
Produtos tinham presença de cascas e impurezas que podem ter toxinas e causar riscos à saúde. Enquanto isso, o setor cafeeiro se mobiliza para fortalecer a fiscalização e proteger a qualidade do café brasileiro, reconhecido internacionalmente como um dos melhores do mundo.
O Ministério da Agricultura e Pecuária (Mapa) apreendeu lotes de produtos suspeitos de serem “café fake” em estabelecimentos de São Paulo, Paraná e Santa Catarina. As apreensões ocorreram após denúncias da Associação Brasileira da Indústria do Café (Abic) sobre fraudes na comercialização de pó de café adulterado. De acordo com o Ministério, as análises confirmaram a presença de cascas, grãos defeituosos e impurezas, que podem representar riscos à saúde dos consumidores.
O que é o “café fake”?
A expressão “café fake”, também chamada de “cafake”, refere-se a produtos comercializados como pó sabor café, mas que contêm ingredientes diversos além dos grãos de café. Em muitos casos, esses produtos possuem aromatizantes, cascas e impurezas, o que os torna uma opção mais barata no mercado. As embalagens costumam imitar marcas tradicionais, dificultando a identificação pelo consumidor.
Segundo a legislação brasileira, o café pode conter até 1% de impurezas naturais da lavoura, como galhos e folhas. No entanto, é proibida a presença de elementos estranhos, como sementes de outras plantas, corantes e substâncias artificiais. O problema dos produtos apreendidos é que eles informavam na embalagem conter polpa do café, mas, na verdade, continham apenas a casca, um resíduo do beneficiamento do grão.
Risco à saúde
Os especialistas alertam que esses produtos podem conter ocratoxina, uma toxina produzida por fungos que podem crescer em impurezas do café. Essa substância está associada a problemas renais, hepáticos e ao desenvolvimento de doenças crônicas.
De acordo com Hugo Caruso, diretor do Departamento de Inspeção de Produtos de Origem Vegetal do Mapa, as apreensões foram preventivas e um laudo final deve ser divulgado nas próximas semanas. “Precisamos verificar se esses produtos estão de acordo com a legislação ou se configuram uma fraude contra o consumidor”, disse Caruso.
Mercado e impacto para os consumidores
O aumento do preço do café, que já acumula uma alta de mais de 40% no último ano, tem impulsionado a venda dessas opções alternativas. Em janeiro, um pacote de 500g de um desses produtos era encontrado nos supermercados por R$ 13,99, um valor muito inferior ao café tradicional, que pode ultrapassar R$ 50 o quilo.
A preocupação da indústria cafeeira é que essas práticas geram concorrência desleal e induzem o consumidor ao erro. “Esses produtos são vendidos com embalagens parecidas com as de café tradicional, com xícaras de café e nomes semelhantes aos das marcas conhecidas. Muitas vezes, o consumidor compra achando que é café puro”, explica Celírio Inácio, diretor-executivo da Abic.
Como identificar um “café fake”?
Para evitar a compra de produtos adulterados, especialistas recomendam que o consumidor fique atento a alguns detalhes na embalagem:
- Leia o rótulo com atenção: Produtos rotulados como “pó sabor café” ou “bebida sabor café” não são café puro.
- Desconfie de preços muito baixos: O café tradicional possui um custo mais elevado devido às matérias-primas de qualidade.
- Evite produtos com ingredientes desconhecidos: O verdadeiro café deve conter apenas grãos torrados e moídos.
A Associação Brasileira da Indústria do Café também alerta que os consumidores podem denunciar produtos suspeitos à entidade e ao Ministério da Agricultura.
Próximos passos
O Mapa segue investigando os produtos apreendidos e pode determinar o recolhimento definitivo dos lotes considerados impróprios para consumo. Além disso, empresas responsáveis por fraudes podem ser autuadas e penalizadas.
Enquanto isso, o setor cafeeiro se mobiliza para fortalecer a fiscalização e proteger a qualidade do café brasileiro, reconhecido internacionalmente como um dos melhores do mundo.