Com sementes especiais e novas tecnologias, cultivo de alimentos em ambientes fechados ganha força. O movimento começou em países como o Japão e se disseminou globalmente.
Em meio a preocupações crescentes com o meio ambiente e a escassez de recursos naturais, um novo tipo de negócio tem surgido. As fazendas verticais, que dispensam o uso de terra e até luz solar, vêm ganhando espaço em centros urbanos. O movimento começou em países como o Japão e se disseminou globalmente – o desenvolvimento de sementes especialmente adaptadas às condições de cultivo em espaços fechados tem sido um elemento fundamental para o crescimento da agricultura urbana. No ano passado, esse mercado movimentou 3,6 bilhões de dólares no mundo, 20% a mais do que em 2020, segundo a consultoria MarketsandMarkets.
No Brasil, o modelo também está fincando raízes. O novo episódio do programa EXAME Agro mostra o sistema de produção da 100% Livre, fazenda vertical de São Paulo. Criada em 2019 pelo publicitário Diego Martins, de 36 anos, o negócio tem prosperado. Hoje, são produzidas mais de 90 mil unidades de hortaliças por mês, além de legumes e frutas. Os alimentos são vendidos para grandes redes de varejo como Mambo e Natural da Terra — e a empresa acaba de fechar um contrato de distribuição nacional com o Carrefour.
A ideia de criar a agtech surgiu depois de uma viagem de Martins ao Japão, em 2018. “Vi uma reportagem lá sobre agricultura urbana e me interessei pelo modelo, totalmente focado na sustentabilidade”, conta o publicitário, que já tinha experiência com negócios. Martins fundou sua primeira empresa em 2013, a Coletiva Mídia, de propaganda.
Na volta ao Brasil, o empreendedor resolveu procurar a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa) para aprofundar o conhecimento sobre diferentes técnicas de agricultura e investir em inovação. “Logo ficou claro que precisaríamos de cultivares especiais”, diz Martins.
A parceria deu certo. Martins ajudou a montar um laboratório de pesquisa na sede da Embrapa, em Brasília, especialmente voltado ao desenvolvimento de sementes que dispensam terra e luz solar. Ao mesmo tempo, investiu na criação de um centro de inovação na 100% Livre, localizada em uma antiga área industrial de São Paulo, com foco em novas tecnologias utilizadas na agricultura.
Este ano, a empresa, que recebeu em fevereiro um aporte da BMPI Venture, braço de venture capital do fundo BMPI Infra, deve investir cerca de 1 milhão de reais em novas soluções de automação e tecnologia, como inteligência artificial. Faz parte dos planos da agtech atender grandes empresas do setor de alimentos, bebidas e farmacêutico que estão buscando parcerias para a produção de plantas orgânicas em ambientes controlados. “Trata-se de um mercado muito promissor”, diz Martins.