A Bridgestone iniciou os estudos com guayule há mais de uma década, quando inaugurou um centro de processamento e pesquisa em Mesa, Arizona.
Sonora, no sudoeste do Arizona, é o deserto mais quente dos Estados Unidos. O clima é severo, oferecendo um contraste extremo entre aridez e umidade, graças aos seus invernos subtropicais quentes e duas estações de chuvas. Poucas coisas prosperam no deserto de Sonora, mas a guayule sim.
Guayule (pronuncia-se Why-YU-lee) é um arbusto lenhoso do deserto que tem uma qualidade notável – a planta produz borracha natural, o que a torna uma alternativa viável, ecologicamente correta e sustentável à Hevea brasiliensis (a “seringueira”). A Bridgestone, líder global em pneus e borracha, está assumindo a liderança em pesquisa, desenvolvimento e engenharia de guayule para ajudar a alcançar a neutralidade de carbono e fabricar pneus com materiais totalmente renováveis até 2050.
A Bridgestone iniciou os estudos com guayule há mais de uma década, quando inaugurou um centro de processamento e pesquisa em Mesa, Arizona. A empresa seguiu com essas iniciativas em uma fazenda de 114 hectares em Eloy, a cerca de 80 quilômetros ao sul de Mesa. Mais de US$ 100 milhões (R$ 515 milhões na cotação atual) foram investidos para comercializar a guayule, e a Bridgestone anunciou no início de setembro que está investindo outros US$ 42 milhões (cerca de R$ 215 milhões).
A Bridgestone promoveu recentemente uma press trip para mostrar os detalhes de sua alternativa sustentável às seringueiras, explorar as instalações de produção e conhecer as pessoas por trás da ciência. A jornada começou na fazenda de guayule, da Bridgestone, em Eloy; depois foi a vez da instalação de processamento em Mesa e terminou em Nashville, Tennessee, onde os pneus de borracha guayule estavam nos veículos que competiram em um evento da NTT Indycar Series.
Bill Niaura, diretor de desenvolvimento de novos negócios da Bridgestone, é um estudioso sobre tudo que se refere à borracha e pneu – a viagem começou em uma sala de aula onde o grupo ouviu sobre a história da agricultura de látex e as diferenças entre as fontes.
Quase toda a borracha natural de hoje vem de seringueiras, uma planta de clima tropical. Leva cerca de cinco anos para a árvore amadurecer antes de produzir látex, uma seiva líquida que escoa de cortes feitos à mão, na casca. Em seguida, adiciona-se amônia para evitar que a seiva coagule, com o ácido usado para extrair a borracha por meio da coagulação. Após a remoção do excesso de umidade, o látex está pronto para o processamento.
Embora o processo não seja excessivamente complexo, as plantações de borracha não são ecologicamente corretas (as florestas tropicais na Ásia e na América do Sul são destruídas à medida que as árvores são plantadas) e o processo não é sustentável. (NR Forbes Brasil: No Brasil, a maior parte das seringueiras comerciais não estão em área de floresta. São Paulo responde por 70% da produção do país. E boa parte daquelas em áreas de floresta integram projetos agroflorestais). Além disso, as matérias-primas devem ser transportadas por milhares de quilômetros em navios de carga para fabricação, o que deixa uma pegada de carbono suja em seu rastro.
O ambiente de cultivo da guayule não poderia ser mais diferente, como ocorre nas áreas de cultivo no deserto de Sonora. Dave Dierig, gerente de departamento de operações agrícolas da Bridgestone, e Will Thelander, um agricultor local e proprietário da Tempe Farming, mostram como são essas plantações.
Como esperado de um centro de testes, existem várias áreas de cultivos em diferentes estágios – jovens, maduros, prontos para colher e colhidos recentemente. Existem também talhões de teste que são irrigados e recebem diferentes quantidades de água. O agrônomo Sam Wang, principal pesquisador de campo da Bridgestone, diz que a guaiúle consome muito pouca água, especialmente em comparação com as culturas tradicionais (como alfafa e o algodão) historicamente cultivadas na região.
