Esse aumento está associado diretamente ao crescimento populacional, ao aumento do poder de compra da população e às mudanças nos padrões de consumo.
Na safra 2007/08, a China importou 50 milhões de toneladas de soja. No entanto, as projeções do Departamento de Agricultura dos Estados Unidos (USDA) para a temporada 2023/24 indicam uma compra prevista de 121 milhões de toneladas, representando um aumento de 142% no consumo da oleaginosa pelo país asiático ao longo das últimas 16 safras.
Esses dados evidenciam um crescimento anual composto de 5,68% durante esse período. Segundo a Biond Agro, esse aumento está associado diretamente ao crescimento populacional, ao aumento do poder de compra da população e às mudanças nos padrões de consumo, tanto para uso humano quanto animal.
Entretanto, apesar desse aumento, a taxa de crescimento diminuiu para 2,65% nos últimos cinco anos, sugerindo que o crescimento está se aproximando de um ponto de estabilização.
Em 2023, a média dos estoques de soja na China entre janeiro e abril foi de 7,6 milhões de toneladas, conforme relatório da Bloomberg. Esse número representa um recorde, desconsiderando as reservas de 2021, que foram impulsionadas pela necessidade de garantir segurança alimentar devido à pandemia de Covid-19.
Neste ano, durante o mesmo período, os estoques atingiram 8,1 milhões de toneladas. Apesar do aumento, esse volume representa apenas uma cobertura de 23 dias de consumo interno.
Felipe Jordy, líder da equipe de inteligência da Biond Agro, observa que esse aumento indica um cenário menos disruptivo do que anteriormente. Ele destaca que, embora a demanda continue existindo devido à necessidade, o crescimento percentual será menor.
Batalha pela China
Nas últimas safras, o Brasil e os Estados Unidos se estabeleceram como os principais produtores de soja em todo o mundo. Juntos, esses países respondem por mais de 70% da produção global da commodity.
Devido ao consumo interno menor do que a produção em ambos os países, eles se tornaram os maiores exportadores de soja do mundo, atendendo a 88% ou 149 milhões de toneladas da demanda global de importação.
O principal destino das exportações é, sem dúvida, a China, onde Brasil e Estados Unidos fornecem mais de 80% do volume consumido.
Felipe Jordy observa que, apesar dos Estados Unidos ainda serem um importante fornecedor para a China, a guerra comercial iniciada em 2018, juntamente com o crescimento da produção brasileira e a competitividade do produto nacional em termos de preço, têm aumentado a participação do Brasil no fornecimento de soja para a China.
Ele aponta que, em 2014, os Estados Unidos detinham 49% das importações totais de soja para a China, enquanto o Brasil representava 51%. No entanto, em 2023, o Brasil fechou com uma participação de 74%, enquanto os Estados Unidos ficaram com 26%, de acordo com dados do ComexStat e do USDA, respectivamente. E, até o acumulado de 2024, o Brasil já alcançou uma participação de 64,2%, enquanto os EUA possuem 35,8%, seguindo a tendência dos anos anteriores.
Desvantagens ao Brasil?
Apesar do aumento na participação das exportações de soja para a China, um alerta está sendo levantado por Jordy. “À medida que o Brasil continua a expandir sua área e produção, enquanto o maior consumidor do mundo mostra um crescimento mais moderado, a forte dependência das exportações pode se tornar uma vulnerabilidade para o país sul-americano”.
Ele observa que, à medida que os Estados Unidos perderam participação no mercado de exportação, a soja tem sido cada vez mais direcionada para o consumo interno, especialmente devido à mudança na matriz energética, impulsionando o uso da oleaginosa como principal matéria-prima para biodiesel nos EUA. Em 2014, cerca de 20% da soja do país era destinada ao biodiesel, mas agora esse número ultrapassa os 30%.
“No médio e longo prazo, é provável que o Brasil siga um caminho semelhante, seja por motivos relacionados à ESG (Governança Ambiental, Social e Corporativa) ou pela busca por diversificação de negócios. Caso contrário, o excesso de soja pode levar a um desequilíbrio significativo entre oferta e demanda”, conclui o especialista.
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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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