Brasil e Nigéria vão lançar oficialmente na quinta-feira, em Abuja, a capital do país africano, o maior projeto agropecuário daquele continente.
A partir de um financiamento inicial de US$ 1,1 bilhão, divididos entre o BNDES e o Deutsche Bank, a estratégia permitirá, em um primeiro momento, a exportação de 10 mil tratores e cerca de 50 mil máquinas e equipamentos brasileiros para montagem em território nigeriano.
O projeto envolve todos os elos da cadeia produtiva daquele país. Além do financiamento e da exportação de maquinário, que já exigirão melhorias no acesso ao crédito e na manutenção dos equipamentos, tem por objetivo maximizar produção, distribuição, armazenagem, vendas e uso de insumos por parte de produtores e agroindústrias.
Ricardo Guerra de Araújo, embaixador brasileiro na Nigéria, lembra que, como informou o Valor em agosto do ano passado, esse pacote tecnológico 100% brasileiro inclui um plano de negócios amplo elaborado pela Fundação Getulio Vargas (FGV). A ideia é impulsionar a agropecuária nigeriana em geral, de forma a reduzir a dependência do país em relação aos instáveis recursos provenientes do petróleo e aumentar sua segurança alimentar.
A estrutura financeira une forças privada e estatal. A primeira tranche de € 116 milhões, que será desembolsada em fevereiro, virá do Deustche Bank, com seguro de crédito do Banco Islâmico de Desenvolvimento. A segunda e a terceira tranches, de € 360 milhões no total, serão aportadas no próximo mês de julho pelo BNDES e por um banco multilateral. Nesse caso, o seguro de crédito será dividido entre a Agência Brasileira Gestora de Fundos Garantidores e Garantias (ABGF) e o Banco Islâmico de Desenvolvimento.
A quarta e quinta tranches, que somarão € 462 milhões deverão ser desembolsadas em julho de 2020, por essas mesmas instituições. O projeto tem garantia soberana do governo da Nigéria e, de acordo com a estrutura acertada, o risco é compartilhado por mais de uma seguradora. Com a liberalização dos recursos já a partir do mês que vem, as compras de peças de tratores, máquinas e equipamentos do Brasil deverão começar logo. Eles serão montados em fábricas em diferentes regiões da Nigéria nos próximos anos.
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O pacote abrange programas de treinamento e assistência técnica para as máquinas ao longo de dez anos. O plano prevê que mais de 700 centros de serviços sejam criados na Nigéria para ajudar pequenos agricultores a prepararem o solo, cultivarem seus produtos e realizarem a colheita.
Os centros de serviços serão especializados em cadeias de valor, a depender da aptidão de cada região. Entre essas cadeiras estão as de carnes de frango, bovina, caprina e ovina, peixes, laticínios, hortifrútis, tubérculos, óleo de palma, grãos – soja, arroz e milho – e algodão. Brasil e Nigéria têm solos parecidos (Savana e Cerrado) e clima tropical. A expectativa é que o projeto envolva 100 mil jovens nigerianos e que 5 milhões de pessoas sejam impactadas.
Mas o governo nigeriano tem ambições maiores. Seu objetivo é que o projeto se desenvolva e cresça nos próximos anos, com a aceleração do desenvolvimento agropecuário do país e a ampliação das vendas de maquinário. “O Brasil, com seu agronegócio eficiente e dinâmico, está mais do que disposto a ajudar a Nigéria a realizar esse desafio”, disse o embaixador Araújo.
As negociações demoraram anos, e o projeto será o primeiro de vulto na área agrícola da gestão Bolsonaro. Sempre foi visto como um projeto-piloto para enfrentar a concorrência chinesa na Africa, ainda que os chineses sejam mais fortes em infra-estrutura do que na agropecuária. O lançamento será feito pelo vice-presidente nigeriano e uma delegação brasileira estará presente.
Fonte: Valor Econômico.