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O cultivo dos arbustos de Guayule começa com as sementes minúsculas (o núcleo é tão pequeno que é tingido de uma cor coral brilhante para visibilidade), que levam cerca de três anos para amadurecer. Para quem não conhece, um campo de arbustos guayule parece uma pastagem repleta de tumbleweed (como um arbusto retorcido) em crescimento. Embora as hastes do arbusto guayule sejam mais espessas e a altura total geralmente fique próximo de meio metro. Quando estabelecida, a guayule floresce do final de março a outubro (assim como outras plantas do deserto) com uma cor verde-amarelada, emitindo um cheiro agradável que se espalha por quilômetros.
Russ Prock, supervisor de operações agro, explica que a guayule pode ser plantada, cultivada e colhida com equipamentos que já são usados no campo, embora com algumas modificações (a Prock desenvolveu várias patentes para equipamentos agrícolas específicos para guayule).
Para a colheita, o arbusto é cortado logo acima da linha do solo, e a planta (menos as raízes) é deixada no campo por um curto período de tempo para secar. Em seguida, é enfardado e levado para o BPRC (Biorubber Process Research Center), da Bridgestone, em Mesa.Mike Hartzell, engenheiro químico sênior da Bridgestone, e Bob White, gerente do BPRC, explicam como funciona a instalação da biorrefinaria de vários andares.
Depois de chegar de caminhão, os fardos são colocados em um processador onde são picados e moídos. Os solventes extraem a borracha e as impurezas e, em seguida, os diluidores são removidos (o sistema é um circuito fechado, onde todos os produtos químicos são filtrados e reciclados). O produto final é uma borracha natural extrudada, que pode ser enviada para a fabricação de pneus ou inúmeros outros produtos de borracha com processamento mínimo.
Como esperado, existem alguns subprodutos do processo de extração. Estes incluem resinas, polpa e raízes de madeira. No entanto, os engenheiros e cientistas da Bridgestone estão trabalhando para encontrar usos para todos os resíduos, para reduzir o desperdício e aumentar a sustentabilidade.
Por exemplo, as resinas podem ser usadas para adesivos, enquanto a polpa pode ser transformada em pellets de combustível (queima com a mesma energia que o carvão). E lembra da raiz deixada no campo? Ela gera um outro arbusto de guayule que será colhido novamente – um processo que pode ser repetido várias vezes.
A pesquisa e o desenvolvimento da Bridgestone não terminam na fazenda. Para provar que a borracha de guayule é capaz de lidar com os ambientes operacionais mais extremos, o produto de borracha natural da BPRC foi enviado ao Centro de Tecnologia Bridgestone Americas, em Akron, Ohio, onde foi moldado nas paredes laterais dos pneus Firestone Firehawk IndyCar (as paredes laterais foram escolhidas porque essa área é composta da borracha mais natural). Os testes provaram que a borracha guayule oferecia a mesma qualidade e desempenho que os pneus de corrida existentes.
No mês passado, os pneus de borracha guayule fizeram sua estreia oficial de corrida no NTT Indycar Series Big Machine Music City Grand Prix, nas ruas de Nashville, Tennessee. Apesar dos atrasos provocados pela chuva e dos raios, os pneus tiveram um desempenho impecável na frente de 110.000 fãs da corrida no local e de milhões pela televisão.
Embora a Bridgestone já tenha comprometido quase US$ 150 milhões em pesquisa e desenvolvimento de guayule, seus esforços não estão na fase final. A empresa indicou que investimentos adicionais estão planejados para o final da década e que está trabalhando ativamente com tribos nativas norte-americanas e agricultores locais dos EUA para aumentar o tamanho e o rendimento das colheitas de guayule. A meta é adicionar mais 140 hectares ainda este ano, mas a meta é 10.000 hectares.
A fazenda impressiona e mostra os esforços da Bridgestone. Com base em uma década de pesquisa diligente, sua equipe demonstrou que a guayule é uma alternativa ambientalmente amigável e sustentável à seringueira. Como resultado, parece ser apenas uma questão de tempo até que os consumidores nos EUA conduzam com segurança carros com pneus de borracha guayule de origem nacional, feitos de um arbusto do deserto de Sonora fácil de cultivar.
* Michael Harley é colaborador da Forbes EUA, e especialista em indústria automotiva já tendo ocupado cargos na Kelley Blue Book, J.D. Power and Associates, Autoblog, AutoWeb, Autotrader, CarExpert e Autobytel. É jurado do NACTOY (North American Car, Utility and Truck of the Year) e do WCA (World Car Awards).