Aprenda a criar camarão-de-água-doce e transforme sua produção rural

Com a crescente demanda por proteína de alta qualidade e o aumento do consumo interno, investir nessa atividade pode garantir bons retornos financeiros

A criação de camarão-de-água-doce, também conhecida como carcinicultura, vem ganhando espaço no Brasil como uma alternativa lucrativa e sustentável para produtores rurais. Com a crescente demanda por proteína de alta qualidade e o aumento do consumo interno, investir nessa atividade pode garantir bons retornos financeiros. Estima-se que o mercado global de camarão movimente mais de US$ 69 bilhões por ano, e o Brasil, com sua vasta disponibilidade de água, tem grande potencial para expandir sua produção.

Os camarões-de-água-doce são altamente valorizados por sua carne saborosa e pela facilidade de cultivo em diferentes sistemas. A espécie Macrobrachium rosenbergii, conhecida como camarão-da-Malásia, é a mais cultivada no país devido ao seu rápido crescimento e adaptação a diferentes ambientes. Com um planejamento adequado e boas práticas de manejo, pequenos e médios produtores podem obter produtividade acima de 2 toneladas por hectare por ciclo de cultivo.

Escolha da espécie certa

O primeiro passo para quem deseja ingressar na criação de camarão-de-água-doce é escolher a espécie mais adequada. O Macrobrachium rosenbergii é a principal opção devido à sua capacidade de atingir 30 a 40 cm de comprimento e mais de 100 g em poucos meses. Outra espécie promissora é o Macrobrachium amazonicum, nativo do Brasil e bem adaptado ao clima tropical, embora tenha um crescimento menor comparado ao camarão-da-Malásia.

Cada espécie possui exigências específicas de manejo, taxa de crescimento e tolerância às condições ambientais. O camarão-da-Malásia, por exemplo, apresenta um melhor desempenho em águas com temperatura entre 26°C e 30°C e pH entre 6,5 e 8,5. Já o Macrobrachium amazonicum pode ser cultivado em sistemas integrados com peixes, otimizando o uso dos recursos hídricos e aumentando a rentabilidade da propriedade.

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Foto: Divulgação

Estrutura e infraestrutura do viveiro

O sucesso da criação de camarão-de-água-doce começa com a escolha do local e a construção adequada dos viveiros. O ideal é que os tanques tenham profundidade média de 1,2 metros, permitindo um bom controle da temperatura da água. O formato retangular facilita a movimentação dos camarões e a manutenção do ambiente. Para produtores com menos espaço, sistemas de tanques elevados ou bioflocos podem ser uma alternativa eficiente.

A qualidade da água é um fator determinante para o crescimento dos camarões. O uso de aeradores mantém o nível de oxigênio dissolvido acima de 5 mg/L, evitando estresse e mortalidade. A filtragem biológica e o monitoramento constante do pH, temperatura e turbidez são essenciais para manter um ambiente saudável. Investir em um sistema de renovação de água eficiente reduz problemas com doenças e melhora a produtividade.

Manejo da água e qualidade do ambiente

A manutenção da qualidade da água é um dos aspectos mais críticos da carcinicultura. O excesso de matéria orgânica pode gerar acúmulo de amônia e nitritos, substâncias tóxicas que comprometem o crescimento dos camarões. Para evitar esse problema, recomenda-se a troca parcial de 10% a 20% da água semanalmente, garantindo melhores condições para o desenvolvimento da cultura.

Além da renovação, o uso de bioflocos pode ser uma estratégia eficaz para melhorar a qualidade da água e reduzir custos com ração. Esse sistema utiliza microrganismos benéficos que reciclarem resíduos orgânicos, promovendo um ambiente mais equilibrado e sustentável. Estudos indicam que o cultivo em bioflocos pode aumentar a produtividade em até 30%, reduzindo a mortalidade e otimizando o uso da alimentação.

Alimentação e nutrição dos camarões

A alimentação representa cerca de 60% dos custos de produção na criação de camarão-de-água-doce, tornando essencial o uso de estratégias para otimizar a conversão alimentar. Os camarões necessitam de rações balanceadas, com 30% a 40% de proteína bruta, dependendo da fase de crescimento. O fornecimento de ração deve ser feito de duas a quatro vezes ao dia, distribuindo-a de forma uniforme para evitar desperdícios e competição entre os animais.

Além da ração comercial, é possível complementar a nutrição com organismos naturais presentes na água, como algas e zooplâncton. A introdução de substratos artificiais no tanque, como redes ou placas plásticas, cria espaços adicionais para crescimento de biofilmes, que servem como fonte de alimento natural. Essa técnica melhora a absorção de nutrientes e pode reduzir em até 20% os custos com ração.

Povoamento e manejo dos camarões

A densidade de estocagem influencia diretamente na produtividade da criação. O recomendado é iniciar com 5 a 10 camarões por metro quadrado em sistemas semi-intensivos, ajustando conforme o crescimento dos animais. O povoamento deve ser feito com pós-larvas saudáveis, adquiridas de laboratórios certificados para evitar doenças e garantir um melhor desempenho produtivo.

O monitoramento frequente do comportamento e da mortalidade dos camarões ajuda a identificar problemas precocemente. Durante o ciclo de cultivo, práticas como a remoção de restos de ração e a manutenção da qualidade da água são fundamentais para minimizar perdas. Com um bom manejo, a taxa de sobrevivência pode chegar a 80% ou mais, garantindo maior rentabilidade ao produtor.

Ciclo de crescimento e tempo de cultivo

O tempo de cultivo do camarão-de-água-doce varia de acordo com a espécie e as condições ambientais. Em sistemas bem manejados, o Macrobrachium rosenbergii atinge peso comercial entre 80 e 120 gramas em 4 a 6 meses. Já o Macrobrachium amazonicum leva um pouco mais de tempo para atingir o tamanho ideal de mercado.

A adoção de boas práticas de manejo, como ajustes na alimentação e controle rigoroso da qualidade da água, pode reduzir o tempo de crescimento e aumentar a conversão alimentar. Estudos mostram que com nutrição adequada e temperaturas ideais, é possível alcançar produtividade superior a 2 toneladas por hectare por ciclo de cultivo.

Colheita e comercialização

Foto: Divulgação

A colheita do camarão deve ser feita com redes apropriadas para evitar danos ao produto. O transporte deve ser realizado em condições controladas, utilizando caixas isotérmicas com gelo para manter a qualidade da carne. Camarões frescos e bem apresentados podem alcançar preços acima de R$ 60 por quilo no mercado interno, com potencial ainda maior para exportação.

Com a crescente demanda por produtos de origem sustentável, investir na certificação de produção e boas práticas pode valorizar ainda mais a comercialização. Restaurantes, feiras livres e vendas diretas ao consumidor são algumas das principais formas de escoar a produção. A diversificação da comercialização garante maior segurança financeira e estabilidade ao negócio.

A criação de camarão-de-água-doce representa uma excelente oportunidade para produtores que desejam diversificar suas atividades e obter alta rentabilidade. Com manejo adequado, controle da qualidade da água e boas práticas nutricionais, é possível alcançar produtividades expressivas e reduzir custos operacionais.

Para quem deseja iniciar na atividade, o primeiro passo é buscar capacitação e adquirir conhecimentos técnicos sobre a carcinicultura. A adoção de tecnologias como bioflocos e sistemas de recirculação pode elevar a eficiência da produção e tornar a criação de camarão ainda mais lucrativa.

Escrito por Compre Rural

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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira

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