
O Instituto Biofábrica da Bahia (IBB), localizado em Ilhéus, abriga o maior centro mundial de mudas de cacau, com uma área impressionante de 40 mil metros quadrados
No coração da zona rural de Ilhéus, no distrito de Banco do Pedro, uma antiga fazenda de 60 hectares, marcada pela história do ciclo do cacau, ganhou uma nova vocação e transformou-se em referência global. Ali está instalado o maior centro de produção e multiplicação de mudas de cacau do mundo, dedicado a fortalecer a agricultura familiar e garantir a sustentabilidade de pequenas propriedades na região sul da Bahia.
O espaço abriga o Instituto Biofábrica da Bahia (IBB), uma estrutura que, apesar de ter sido adquirida pelo governo estadual em 1997, é administrada por uma organização social. O instituto funciona como um verdadeiro motor do desenvolvimento rural, fornecendo mudas não apenas de cacau, mas também de diversas espécies frutíferas e florestais, beneficiando milhares de agricultores com tecnologias acessíveis e capacitação técnica.
De acordo com Valdemir dos Santos, atual diretor-presidente do IBB, a criação da biofábrica foi uma resposta direta à grave crise provocada pela vassoura-de-bruxa nos anos 1980. “Foi uma tentativa de reconstrução. Precisávamos de uma solução eficiente para reerguer a lavoura cacaueira e, ao mesmo tempo, abastecer os agricultores com mudas de qualidade e resistência superior”, explica.
A estrutura da biofábrica impressiona: são 40 mil metros quadrados dedicados exclusivamente ao cultivo em viveiros a céu aberto, com capacidade para armazenar até 4,8 milhões de plantas.
Com tecnologia de ponta, o local também conta com um laboratório de micropropagação de última geração, voltado ao desenvolvimento de clones de cacau mais produtivos e adaptados às mudanças do clima. Trata-se de um trabalho contínuo de pesquisa e inovação que já gerou dezenas de variedades adaptadas, incluindo 12 clones de cacau, mais de 100 tipos de mandioca e dezenas de espécies florestais.

Nos últimos anos, o IBB também passou a distribuir os chamados kits agroflorestais, que reúnem mudas de cacau, banana, açaí, mandioca, goiaba, pau-brasil, ipê e outras espécies, promovendo sistemas de produção mais diversificados e resilientes. A proposta é integrar lavoura e floresta em uma só paisagem, agregando valor e equilíbrio ambiental ao cultivo familiar.
Mais do que um polo de produção, a biofábrica tornou-se um agente de transformação social. Emprega mais de 100 pessoas diretamente, muitas delas mulheres que encontraram ali sua primeira oportunidade de inserção profissional no campo da biotecnologia vegetal.
É o caso de Simone Dantas, que hoje trabalha com técnicas de enraizamento de mudas e reconhece que sua trajetória mudou completamente com a chance de atuar no IBB. “A gente aprendeu na prática a produzir, cuidar e multiplicar. Hoje, conhecemos o cacau de cabo a rabo. E o melhor: conseguimos ensinar isso para nossos filhos, mantendo o saber no campo”, afirma.

Sidney Alves, supervisora de produção e também moradora da comunidade, reforça o impacto da iniciativa. “Essa biofábrica foi o que salvou nossa terra. Aqui, aprendi, cresci e eduquei meus filhos. Como eu, muitas outras famílias tiram daqui o sustento e a esperança de continuar na roça com dignidade”, relata.

Situado entre Ilhéus e Itabuna, o distrito de Banco do Pedro tornou-se símbolo de resistência e reinvenção no cenário rural. Com estrada de terra, quintais produtivos e um viveiro que é referência internacional, a comunidade mostra que, com investimento certo, o campo pode florescer — e o cacau, símbolo histórico da região, voltar a ocupar seu lugar de destaque no desenvolvimento sustentável da Bahia.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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