
Originário do Japão, o matcha é um pó verde finamente moído das folhas da planta Camellia sinensis, a mesma utilizada na produção do chá verde e do chá preto
Durante séculos, o café reinou soberano nas xícaras dos brasileiros, alimentando conversas, rotinas e jornadas de trabalho. Mas, nas cafeterias mais antenadas e nas redes sociais de influenciadores da saúde e bem-estar, um novo protagonista vem roubando a cena: o matcha, o chamado “pó verde”.
Com aparência vibrante, sabor peculiar e promessas de benefícios à saúde, ele está despertando o interesse de um público cada vez mais exigente — e provocando até escassez global.
O que é o matcha e por que ele virou tendência?
Originário do Japão, o matcha é um pó finamente moído das folhas da planta Camellia sinensis, a mesma utilizada na produção do chá verde e do chá preto. A diferença, porém, está no modo de cultivo e processamento. As plantas destinadas ao matcha são cultivadas na sombra — o que intensifica sua cor e composição nutricional — e, após a colheita, passam por um processo de cozimento a vapor, secagem, retirada dos caules e moagem cuidadosa em baixas temperaturas.
O resultado é um pó verde intenso, que pode ser misturado com água, leite ou incorporado a receitas diversas — de massas a sobremesas. No Japão, é tradicionalmente preparado em cerimônias com água quente e servido em tigelas de pedra. Já no Brasil, ele aparece cada vez mais em versões como o matcha latte, em versões quentes ou geladas, ganhando também espaço no universo da confeitaria e da gastronomia funcional.
O visual chamativo e fotogênico tem ajudado a impulsionar sua presença nas redes sociais. Mas a curiosidade que move consumidores e empreendedores vai além do Instagram: afinal, o matcha entrega mesmo o que promete?
Fitonutrientes poderosos e benefícios que chamam atenção
Diversos compostos presentes no matcha estão na mira da ciência por suas potenciais propriedades terapêuticas. Entre os principais estão:
- Clorofila: responsável pela cor verde vibrante, é conhecida por seus efeitos antioxidantes, anti-inflamatórios e até anticancerígenos.
- Teanina: aminoácido raro, com ação calmante e potencial para melhorar a qualidade do sono, reduzir a ansiedade e aumentar a concentração.
- Catequinas: poderosos antioxidantes que ajudam a combater inflamações, vírus, bactérias e células cancerígenas. Estão presentes em maior quantidade no matcha do que no chá verde convencional.
- Cafeína: estimula a atenção e pode oferecer proteção contra doenças neurodegenerativas, mas em uma liberação mais suave do que a do café, por conta da interação com a teanina.
O cultivo na sombra, segundo especialistas, eleva significativamente os níveis desses fitonutrientes. Como o matcha utiliza a folha inteira, ao contrário do chá verde comum (onde apenas a infusão é consumida), há um ganho nutricional mais denso — ao menos em teoria.
Evidências científicas: o que já se sabe?
Embora os estudos sobre o matcha ainda sejam escassos, algumas pesquisas começam a desenhar um cenário promissor. Uma revisão de 2023 identificou cinco estudos experimentais com humanos, nos quais doses de 2 a 4 gramas diárias (equivalentes a 1 a 2 colheres de chá) mostraram:
- Redução do estresse e da ansiedade
- Melhora na memória e função cognitiva
- Efeitos positivos na qualidade do sono em idosos
Já estudos com o chá verde, mais amplamente investigado, apontam ainda para reduções no colesterol, pressão arterial, perda de peso e menor risco de certos tipos de câncer.
Ainda é cedo para afirmar que o matcha entrega todos esses benefícios com a mesma eficácia, mas seu perfil nutricional mais concentrado indica que ele pode, sim, ter um potencial superior ao do chá verde tradicional.

Uma nova fronteira para o produtor brasileiro
Com o matcha ganhando espaço nas cafeterias, padarias e prateleiras de supermercados mundo afora, surge uma pergunta inevitável: o Brasil tem condições de produzir esse “pó verde” que virou tendência global? A resposta aponta para uma nova e promissora fronteira agrícola. Com histórico de sucesso em culturas como o café, a soja e o açaí, o país já começa a enxergar no matcha uma oportunidade de diversificação com alto valor agregado, especialmente para produtores atentos às tendências de mercado e dispostos a investir em inovação.
Possibilidades de cultivo do pó verde em território nacional
Seu cultivo, no entanto, requer técnicas específicas: sombreamento controlado, colheita criteriosa e moagem em ambiente de baixa temperatura. Regiões brasileiras com clima subtropical e tropical de altitude, como partes de Minas Gerais, Espírito Santo e sul da Bahia, mostram potencial para adaptar essas técnicas, principalmente com o uso de estufas sombreadas e manejo adequado do solo. Pesquisadores e técnicos agrícolas já estudam a viabilidade da produção em escala comercial, adaptando a planta ao terroir brasileiro.
Apesar de exigir cuidados técnicos mais refinados, como o sombreamento e a moagem ultrafina das folhas, o matcha pode ter custos de produção similares ou até inferiores aos do café especial. A principal diferença está na etapa pós-colheita, que demanda equipamentos específicos para a secagem e trituração. No entanto, esses custos são compensados pelo valor de mercado: enquanto o café especial pode alcançar até R$ 1.500 por saca, o matcha de qualidade premium pode ser vendido a preços superiores a R$ 4.000 o quilo no mercado internacional.
Embora os dados ainda sejam preliminares no Brasil, estudos internacionais indicam que a rentabilidade do matcha pode superar a do café especial em áreas bem manejadas. Estima-se que um hectare de Camellia sinensis dedicado à produção de matcha possa gerar até três vezes mais retorno do que a mesma área de café, considerando os preços praticados nos mercados de nicho e exportação. A chave está na qualidade do produto final e na conexão com compradores dispostos a pagar por um matcha autêntico, puro e sustentável.
O café precisa se preocupar?
Ainda que o matcha esteja ganhando espaço, o café segue como ícone cultural e econômico do Brasil — tanto como bebida quanto como produto de exportação. A ascensão do matcha, no entanto, sinaliza uma diversificação importante nos hábitos de consumo, especialmente entre públicos mais jovens, urbanos e atentos à nutrição.
Mas é bom lembrar: nem todo produto com matcha é sinônimo de saúde. Quando misturado a croissants, bolos açucarados e sorvetes ultraprocessados, seus benefícios podem ser neutralizados por altas doses de açúcar, gordura saturada e sódio. A escolha do consumo consciente é essencial.
Escrito por Compre Rural
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ℹ️ Conteúdo publicado pela estagiária Ana Gusmão sob a supervisão do editor-chefe Thiago Pereira
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