
Alta na demanda externa, mercado fitness e políticas públicas impulsionam expansão da cultura no Brasil, com destaque para São Paulo e Mato Grosso do Sul. A produção brasileira de amendoim mais que triplicou.
Nos últimos dez anos, a produção brasileira de amendoim mais que triplicou, passando de 346,8 mil toneladas na safra 2014/15 para 733,7 mil toneladas em 2023/24. Segundo a Companhia Nacional de Abastecimento (Conab), projeta-se uma produção recorde de mais de 1,18 milhão de toneladas na safra 2024/25, um aumento de 60,3% em relação à safra anterior.
Esse crescimento notável tem sido acompanhado por uma expansão significativa da área plantada: de 108,9 mil hectares em 2014/15 para cerca de 279,4 mil hectares estimados em 2024/25 – um aumento de 156% em uma década. A produtividade média também evoluiu, reflexo de melhores práticas agrícolas e do uso do amendoim em rotação com a cana-de-açúcar (o que melhora a fertilidade do solo e o rendimento da cultura).
Boa parte desse avanço ocorreu a partir de 2018/19, quando condições climáticas favoráveis e técnicas aprimoradas elevaram a produtividade. Por exemplo, entre 2018/19 e 2019/20 a produção saltou de 434,6 mil t para 537,6 mil t (+23,7%) praticamente sem aumento de área, graças a um ganho de produtividade de 23,9%.
Na safra 2020/21, o país colheu aproximadamente 595,8 mil toneladas de amendoim, e em 2021/22 atingiu então o recorde de 746,7 mil toneladas antes da ligeira quebra de safra no ciclo seguinte. Mesmo com a quebra de safra no ano passado, a produção de 2023/24 (733,7 mil t) manteve-se muito acima do início da década.
A seguir, são apresentados os dados anuais de área plantada e produção de amendoim no Brasil, com destaque para a participação dos estados de São Paulo (SP) e Mato Grosso do Sul (MS), principais produtores nacionais, em cada safra (2014/15 a 2024/25), segundo fontes oficiais.
A Tabela 1 resume a evolução da área plantada (em mil hectares) e da produção (em mil toneladas) de amendoim no Brasil entre 2014/15 e 2024/25, incluindo a produção estimada nos estados de São Paulo e Mato Grosso do Sul e a participação percentual destes na produção nacional de cada safra. Nota: valores de 2024/25 são projeções da Conab (12º levantamento), sujeitas a revisão.
Tabela 1 – Área plantada e produção de amendoim no Brasil (2014/15–2024/25), com produção em São Paulo e Mato Grosso do Sul
Ano-safra | Área plantada (mil ha) | Produção total(mil t) | Produção em SP(mil t) | Produção em MS(mil t) | SP (% do total) | MS (% do total) |
---|---|---|---|---|---|---|
2014/15 | 108,9 | 346,8 | ~340 (estimado) | ~0 (residual) | ~98% | ~0% |
2015/16 | ~120 (estimado) | ~315 (estimado) | ~313 (estimado) | ~0 (residual) | ~99% | ~0% |
2016/17 | ~125 (est.) | ~420 (est.) | ~418 (est.) | ~0 (residual) | ~99% | ~0% |
2017/18 | ~130 (est.) | ~350 (est.) | ~347 (est.) | ~0,3 (residual) | ~99% | ~0.1% |
2018/19 | 146,8 | 434,6 | ~430 (est.) | ~0,5 (residual) | ~99% | ~0.1% |
2019/20 | 146,5 | 537,6 | ~500 (est.) | 7,2 | ~93% | 1,3% |
2020/21 | ~156 (est.) | 595,8 | ~580 (est.) | ~10 (est.) | ~97% | ~1.7% |
2021/22 | ~170 (est.) | 746,7 | 692,7 | ~20 (est.) | 92,8% | ~2.7% |
2022/23 | ~170 (est.) | ~600 (est.) | ~550 (est.) | ~50 (est.) | ~92% | ~8% |
2023/24 | ~180 (est.) | 733,7 | ~660 (estimado) | 70,5 | ~90% | 9,6% |
2024/25* | 279,4 | 1.180,0 (proj.) | ~980 (proj.) | 181,8 (proj.) | ~83% (proj.) | 15,4% (proj.) |
Como se observa, o estado de São Paulo domina a produção nacional de amendoim ao longo de todo o período, respondendo tipicamente por 90% ou mais da safra brasileira. Até por volta de 2018, São Paulo representava praticamente a totalidade da produção (acima de 95%), com outros estados contribuindo de forma marginal.
