento de 1% para 2022. Já no mercado interno se impõe o desafio de recuperação do consumo per capita, abalado neste ano pela forte valorização da carne em momento de fragilidade econômica.
A Bomba Relógio que a China criou
A suspensão mais longa que o Brasil já enfrentou em suas exportações para a China devido a um caso atípico de mal da vaca louca durou cerca de dois anos, lembra o analista da Scot Consultoria, Rafael Suzuki. O caso, ocorrido em 2010 no Paraná, levou dois anos para ser confirmado.
“Vale ressaltar que, nesse período, a China, por mais que ela tenha suspendido a importação de carne bovina, a gente notou um expressivo aumento de exportação de carne bovina brasileira para Hong Kong naquele período”, explica o analista.
O mesmo não ocorre este ano. De acordo com números da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia, as exportações brasileiras de carne bovina em outubro registraram queda de 49,5% em outubro, com 82,2 mil toneladas, após um recorde em setembro. O volume, estimado em 218.529 toneladas pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), refletiu os embarques do produto já certificado, mas represado nos portos brasileiros devido à crise logística internacional. Há mais de 110 mil toneladas de carne pendentes de liberação das autoridades chinesas para entrar no país.
Quando você deixa de comprar, você acaba induzindo uma queda no valor. É o que o Governo chinês está fazendo
Charles Tang, da Câmara de Comércio Brasil China
“Não se sabe o destino, se a China vai aceitar ou não. Até o momento ela não aceitou essa carne. Então estamos com mais essa incógnita, que é um volume estimado em mais de 110 mil toneladas de carne bovina”, destaca Suzuki.
Frango e suínos
Na carne suína, as projeções do analista do Rabobank são de que a oferta global deve continuar em alta no próximo ano, seguindo o ritmo de retomada da produção chinesa. Ele diz que o aumento de 38% neste ano pode dar uma falsa impressão de que uma produção está normalizada no país que mais consome carne suína no mundo. Mas não é verdade.
“O preço da carne suína na China está registrando queda todos os meses, o que desestimula os criadores. A melhora na produção tem sido às custas de liquidação de rebanho e matrizes e casos de nova variante de Peste Suína Africana (PSA) impactando algumas regiões ”, afirmou.
A demanda na China também é prejudicada pela política de tolerância zero em relação aos casos da Covid, que impõe novos bloqueios, fechando os pontos de venda. Mesmo assim, o Brasil subiu neste ano de 4º para 2º no ranking de maiores exportadores de carne suína para o mercado chinês, atrás apenas da Espanha, e deve manter essa posição em 2022, segundo o analista, beneficiado pela questão cambial.
As exportações totais de carne suína no próximo ano devem subir 1% e a produção esperada é de 4,6 milhões de toneladas, um aumento de 2,5% em relação a 2021. O Rabobank projeta um crescimento de 1,9% no consumo doméstico .
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Como a reabertura e recuperação econômica mundial têm favorecido o consumo de carnes mais baratas, o frango também tem cenário favorável em 2022, segundo o analista, mas o Brasil terá de encontrar novos destinos para suas exportações. A tendência é de queda de embarques para a China, que deve elevar sua produção em 2%, e Arábia Saudita.
Os desafios para a produção, diz Yanaguizawa, são os altos custos da ração, frete marítimo, energia elétrica e como recomendação da gripe aviária. A produção brasileira de carne de frango deve chegar a 14,5 milhões de toneladas, com aumento de 0,8% no consumo interno e as exportações previstas são de 4,4 milhões de toneladas, alta de 1,5%.
Com informações do Rabobank e Globo Rural