Cadeado e Veado, conheça a história dos burros pintados do seu Hildo

No interior de Santa Cruz do Sul, dois burros pintados – Cadeado e Veado – são o xodó de agricultor que também ficou conhecido pelo trabalho com os animais e já amansou 128 mulas.

Nos municípios do Vale do Rio Pardo, nos quais a maior parte da zona rural é formada por pequenas propriedades, muito do desenvolvimento delas teve e ainda tem sua base no trabalho manual e uso de tração animal. Ela acompanha a história de famílias e foi fundamental para o desenvolvimento das ‘colônias’, seja para abrir uma picada, lavrar a terra ou carregar a colheita, ainda mais em regiões de cerro e de difícil acesso. Cadeado e Veado, conheça a história dos burros pintados do seu Hildo!

Culturalmente, o mais comum por aqui sempre foi a carroça e o arado puxados por uma canga com bois, mas no interior de Santa Cruz do Sul tem uma dupla que foge um pouco do tradicional: é cruza de égua com jumento, tem a pelagem pintada e atende por Cadeado e Veado. Trata-se da junta de burros pintados de Hildo Aloísio Staub, que ao longo da vida amansou mais de 120 mulas.

Uma morada no meio da ‘Mula Pikade’

Hildo Aloísio Staub, 74 anos, e Darcila Tereza Staub, 71, são naturais de São Martinho, interior de Santa Cruz do Sul. Ainda muito antes deles, nos tempos de Erwino, pai de Hildo, e de Germano, avô de Darcila, a estrada entre São Martinho e a ‘vila’, como muitos se referem ao distrito de Monte Alverne, na divisa de Santa Cruz do Sul com Venâncio Aires, ficou conhecida como ‘Mula Pikade’, ou a Picada das Mulas.

“Já se falava que tinha muito mula por aqui bem antes de nós, porque sempre foi um animal forte para as lidas nos morros. Hoje tem tecnologia e trator, mas antigamente era tudo com as mãos e com ajuda de boi e mula”, destaca Darcila. Animais ficam boa parte do dia soltos no potreiro.

Quando ela e Hildo casaram, em 15 de junho de 1974 (comemoraram Bodas de Ouro no último sábado), foram morar numa propriedade em Linha General Osório, praticamente no meio do trajeto da ‘Mula Pikade’. Coincidência ou não, fato é que, anos depois, Hildo ficaria conhecido pelo jeito com esses animais, que são cruza da égua com o jumento.

Nos primeiros anos de casados, quando trator era algo impensável para a realidade dos agricultores, seja pelo alto custo ou pela dificuldade de ter maquinário em terrenos tão íngremes, Hildo e Darcila, assim como a grande maioria dos agricultores, tinham na roça a ajuda importante dos bois. O casal plantou milho e soja, além do tabaco, a principal atividade durante anos. Há mais de 30 anos, quando os filhos Angelita, Cesar e Daniel ainda eram crianças, Hildo conta que surgiu a oportunidade de comprar duas mulas, batizadas de Mulinha e Zaino. Foi a primeira junta do aposentado e ficou com ele durante 17 anos.

128 animais e a história dos burros pintados

Mulinha e Zaino foram as primeiras mulas amansadas por Hildo. Ele explica que, como são animais mais rápidos, é o primeiro ponto a ser observado. “A mula é um bicho muito forte e tem equilíbrio. Mas se deixar, eles correm. Dizem que são mais difíceis de lidar que cavalo ou boi, mas são muito espertos e de ‘burro’ não têm nada”, afirma, fazendo 4/6 referência à palavra que virou sinônimo de teimosia ou ignorância, usada em tom pejorativo para ofender alguém.

Cadeado e Veado, conheça a história dos burros pintados do seu Hildo
Animais ficam boa parte do dia soltos no potreiro (Foto: Débora Kist/Folha do Mate)

O bom trato com os bichos fez com que Hildo virasse uma referência na região e durante anos ele amansou um total de 128 animais, a maioria por intermédio de um criador de equinos de Santa Cruz. O aposentado conta um episódio quando lidou com dois animais xucros ao mesmo tempo. “Eu estava em cima da carroça quando eles puxaram, muito rápido. A mulher gritou para eu pular, mas eu disse que era o momento mais divertido”, lembra, entre risos. “O certo é colocar um manso com um xucro” Na propriedade dos Staub, a principal língua falada é o alemão.

Perguntado se o ‘deutsch’ também é usado com os animais, Hildo confirma. “É ‘ruff un ronna’ e eles entendem”, garante, falando no dialeto, que em alemão seria ‘rauf und runter’, ou, para cima e para baixo, na tradução em português. Os burros pintados da Picada das Mulas, uma dupla mais do que especial.

Os tempos de Hildo como amansador ele conta que já ficaram para trás e hoje todas as atenções dele são para uma dupla deburros pintados que o acompanha há 18 anos e são um verdadeiro xodó na propriedade. “Comprei eles com uns três anos e estão com a gente até hoje. São especiais”, define Hildo, se referindo a Veado, de 20 anos, e Cadeado, 21 (mais velho, mas um pouco menor). Os nomes, segundo o dono, é só porque rimaram. Os burros têm uma característica rara: pelagem branca com pintas marrons, provavelmente herança da mãe, uma égua da raça Appaloosa, também conhecida como ‘cavalo pintado’.

Cadeado, conta Hildo, também é bom para montaria. Pasto e milho são o principal alimento e eles ainda ficam à vontade no potreiro. “A gente tem carinho nos bichos e os netos também adoram”, destaca Hildo, se referindo a Djenifer, Nândria e Pietro. “Dizem que as mulas e burros podem chegar aos 40 anos. Tomara, porque daí a gente ainda tem bastante tempo com eles, né?”

Com tantos anos de convívio, Cadeado e Veado também participaram de um momento inesquecível para Hildo e Darcila. No último sábado, 15, eles completaram 50 anos de casados e, para marcar as Bodas de Ouro, foi realizada uma cerimônia na Igreja São Miguel, de Linha General Osório. O casal chegou ao local numa charrete levada pelos animais. “Foi muito bonito”, definiu Hildo.

Saiba mais sobre a relação entre as espécies de cavalos, jumentos, burros e mulas

Cadeado e Veado, conheça a história dos burros pintados do seu Hildo
No sábado, 15, os burros pintados levaram Hildo e Darcila até a igreja, para celebração dos 50 anos de casamento dos agricultores (Foto: Junio Nunes/Divulgação)

Segundo João Juliano Pinheiro, médico veterinário e fiscal agropecuário em Venâncio Aires, as mulas são o cruzamento de cavalos e jumentos e são animais estéreis, já que híbridos de espécies diferentes geralmente são estéreis.

“As pessoas fazem esses cruzamentos porque a mula acaba sendo mais resistente e forte que os equinos e, ao mesmo tempo, é mais fácil de manusear por não ‘empacar’ como jumentos. Os bois são mais utilizados pela força, para puxar grandes cargas, mas são mais lentos também.” Sobre a nomenclatura, Pinheiro explica que do cruzamento de éguas e jumentos nascem burros (macho) e mulas (fêmeas). Quanto a asno e jegue, são sinônimos de jumento e o modo como são chamados depende da região onde estão.

Fonte: https://folhadomate.com

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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