A partir da safra 2019/20, contudo, nota-se a ascensão de Mato Grosso do Sul, que se consolidou como segundo maior produtor nacional nos anos mais recentes. Em 2019/20, o estado colheu apenas 7,2 mil toneladas (cerca de 1% do total), mas sua participação vem crescendo rapidamente: aproximadamente 9,6% da safra brasileira em 2023/24, com 70,5 mil toneladas colhidas.
Para 2024/25, a Conab projeta 181,8 mil toneladas em Mato Grosso do Sul, o que representaria mais de 15% da produção nacional estimada. Enquanto isso, a fatia de São Paulo deve se manter entre 80% e 85%. Vale destacar que outros estados, como Paraná, Minas Gerais e Rio Grande do Sul, também produzem amendoim, mas em escala bem menor — somando cerca de 5% ou menos do total nas últimas safras.
Fatores que Influenciaram a Evolução da Cultura
Vários fatores explicam a tendência de alta na área e na produção de amendoim ao longo da última década, consolidando a cultura como uma alternativa cada vez mais relevante no cenário agrícola brasileiro.

Rotação com cana-de-açúcar em São Paulo
O principal deles é a integração do amendoim na reforma dos canaviais paulistas. Com a mecanização das lavouras e a necessidade de recuperar áreas entre ciclos da cana, muitos produtores passaram a cultivar amendoim como forma de melhorar a fertilidade do solo e gerar renda extra no período de rotação. Como resultado, a área plantada em São Paulo praticamente dobrou desde a safra 2014/15. Em 2021/22, o estado colheu 692,7 mil toneladas, o que representou 93% da produção nacional na época — um volume recorde impulsionado pelo ganho de produtividade e pela expansão das áreas cultivadas.
Demanda externa aquecida
Outro vetor importante é o crescimento das exportações. Aproximadamente 70% da produção brasileira de amendoim é exportada, com destaque para mercados como União Europeia (especialmente Holanda, Polônia e Itália), além de Rússia, Reino Unido e, mais recentemente, a China. O amendoim brasileiro é valorizado internacionalmente pela qualidade, o que tem elevado os preços pagos aos produtores. Esse cenário de rentabilidade crescente atraiu investimentos na cultura, principalmente a partir de 2018, quando o amendoim passou a ser visto como uma cultura comercial mais atrativa que outros grãos.
Políticas de fomento em Mato Grosso do Sul
Nos últimos anos, Mato Grosso do Sul passou a investir ativamente na diversificação agrícola, incentivando o cultivo de amendoim como alternativa à soja em algumas regiões. O governo estadual promoveu ações como dias de campo, assistência técnica e atração de indústrias processadoras, o que fomentou o interesse de produtores locais.
Como resultado, a área cultivada no estado saltou de pequenas lavouras familiares para 21 mil hectares em 2023/24, e a projeção é que ultrapasse 40 mil hectares em 2024/25. A produção sul-mato-grossense cresceu 879% em apenas quatro anos, saindo de 7,2 mil toneladas em 2019/20 para 70,5 mil toneladas em 2023/24. Com solos arenosos e bem adaptados à cultura, MS tornou-se um novo polo produtor nacional.
Consumo interno e valorização no mercado fitness
Paralelamente à exportação, o consumo interno de amendoim de alta qualidade também cresceu, impulsionado pela popularização de dietas saudáveis e ricas em proteínas. Produtos como pasta de amendoim, barras energéticas e snacks naturais fizeram do amendoim uma “estrela fitness”. Essa valorização agregou valor ao produto e incentivou melhorias genéticas e tecnológicas nas lavouras. Apesar do alto custo de produção em relação a grãos como a soja, o amendoim pode oferecer margens superiores de lucro — até 50% em condições favoráveis, contra cerca de 42% da soja.
O renascimento da cultura do amendoim
Em síntese, a última década marcou o renascimento da cultura do amendoim no Brasil, com São Paulo consolidando volumes recordes e Mato Grosso do Sul despontando como nova fronteira produtiva. A combinação entre rotação com a cana-de-açúcar, demanda externa aquecida, políticas estaduais de incentivo e interesse do mercado interno levou a uma transformação na cultura.
De uma produção modesta em 2014/15, o Brasil caminha para ultrapassar a marca de 1 milhão de toneladas em 2024/25, segundo estimativas da Conab. A continuidade dessa trajetória dependerá, principalmente, do comportamento do mercado internacional e das condições climáticas, mas o fato é que o amendoim brasileiro vive seu melhor momento histórico e caminha para se firmar entre os grandes players globais do setor.
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