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A resposta é um categórico ‘não’. Não vai haver espaço para o produtor que não levar em frente práticas sustentáveis. Mas isso vai acontecer de forma natural, não necessariamente a gente precisa forçar a barra e eu vou explicar os motivos.
Por Lygia Pimentel*
Antes de mais nada, é importante entender de onde vem o termo sustentabilidade. Apesar de ser predominantemente associado às questões ambientais, esse termo e suas variações, como ESG, por exemplo, representam um tripé, que é econômico, social e ambiental, e que, para existir, tem que conviver em harmonia e codependência, como, de fato, um tripé, que, ao tirar uma das pernas, vai tudo para o chão.
Então, onde o lado econômico vai mal, por exemplo, abaixa os indicadores sociais e há o consequente aumento de atividades ilegais, inclusive aquelas relacionadas ao meio ambiente. Então, é importante entender que um dos maiores problemas da sustentabilidade e da pecuária brasileira se concentra na alta taxa de pastagens degradadas, que já melhorou, de 27% no início dos anos 2000 para os atuais 22%, mas que ainda vai melhorar muito mais nas próximas décadas. E um ponto importante é que essa recuperação acontece de forma espontânea pela própria pressão econômica da atividade.
Pastagens degradadas produzem pouca biomassa, ou seja, pouca comida para o gado. Então, como consequência, sequestram quase nada de carbono na atmosfera, inclusive depositam pouco carbono nos solos. Mas o fato é que, com pouca produção de capim, o negócio fica pouco rentável também, porque não permite a diluição adequada dos custos fixos e aos poucos vai dando errado para aquele produtor.
Então, nesse cenário tem três possibilidades para esse produtor insustentável: ele tem que vender a terra quando perceber que o negócio não está dando lucro, não está dando retorno, cedendo esse pedaço de terra para os mais eficientes; ele pode de fato quebrar, cedendo também, ou ele pode investir em reformas que tornem essas pastagens mais produtivas e naturalmente mais amigáveis à questão ambiental.
Adiciono a isso o fato de que a margem líquida sobre a venda de uma arroba recuou 64% da década 1990 para cá, o que acelera o ritmo de exclusão do mal produtor, aquele que é ineficiente e trabalha normalmente com esses pastos degradados de maneira pouco sustentável.
Ou seja, quem ainda não entendeu isso, estará fora economicamente da pecuária na próxima década, dando espaço para quem é mais eficiente. E isso também significa que está em curso uma mudança espontânea e natural, que tornará as pastagens peça-chave no sequestro de CO2 atmosférico, em especial aquela parcela relacionada à queima de combustíveis fósseis, que não possui mecanismos eficientes de offset.
Fora isso, as pressões legais e regulamentares tendem a aumentar essa pressão, que é um reforço desse processo natural, mas é importante destacar que as políticas públicas de aceleração do processo de reversão de degradação dessas pastagens devem ser implantadas de maneira cuidadosa para não forçar o ritmo de recuperação ao ponto de marginalizar especialmente pequenos que não consigam se adequar nos prazos que os teóricos, e especialmente as entidades internacionais, alheias à nossa produção produtiva exigem.
*Lygia Pimentel é médica veterinária, economista e consultora para o mercado de commodities. Atualmente é CEO da AgriFatto. Desde 2007 atua no setor do agronegócio ocupando cargos como analista de mercado na Scot Consultoria, gerente de operação de commodities na XP Investimentos e chefe de análise de mercado de gado de corte na INTL FCStone.
Fonte: Forbes.
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