A combinação de seca severa, temperaturas extremas e a dependência de poucas regiões produtoras impulsiona essa nova alta histórica no preço do café, refletindo diretamente no mercado interno.
Os preços do café arábica dispararam, alcançando o maior valor em quase meio século. Na última terça-feira (11), o contrato de futuros para março chegou a US$ 3,48 (R$ 20,94) por libra, marcando um aumento de 70% no acumulado do ano, de acordo com a CNBC. A última vez que o preço esteve tão elevado foi em 1977, quando uma nevasca devastou as plantações no Brasil. Hoje, a combinação de seca severa, temperaturas extremas e a dependência de poucas regiões produtoras impulsiona essa nova alta histórica, refletindo diretamente no mercado interno.
Nas prateleiras dos supermercados, o café já é vendido, em média, a R$ 48,57 o pacote de 1 kg, o maior valor registrado nos últimos 50 anos, segundo a Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Este aumento alarmante reflete um cenário desafiador para produtores e consumidores, marcado por condições climáticas adversas, custos logísticos elevados e um mercado global em constante transformação.
Alta histórica: entenda os fatores que impulsionaram o preço do café
De acordo com o Índice Nacional de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA), o preço do café moído subiu 33% nos últimos 12 meses até novembro. A média atual de R$ 48,57 para o pacote de 1 kg representa um aumento expressivo em relação aos R$ 35,09 registrados no início do ano, conforme dados da Associação Brasileira da Indústria de Café (Abic). Este aumento é resultado de uma combinação de fatores climáticos, econômicos e logísticos que devem manter os preços elevados até 2026.
Impactos climáticos severos prejudicam produção de café
As regiões produtoras de café no Brasil, como Minas Gerais e São Paulo, enfrentaram longos períodos de seca e altas temperaturas em 2024. Essas condições geraram um estresse significativo nas plantas, que abortaram os frutos para economizar energia, comprometendo a produção.
“Mesmo em áreas irrigadas, os efeitos da seca foram sentidos. Muitos produtores optaram pela técnica de ‘esqueletar’ as lavouras, uma poda drástica que anula a colheita do próximo ano, mas ajuda a planta a se recuperar para futuras safras”, explica Cesar Castro Alves, gerente da Consultoria Agro no Itaú BBA.
A safra de 2024 foi estimada em 54,8 milhões de sacas, uma redução de 0,5% em comparação ao ano anterior, segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab).
Incertezas para o futuro e efeitos da bienalidade
O plantio do café segue o sistema de bienalidade, alternando anos de alta e baixa produção. No entanto, essa regra foi quebrada nos últimos quatro anos devido às condições climáticas adversas, como geadas, secas e ondas de calor.
Essa incerteza tem gerado preocupação no setor. O preço do fruto cru para industrialização disparou, passando de R$ 700 por saca em janeiro para valores acima de R$ 2.500 em dezembro de 2024.
“O mercado está em alta, sem indícios de queda, e devemos iniciar 2025 com continuidade do aumento dos preços”, aponta Celírio Inácio da Silva, diretor executivo da Abic.
Demanda em alta, tanto no Brasil quanto no exterior
Apesar do encarecimento, o consumo de café segue resiliente. Dados da Abic mostram que o consumo interno cresceu 0,78% entre janeiro e outubro de 2024. Essa tendência também é observada em mercados internacionais, como a China, que registra um crescimento anual de 17% nas importações.
“O Brasil tem ampliado sua presença em novos mercados, o que impacta diretamente a oferta interna”, explica Alves. Além disso, o café continua sendo a segunda bebida mais consumida no Brasil e no mundo, atrás apenas da água.
Logística e conflitos globais: outro obstáculo para o setor
O cenário global também influenciou os preços do café. Conflitos no Oriente Médio aumentaram os custos de transporte, especialmente em rotas marítimas, como o Canal de Suez, usado para exportação de grãos. No Brasil, deficiências na infraestrutura portuária dificultam a exportação eficiente, agravando o problema.
“Os custos logísticos e a dificuldade de acesso a contêineres pressionaram ainda mais os preços, tanto para o mercado interno quanto para o internacional”, ressalta Alves.
Projeções até 2026: cautela e esperança
Especialistas acreditam que os preços elevados devem se manter até pelo menos 2026. As plantas, atualmente debilitadas, precisarão de tempo e condições climáticas favoráveis para se recuperar.
“Se houver chuva suficiente nos primeiros meses de 2025, a expectativa pode melhorar. Caso contrário, o cenário continuará tenso”, afirma Silva, da Abic. A produção do café conilon, mais resistente ao calor, pode amenizar parte da pressão no mercado, mas não será suficiente para estabilizar os preços do arábica, variedade mais consumida.
Consumidor brasileiro sente o impacto
Para o consumidor, o impacto do aumento nos preços já é uma realidade. Com o café atingindo quase R$ 50 por quilo, muitas famílias estão repensando o consumo e buscando alternativas. No entanto, o grão segue como um item essencial no dia a dia dos brasileiros.
“Apesar da alta nos preços, o consumo é resiliente. O café é parte da cultura brasileira, e isso ajuda a manter a demanda estável mesmo em momentos de crise”, conclui Alves.
Com um cenário de incertezas, a trajetória do café nos próximos anos dependerá fortemente das condições climáticas e da recuperação das lavouras. Para os amantes da bebida, o desafio será manter o consumo diante de preços que não dão sinais de recuo.
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