Boi não usa álcool, mas etanol de milho turbina a pecuária brasileira

Etanol de milho, o combustível que alimenta um novo ciclo na pecuária brasileira. O uso de DDG na nutrição de bovinos revoluciona o confinamento, eleva a produtividade e transforma o milho em um dos grãos mais valorizados do agronegócio.

Há menos de uma década, o Brasil inaugurava sua primeira usina de etanol produzida exclusivamente a partir do milho, no Mato Grosso. Desde então, a transformação no campo foi surpreendente. Com 21 usinas operacionais e mais 22 projetos de expansão, o etanol de milho não apenas diversificou a matriz energética do país, mas também impulsionou a produtividade da pecuária com o uso de seus coprodutos, como os Grãos Secos de Destilaria (DDG).

Apesar de o boi não consumir etanol diretamente, a conexão entre o combustível e a carne é evidente. O DDG, um subproduto do processamento do milho nas usinas de etanol, tornou-se essencial na alimentação do gado confinado, oferecendo altas doses de proteína e energia. Isso resulta em engorda mais eficiente, redução no custo de produção e aumento na qualidade da carne.

O que é o DDG?

O DDG (Dried Distillers Grains), em português Grãos Secos de Destilaria, é um subproduto seco resultante do processo de fabricação de etanol a partir de grãos, como milho ou sorgo. Rico em proteínas, fibras e energia, é amplamente utilizado na alimentação animal, especialmente na pecuária de corte e leite. Sua inclusão na dieta dos animais melhora o desempenho produtivo, promovendo maior ganho de peso e eficiência alimentar, além de ser uma alternativa sustentável ao reaproveitar resíduos da indústria de biocombustíveis.

Na pecuária, o DDG pode ser fornecido como ingrediente em rações ou misturado com outros insumos. Ele tem custo competitivo e alto valor nutricional, o que ajuda a reduzir despesas com alimentação, especialmente em períodos de seca ou escassez de pasto. No entanto, seu uso deve ser balanceado por um nutricionista para garantir que a dieta esteja ajustada às necessidades dos animais e evitar excessos que possam comprometer o desempenho ou a saúde.

DDG: o aliado da produtividade e redução de custos

O advento do DDG no Centro-Oeste mudou completamente a produtividade e o custo da terminação do gado, afirmam os principais gestores de nutrição do país. O co-produto permitiu elevar a produção a 39 milhões de abates anuais, quatro milhões a mais do que no ciclo anterior, informou um dos maiores confinamentos bovinos do país, que está ligado a um grande frigorífico. Na fase de engorda, o DDG oferece ganhos de até 12 kg adicionais de carcaça por boi em apenas 100 dias de confinamento, reduzindo o tempo necessário para atingir o peso ideal.

No cenário atual de ciclo de baixa da pecuária, caracterizado pelo aumento do abate de matrizes e redução dos preços, o DDG ajuda a encurtar o ciclo pecuário, contribuindo para estabilizar a oferta de carne no mercado.

ddg subproduto do milho na mao
Foto: Divulgação

Transformação do milho em ativo estratégico

Antes da chegada das usinas de etanol de milho, esse grão era visto como uma alternativa secundária na safrinha. Hoje, o milho se tornou um dos pilares da lucratividade no campo, impulsionado pela demanda do etanol e dos coprodutos como o DDG. Juliano Fernandes, professor da UFG, ressalta que o produto não só garante maior rentabilidade para o agricultor, mas também é vital para a nutrição animal em períodos de seca, comuns no Centro-Oeste.

Além do gado: o avanço do DDG em suínos e aves

Embora consolidado na alimentação de bovinos, o uso do DDG começa a ganhar espaço na criação de suínos e aves. “A curva de adoção do DDG para suínos é promissora, mas para aves ainda depende de avanços em pesquisas,” apontou João Campos, CEO da Seara, ao Gazeta. Em estados como Paraná e São Paulo, o potencial de uso do DDG já é significativo e deve crescer com o aprimoramento técnico.

Impactos e desafios futuros

A produção brasileira de DDG deve atingir 5,2 milhões de toneladas em 2024, com um aumento de 28% em relação ao ano anterior. Cerca de 740 mil toneladas serão exportadas, enquanto o restante atenderá a crescente demanda da indústria nacional de proteína animal. No entanto, o preço do DDG ainda é um ponto de atenção. No Brasil, ele custa até 1,5 vez o valor do milho, enquanto nos EUA a proporção é de 1 para 1.

Segundo Alcides Torres, analista da Scot Consultoria, o DDG é uma solução eficiente, mas não milagrosa. “Ele é um excelente alimento adicional, mas o ciclo pecuário ainda depende de vários outros fatores, como genética e manejo,” conclui.

uso de DDG
Foto: Globo Rural

O futuro do DDG no Brasil

Com a expansão do uso de etanol de milho e seus coprodutos, o Brasil fortalece sua posição como líder global na produção de carne bovina de qualidade. O DDG não só contribui para a eficiência da pecuária, mas também impulsiona a economia agrícola ao valorizar o milho como um recurso estratégico. O caminho é claro: a integração entre tecnologia, energia e agropecuária promete moldar um novo ciclo de alta produtividade no setor.

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