China criou uma dos piores cenários para o Brasil, uma verdadeira bomba relógio que pode explodir com um prejuízo milionário para o setor da carne bovina!
O embargo da China à carne bovina brasileira completa dois meses nesta quinta-feira (4/11). Imposto depois da confirmação de dois casos atípicos de Encefalopatia Espongiforme Bovina (EEB) no país, doença conhecida como “mal da vaca louca”, o bloqueio já levou a uma desvalorização de 11,8% no valor da arroba bovina no último mês e à primeira queda no preço médio das carnes no mercado interno em 16 meses, segundo o IPCA-15, a prévia da inflação oficial.
A expectativa inicial era de uma retomada breve dos embarques. Mas, com dois meses de embargo, Confederação da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA), estima um prejuízo de até US$ 1,8 bilhão se as exportações continuarem suspensas até dezembro. E a situação permanece um incógnita para o setor, afirmam analistas de mercado.
Bolha a estourar
De acordo com a CNA, porém, com a redução do valor da arroba e o aumento dos insumos para alimentação do gado confinado, os produtores passaram a amargar altos prejuízos. Se antes eles ganhavam cerca de 300 reais por animal vendido, agora têm o prejuízo de aproximadamente 500 reais. “Quem pode, segura o gado no pasto agora por um período até a situação se normalizar e, só depois, manda para o abate”, diz Lucchi. Essa retenção, em médio prazo, deverá elevar o preço.
“A gente sempre tentou definir alguma data pra que tivesse alguma esperança, mas depois de tanto tempo vamos ter que aguardar, mesmo, algum anúncio oficial sobre o tema”, observa o analista de pecuária da StoneX, Caio Toledo, ao ressaltar que o prejuízo gerado pela ausência chinesa atinge toda a cadeia pecuária do país. “Não sabemos de fato o que está acontecendo e, como não sabemos o fato, cada um acaba tendo sua suposição e a sua história. Mas acabam sendo sempre suposições ou narrativas”, observa o analista.
A suspensão mais longa que o Brasil já enfrentou em suas exportações para a China devido a um caso atípico de mal da vaca louca durou cerca de dois anos, lembra o analista da Scot Consultoria, Rafael Suzuki. O caso, ocorrido em 2010 no Paraná, levou dois anos para ser confirmado. “Vale ressaltar que, nesse período, a China, por mais que ela tenha suspendido a importação de carne bovina, a gente notou um expressivo aumento de exportação de carne bovina brasileira para Hong Kong naquele período”, explica o analista.
O mesmo não ocorre este ano. De acordo com números da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério da Economia, as exportações brasileiras de carne bovina em outubro registraram queda de 49,5% em outubro, com 82,2 mil toneladas, após um recorde em setembro. O volume, estimado em 218.529 toneladas pela Associação Brasileira de Frigoríficos (Abrafrigo), refletiu os embarques do produto já certificado, mas represado nos portos brasileiros devido à crise logística internacional. Há mais de 110 mil toneladas de carne pendentes de liberação das autoridades chinesas para entrar no país.
Quando você deixa de comprar, você acaba induzindo uma queda no valor. É o que o Governo chinês está fazendo Charles Tang, da Câmara de Comércio Brasil China
“Não se sabe o destino, se a China vai aceitar ou não. Até o momento ela não aceitou essa carne. Então estamos com mais essa incógnita, que é um volume estimado em mais de 110 mil toneladas de carne bovina”, destaca Suzuki.
Entre as possíveis razões para a demora, tanto ele quando Toledo, da Stonex, citam o aumento do consumo de carne suína e de frango por parte da China – produtos cuja exportação brasileira para o país cresceu, respectivamente, 30% e 21,5% no último mês comparado a igual período do ano passado.
“A gente não consegue afirmar se de fato é isso ou ano, mas o que temos de fato é que, nas últimas semanas, tivemos uma recuperação tanto da margem da suinocultura quanto do preço do suíno”, destaca Toledo.
Suzuki acrescenta que a China também tem aumentado a sua produção interna de proteína animal, recuperando o seu plantel de suínos em produções verticais e altamente tecnificadas. “Isso poderia, também, estar reduzindo essa depndência em relação ao Brasil”, ressalta.
Enquanto 60% das exportações brasileiras de carne bovina têm como destino a China, do lado chinês, essas importações representam cerca de 38% do total adquirido no mercado internacional. “O chinês aprendeu a comer carne bovina? Aprendeu! Gostou? Gostou! Mas nada impede que ele retome o consumo que ele tinha antes, seja por preço, seja por disponibilidade”, ressalta Toledo ao lembrar que o consumo de carne bovina está restrito a um nicho de mercado concentrado nas grandes cidades chinesas.
Com isso, após tanto tempo de suspensão, a queda no preço que a China paga pelo produto brasileiro é dada como certa, havendo uma retomada. “O que a gente entende é que os chineses estão neste momento fazendo um jogo comercial mesmo, porque não tem justificativa sanitária para eles não comprarem a carne do Brasil”, destaca o vice-presidente da Comissão Nacional de Pecuária de Corte da CNA, Chico da Paulicéia.
Ele lembra que o Brasil já teve seu status de livre do mal da vaca louca confirmado pela Organização Internacional de Saúde Animal (OIE) poucos dias após a confirmação dos casos. “Inclusive, a ministra Tereza Cristina se dispôs a ir a China pessoalmente para mostrar que o Brasil não tem problema algum de embargo sanitário, que está tudo em dia com a OIE e que toda a documentação foi levada a termo”, ressalta Chico.
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Com uma arroba R$ 60 mais barata após a suspensão, ele ressalta que os confinamentos estão tendo prejuízo na hora de abater seus animais neste final de ano, o que pode afetar as intenções do próximo giro, no ano que vem. “O que a gente enxerga é que o prejuízo do pecuarista está sendo agora e que, para o futuro, vai ser um prejuízo de falta de boi. Porque as pessoas não estão repondo os próximos dias do confinamento”, alerta.
A entidade está solicitando que seja aberto um crédito emergencial para esses produtores, a fim de evitar que o impacto da suspensão chegue ao consumidor brasileiro. “Lá na frente, isso vai se refletir em escassez de carne para abate, o que no final das contas vai atingir a população. E é isso que a gente não quer”, completa Chico.
Compre Rural com informações do El País e Globo Rural