Café mais caro: especialista explica por que os preços do produto dispararam

Nas últimas quatro safras, a oferta mundial de café ficou abaixo daquela considerada adequada para satisfazer a demanda.

Para compreendermos a alta histórica do café, conversamos com Eugenio Stefanelo, professor universitário, doutor em engenharia da produção e ex-secretário da Agricultura do Paraná. “Em primeiro lugar é importante destacar que o café é uma commodities”, comenta o especialista. “Toda a commodities que é exportada, o preço praticado no Brasil, que é o maior produtor e exportador mundial dessa commodities, é a cotação internacional do produto, multiplicado pela taxa de câmbio”, analisa ele.

Cotação internacional do café

Na safra 2024//2025, em escala global, o estoque inicial era de 22,35 milhões de sacas, a produção aumentou para 174,9 milhões de sacas, ou seja, um aumento de 4,1% em relação à safra anterior, o consumo mundial também aumentou 3,1% para 168,1 milhões de sacas, e o estoque final baixou para 20,9 milhões de sacas, uma queda de 6,6%, se constituindo no menor estoque de café existente no mundo nos últimos 25 anos. E nas últimas quatro safras, a oferta mundial de café ficou abaixo daquela considerada adequada para satisfazer a demanda.

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Menor estoque dos últimos 25 anos

Para Stefanelo, o resultado do menor estoque dos últimos 25 anos – safra 2024/2025 – provocou uma reação nas cotações internacionais do produto.  Na Bolsa de Nova York, o café Arábica, de janeiro de 2024 a dezembro de 2024, a cotação passou para U$ 3,22 centavos a libra peso, num aumento de 66% e entre janeiro de 2024 a janeiro de 2025, a cotação aumentou 81%, chegando a U$ 4,06 por libra peso.

O café Conilon (o café Conilon ou café Robusta, é de menor qualidade e sabor, normalmente usado na mistura com o café Arábica formando blends de diferentes qualidades, sabores e preços para o consumidor), na Bolsa de Londres, no ano passado, de janeiro de 2024 a dezembro de 2024, a cotação passou para U$ 2,30 por libra peso, num aumento de 79%. “São aumentos extremamente significativos, explicados pelo menor estoque de café existente no mundo nos últimos 25 anos, por termos nas últimas quatro safras produções mundiais, oferta mundial menor do que aquela considerada adequada para atender a demanda”, comenta o especialista.

Bienalidade

No Brasil, entre 2024 e 2025, segundo a CONAB, a área plantada de café baixou 1,5%, de 1.881 mil hectares para 1.854 mil hectares. A produção de café baixou 4,4%, de 54.215 mil sacas para 51.814 mil sacas. “Essa queda da produção se deve a bienalidade negativa da cultura (alternância entre anos de alta e baixa produção, devido a característica genética das plantas), e também devido às temperaturas elevadas, bem como a falta de precipitação, a seca que ocorreu na florada, que foi no ano passado e na formação inicial dos grãos”, avalia Stefanelo.

Exportação no ano passado

Em função das elevadas cotações internacionais, a exportação brasileira de café atingiu 50,5 milhões de sacas em 2024, aumento de 28,8% em relação ao ano anterior, devido, exatamente, aos bons preços internacionais. Essa situação mundial e brasileira fez com que a cotação interna do café no mercado brasileiro também atingisse preços recordes.

O café e a taxa de câmbio

A taxa de câmbio aumentou significativamente em função das incertezas na condução da política fiscal do governo, principalmente, considerando também as incertezas do mercado internacional, que chegou ao maior patamar de todos os tempos; R$ 6,29 por dólar. No início deste ano, até o presente momento, a cotação internacional tem baixado, até porque o governo deixou de falar de novos aumentos de gastos na política fiscal, com consequente aumento do déficit público e da dívida pública, a taxa de câmbio baixou para R$ 5,76, mas ainda é uma cotação bastante elevada comparada com a média verificada no ano de 2024.  “Cotação internacional elevada e taxa de câmbio elevada aqui dentro, fez com que os preços do café beneficiado, tipo 6, passassem para o intervalo recorde entre R$ 2.500,00 a R$ 2.900,00 a saca, considerando as cotações da B3”, comenta ele.

PERSPECTIVA DE PREÇOS

“Para este ano, não tem jeito, a cotação do café permanecerá em nível elevado. Claro que poderá aumentar ou reduzir levemente o preço, dependendo do andamento das cotações internacionais e da taxa de câmbio, mas nós não veremos neste ano reduções mais significativas do preço do café. A possibilidade de uma redução mais significativa só ocorreria se a safra mundial 2025/2026 fosse muito superior à demanda. Aqui no Brasil começa com a florada do café, a partir de setembro próximo.  Se a florada e a produção for muito boa e se a produção de café nos demais países produtores como a Colômbia, que produz o arábica, bem como os países africanos que produzem mais café Robusta, ou seja, se a produção mundial e brasileira de café da safra 2025/2026, por condições de clima favoráveis, for mais significativa, for normalizada, teremos uma redução da cotação internacional do produto. Mas esta redução não seria muito significativa, até porque, nós iniciaremos a safra 2025/2026 com baixíssimo estoque de passagem”, analisa Stefanelo. “Para que ocorram reduções mais significativas (nos preços/estoques), é crucial que, nas próximas duas safras, tanto em escala global quanto no Brasil, a oferta de café seja superior à demanda. Essa situação levaria à recomposição dos estoques, exercendo pressão de baixa sobre os preços”, analisa o especialista.

Stefanelo explica também que o custo da matéria-prima também tem grande impacto no preço final do café para o consumidor. “Não dá pra esquecer que outros custos também se elevaram no ano passado e neste início de 2025, por exemplo, o custo da mão de obra, o custo da energia elétrica, o custo dos combustíveis e o custo das embalagens são fatores que, obviamente, influenciam no preço final do produto ao consumidor”, comenta ele.

IPCA do café moído

 “O IPCA (Índice de Preço ao Consumidor Amplo) do café moído aumentou 37% no ano passado. Consequentemente esse aumento de preço verificado mostra que não há nenhuma especulação, nenhuma situação especulativa provocada pelos participantes das cadeias de produção, tanto os produtores quanto os torrefadores e os que produzem os diferentes tipos de café que chegam ao consumidor final. Na verdade foram os aumentos do preço da matéria-prima e os demais aumentos dos custos de processamento e de transportes desse café até o consumidor final que provocaram essa situação. De fato o café está com o preço para o consumidor muito elevado e essa situação tende a permanecer praticamente durante este ano. Lamentavelmente essa não é uma boa notícia para os “tomadores de café”, no entanto, é o que exatamente as condições de mercado mostram para esta rubiácea”, finaliza Stefanelo.

Cepea: o café e as altas temperaturas

Para fevereiro, pesquisadores alertam que previsões indicam chuvas abaixo do histórico e temperatura acima da média para o período, o que tem causado certa preocupação entre cafeicultores, tendo em vista que este é um período de desenvolvimento final da temporada. Apesar das chuvas atuais trazerem otimismo, as temperaturas daqui para frente serão cruciais para que haja um produto de boa qualidade. O excesso de calor, além de desfavorecer a qualidade do produto – já que a planta precisa de noites amenas para uma boa bebida –, pode secar os grãos antes da colheita, impactando negativamente a safra 2025/26.

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ℹ️ Conteúdo publicado por Myllena Seifarth sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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