
Um grande “confronto de mercado” segue se escalando com a carne bovina dos EUA enfrentando possíveis novos desafios no Japão em meio à reentrada da carne brasileira no país asiático.
A reabertura do Japão à carne bovina brasileira – negociação que segue avançada e com boas perspectivas – poderia prejudicar os exportadores norte-americanos da proteína. É o que sugere um artigo publicado pela Southern Ag Today, plataforma digital norte-americana especializada no setor do agronegócio e fruto de uma associação entre 13 universidades dos EUA, com o título “Market Showdown: U.S. Beef Faces New Challenges in Japan Amid Brazilian Reentry” (Confronto de mercado: carne bovina dos EUA enfrenta novos desafios no Japão em meio à reentrada brasileira).
Segundo o artigo, a carne bovina brasileira foi “banida do mercado japonês em 2012” devido a preocupações com a “Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB), também conhecida como Doença da Vaca Louca”. No entanto, o Brasil está atualmente em “negociações para retomar as exportações de carne bovina para o Japão”, um mercado altamente valorizado. Antes da proibição, as importações japonesas de carne bovina brasileira eram insignificantes, mas a reentrada pode representar um “desafio significativo para os EUA”, um dos principais fornecedores do mercado japonês.
O peso do Japão no mercado global de carne bovina
O Japão é o terceiro maior importador de carne bovina do mundo e, em 2024, tornou-se o segundo maior mercado de exportação para os EUA. No ano passado, os EUA exportaram um total de US$ 10,5 bilhões em carne bovina, dos quais 18% tiveram como destino o Japão (USDA, 2025a, 2025b).
Apesar da forte presença americana, os EUA enfrentam riscos com a entrada do Brasil no mercado. Em 2024, o Japão importou US$ 1,8 bilhão em carne bovina dos EUA, o que representou 43% do total de importações de carne bovina do país. Esse volume superou as importações da Austrália, que somaram US$ 1,7 bilhão (39%), enquanto o Canadá, a Nova Zelândia e o México tiveram participação bem menor.
Brasil: o maior exportador mundial de carne bovina
A ascensão do Brasil no mercado global de carne bovina se intensificou com a guerra comercial entre EUA e China em 2018, consolidando o Brasil como “o principal exportador mundial do produto”. Em 2024, a China foi o maior importador de carne bovina do mundo, movimentando US$ 14 bilhões, dos quais 45% foram fornecidos pelo Brasil.
Com uma forte base de exportação para a China e outros mercados, a entrada no Japão pode ser uma oportunidade estratégica. A questão é se o Brasil tem capacidade de competir em volume e qualidade com a carne bovina americana e australiana no país asiático.

Capacidade de produção e impacto no mercado japonês
Em 2024, o Brasil contava com um rebanho bovino de 192,5 milhões de cabeças, englobando animais de corte e leite. Nos últimos dois anos, o país passou por um ciclo de liquidação de rebanho, aumentando a oferta de gado para abate. Em 2023, o rebanho caiu 2%, com previsão de redução até meados de 2025 (Aquino, 2024). No entanto, mesmo com a queda no rebanho, o Brasil manteve sua posição dominante no comércio global.
O grande desafio para o Brasil no Japão está na qualidade da carne, já que os consumidores japoneses possuem uma preferência consolidada pela carne bovina dos EUA. Produtos como bifes, hambúrgueres e carne moída têm ganhado cada vez mais espaço no mercado japonês, e o diferencial da carne americana está em sua “qualidade e padronização”.
Por outro lado, a quantidade não seria um problema para o Brasil, que já lida com volumes expressivos de exportação para mercados exigentes como a China e a União Europeia. A entrada no mercado japonês dependerá da capacidade brasileira de “atender aos padrões sanitários e de qualidade exigidos pelo Japão”.
Futuro da carne brasileira no mercado japonês
Se as negociações entre Brasil e Japão forem bem-sucedidas, o país poderá conquistar uma fatia significativa do mercado japonês de carne bovina, atualmente dominado por EUA e Austrália. O impacto dessa entrada será analisado nos próximos anos, mas uma coisa é certa: “a disputa pela preferência dos consumidores japoneses será acirrada”.