Brasil pode aumentar área de soja com manejo de solos arenosos

Estima-se que o Brasil tenha mais de 60 mi de hectares de pastagem, sendo que cerca de 60% destes espaços são aptos ao sistema integração lavoura-pecuária

O pesquisador da Embrapa Soja, Henrique Debiasi, usou a frase descontraída “o filé já foi”, para ilustrar a dificuldade dos produtores na busca por novas áreas para o cultivo da oleaginosa. De fato, os melhores solos para o cultivo do grão, de Norte a Sul, já foram ocupados. No entanto, ainda há muito a ser explorado. E o melhor: sem desmatar e com índices satisfatórios de produtividade econômica. Isso se deu porque, considerando apenas o bioma Cerrado, estima-se que o Brasil tenha mais de 60 milhões de hectares de pastagem, sendo que cerca de 60% destes espaços são aptos ao sistema integração lavoura-pecuária.

“Significa incluir dentro do contexto de produção de grãos aproximadamente 35 milhões de hectares de área que, atualmente, está degradada e tem baixíssima produtividade. É uma fronteira agrícola enorme que pode ser explorada sem que se derrube uma única árvore para isso”, destaca o pesquisador.

O problema, contudo, é que a grande maioria desta área possui solo arenoso. Ambientes com este perfil são caracterizados, essencialmente, por três fatores: baixa fertilidade natural, pouca capacidade de armazenamento de água e nutrientes e alta probabilidade de erosão. “Isso tudo porque a maioria dessas áreas está localizada em regiões que contam com clima quente e distribuição irregular de chuva. O contexto é desafiador”, pondera Debiasi.

Desta forma, grandes regiões dos estados de Mato Grosso do Sul, Goiás e Mato Grosso, além do noroeste do Paraná contam com solos que se encaixam nesta realidade. Para o especialista da Embrapa Soja, a integração lavoura-pecuária é a ferramenta que melhor pode contornar os problemas de uma futura e, talvez, necessária expansão na sojicultura brasileira. “Áreas com solos arenosos têm produtividade muito baixa, mas, por meio da integração lavoura-pecuária em sistema de plantio direto, alcançam eficiência produtiva de carne, leite e também de grãos de forma muito mais sustentável, inclusive com potencial de fixação de carbono no solo”.

O que explica essa vocação ambiental do sistema é a matéria orgânica do solo, formada por, aproximadamente, 40% de carbono advindo da decomposição dos restos culturais das plantas que, por sua vez, retiram este CO2 da atmosfera e o sequestram no solo, gerando armazenamento de água e nutrientes. “Futuramente, o produtor pode alcançar até uma safra que lhe gere créditos de carbono, visto que o mercado está se estruturando neste sentido”, lembra o pesquisador.

Além da incorporação do gado no sistema, o produtor pode optar por aumentar o teor de matéria orgânica no solo arenoso com a inclusão de gramíneas forrageiras tropicais perenes, como braquiárias e panicum. “Essas forrageiras podem ser colocadas no outono/inverno e, apesar de serem perenes, o produtor pode tratá-las como se fossem anuais, sem colocar o gado, só para produzir palha e matéria orgânica. A partir de então, planta-se a soja no verão e coloca-se depois as gramíneas forrageiras tropicais, que também podem ser consorciadas com leguminosas, como crotalária e feijão-guandu, por exemplo, para produção de palha e formação de nitrogênio”.

Entretanto, como as regiões de solos arenosos possuem vocação pecuária, é por meio da integração do gado na equação que a probabilidade de sucesso é maior. “Nesse caso, o modelo que é, talvez, o mais utilizado é o ciclo de quatro anos, ou seja, durante dois anos a área fica com pasto perene, produzindo carne ou leite e, depois de dois anos, se alterna com soja no verão e pastagem de gramínea apenas durante o outono/inverno”, conta Debiasi. Com isso, se tem um aporte de palha e raiz no sistema que, mesmo quando pastejado, pelo próprio esterco do animal, retorna e gera aumento do teor de matéria orgânica no solo, proporcionando, também, cobertura e retenção de água.

Além disso, o pesquisador da Embrapa Soja destaca que a ciclagem de nutrientes que as forrageiras tropicais perenes proporcionam também é um fator importante. “Essas forrageiras possuem raízes com mais de dois metros de profundidade, ou seja, captam pela raiz os nutrientes que estão lá embaixo e os transferem para a parte aérea da planta, que é a parte vegetativa visível, ficando alojados onde a soja está”.

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