Boi tem preço físico mais alto do que contrato futuro; Analistas consultados apontam qual a tendência para as cotações e explicam como o produtor pode se proteger com hedge; entenda por quê!
Os preços físicos e contratos mais curtos (julho e agosto) do boi gordo estão acima das cotações futuras de vencimento mais longo (outubro). De 25 de junho a 9 de julho, o contrato outubro recuou 2,02% na B3, saindo de R$ 217,50 (pico no ano) para R$ 213,10. Enquanto isso, no mercado físico, a cotação em Araçatuba (SP) saiu de R$ 211 para R$ 218 à vista, alta de 3,32%, de acordo com informações da CMA.
De acordo com o Itaú BBA, esse movimento de inversão na curva subestima o possível efeito altista do pico da entressafra na segunda metade do ano. Assim, não parece sustentável.
O consultor da Safras & Mercado Fernando Iglesias afirma que esse tipo de movimento decorre de pressões especulativas, que distorcem o mercado e fazem com que os fundamentos econômicos não sejam respeitados. Isso é algo importante para o pecuarista, pois pode alterar decisões de venda e intenção de confinamento, elementos bastante relevantes para o entendimento do mercado.
Iglesias diz que o mercado tem dado sinais que o movimento de alta recente está chegando próximo a um limite. Mas, para os próximos meses, ainda há uma expectativa de mercado firme e altas, principalmente após o pico da entressafra na entrada do último trimestre. O pecuarista deve monitorar se a demanda chinesa seguirá forte, as escalas de abate, curtas e a oferta de animais terminados, restrita.
O consultor projeta um giro de confinamento um pouco melhor, cerca de 2% acima das estimativas anteriores. Ele lembra que o período seco no Centro-Oeste pode atrasar a saída dos animais que chegarão ao mercado.
Isso combinado a um aumento sazonal da demanda no último trimestre e expectativa de que a economia brasileira possa estar em pleno funcionamento são pontos que podem apresentar pressão altista nos preços projetando o fim do ano.
Efeito hedge
Com as altas observadas no boi gordo este ano, analistas consultados pelo Canal Rural nas últimas semanas têm sistematicamente recomendado ao pecuarista garantir o preço no mercado futuro via hedge, para aproveitar as cotações em alta. Tendo isso em vista, é importante entender o conceito de hedge e como o pecuarista pode colocar isso em prática.
Hedge é uma operação de compra ou venda de contratos futuros na bolsa, que tem como objetivo cobrir financeiramente os custos de produção, visando minimizar o risco do preço à vista, que está sujeito a variações de curto prazo como pressões de frigoríficos ou demanda externa.
Como colocar em prática?
De acordo com o consultor da Scot Hyberville Neto, o pecuarista tem até quatro opções para travar os preços e garantir os valores a serem recebidos entre duas categorias principais de hedge: mercado a termo com o frigorífico e contratos futuros na bolsa brasileira (B3).
Lembrando apenas que se o pecuarista quer travar os preços, é necessário que ele tenha total controle dos custos de produção para que seja capaz de avaliar se as cotações no mercado futuro são lucrativas a ele.
Mercado a termo
Há duas possibilidades, o termo de preço mínimo e o termo de preço fixo.
O primeiro é acertado entre o pecuarista e o frigorífico com uma venda de um lote e data específicos a um preço pré-acordado utilizando as referências da bolsa. Nesse caso, há um custo, mas o produtor não perde a alta caso ocorra. Ele apenas garante um preço mínimo a receber.
No segundo caso, o preço é fixado e não tem custos ao produtor.
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Mercado futuro na bolsa
Tem também duas possibilidades: compra de opções de venda e venda de contratos futuros.
No primeiro caso, a ideia é semelhante a um seguro. O produtor paga um prêmio pela opção, com o valor dependendo do montante e preço a ser travado e da volatilidade do mercado. Se a cotação subir, ele ganha pela sua produção, descontando o custo de aquisição da opção (seguro). Se cair, ele ganha a variação financeira das opções adquiridas, compensando a queda. Dessa forma, ele não perde poder de compra para reposição, pois o único custo dele é o prêmio pago pela opção e se o mercado subir, ele estará vendendo sua produção a preços melhores.
No segundo caso, o pecuarista vende contratos futuros na Bolsa e não tem necessidade de desembolsar nenhum valor por isso, apenas ter uma margem de garantia depositada na B3. Se o mercado subir, ele perde poder de compra, com a perda financeira com os contratos, porém, o preço estará travado e garantirá aquela rodada de confinamento, de forma que o produtor possa voltar seu foco para o operacional.
Fonte: Canal Rural