O conflito adicionou mais instabilidade e incertezas ao cenário. “Os balanços de grãos ficaram mais apertados, e a gente ainda não consegue ter clareza do que virá”.
Os produtores brasileiros de carne estão enfrentando um cenário desafiador desde o fim de 2021. Entre novembro e março, os preços do milho e da soja tiveram aumento de 15% e 20%, respectivamente, segundo os indicadores do Centro de Estudos Avançados em Economia Aplicada (Cepea).
Antes da guerra na Ucrânia provocada pela Rússia, a falta de insumos, especialmente de fertilizantes importados do Leste Europeu, foi um dos principais fatores para a alta dos grãos. Além disso, eventos climáticos reduziram a produtividade e pressionaram as cotações da matéria-prima para a ração dos animais.
O conflito adicionou mais instabilidade e incertezas ao cenário. “Os balanços de grãos ficaram mais apertados, e a gente ainda não consegue ter clareza do que virá”, comenta César de Castro Alves, especialista da Consultoria Agro do Itaú BBA. Ainda que o impacto seja geral no agronegócio, cada proteína animal deverá sentir os efeitos de forma diferente até encontrar oportunidades na crise.
Pecuária de corte
A redução da importação de fertilizantes de Belarus e Rússia, que piorou por conta da guerra na Ucrânia, não afeta somente a agricultura, como esclarece Nivaldo Dzyekanski, presidente da Associação Brasileira de Angus. “Não fazemos mais pecuária com extrativismo, nós vamos com pecuária com adubação de solo”, explica ele.
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Dessa forma, o custo de produção é atingido em todo o ciclo do animal. Primeiro na cria, quando a forrageira é utilizada para alimentação, depois na terminação, mais uma vez a pecuária é afetada por conta do aumento de consumo de grãos na ração animal.
“O custo para fazer a pastagem dobrou, o que causa um impacto aproximado de 30% do gasto total de produção do animal”, calcula Dzyekanski. Isso pode gerar aumento entre 10% e 15% no preço da carne bovina para o consumidor final.
O setor ainda sofre com o aumento do preço do petróleo provocado pela tensão na Europa. “Tem animal que viaja 1.200 quilômetros para ir para o abatedouro”, explica o especialista. Outro fator de preocupação é a queda do dólar, um efeito colateral inusitado da guerra, que torna a proteína exportada mais barata e prejudica as margens dos pecuaristas.