A geração pelo setor sucroenergético representou 79,5% da produção total da bioeletricidade ofertada à rede em 2021, seguida pelo licor negro
Em média, cada tonelada de cana processada na indústria sucroenergética resulta em 250 kg de bagaço e 200 kg de palhada, ambas com 50% de umidade. Historicamente, essa biomassa tem sido empregada na geração de energia térmica e elétrica para atendimento à produção do açúcar e do etanol, um dos principais aspectos da sustentabilidade dessa indústria brasileira: a autoprodução para atendimento ao consumo próprio.
A partir de 1987, na região Centro-Sul, essa indústria começou a produzir excedentes de energia elétrica para a rede nacional. Começando com kWh, atualmente, o setor sucroenergético oferta TWh para a rede todo ano, numa evolução acompanhada pela fonte biomassa como um todo. Em 2021, a geração de energia elétrica (ou bioeletricidade) para a rede (incluindo os resíduos sucroenergéticos, biogás, lenha, lixívia, resíduos de madeira, capim elefante, casca de arroz) no Brasil foi de 25,4 TWh, representando 4% da geração total produzida no país, sem considerar o autoconsumo. Atualmente, a bioeletricidade gerada a partir da cana-de-açúcar é a quarta fonte mais importante da matriz elétrica brasileira.
A geração pelo setor sucroenergético representou 79,5% da produção total da bioeletricidade ofertada à rede em 2021, seguida pelo licor negro (subproduto da indústria de papel e celulose) com 11,9% e pelo biogás, com 4,5%. O setor sucroenergético produziu, durante o ano, 20,2 TWh para a rede, que representa redução de 10,6% em relação ao ano de 2020, por conta das condições climáticas, mas suficiente para a atender 10,2 milhões de residências no ano passado.
Em um ano em que vivenciamos a pior crise hidrológica no setor elétrico brasileiro desde 1930, a energia da biomassa da cana poupou 14% da energia capaz de ser armazenada sob a forma de água nos reservatórios das hidrelétricas do submercado Sudeste/Centro-Oeste, principal do setor elétrico, por conta da maior previsibilidade e disponibilidade da bioeletricidade justamente no período seco e crítico para o setor elétrico brasileiro.
Além do mais, a geração da biomassa da cana para a rede evitou as emissões de CO2 estimadas em sete milhões de toneladas, índice superior às emissões de CO2, em 2020, de um país como Uruguai, considerando as emissões por combustíveis fósseis e da indústria do cimento (Global Carbon Project, 2022); marca que somente seria atingida com o cultivo de 49 milhões de árvores nativas ao longo de 20 anos.
De 2012 a 2021, a bioeletricidade sucroenergética para a rede foi de 196,9 TWh, geração que seria suficiente para suprir o consumo de energia elétrica do mundo por mais de três dias, da União Europeia por 25 dias, da China por 13 dias, dos EUA por 18 dias, do Reino Unido por 232 dias, e da Argentina por quase 1 ano e 8 meses. Em termos de emissões evitadas, a geração para a rede nos últimos 10 anos pelo setor sucroenergético foi de 70,1 milhões de toneladas de CO2eq, superiores às emissões de CO2 conjuntas de Portugal e Dinamarca, em 2020, ou às emissões somadas do Panamá, Paraguai, Bolívia e Equador.
E ainda há um potencial de geração gigantesco dessa energia elétrica renovável e sustentável no setor sucroenergético brasileiro. O potencial técnico de geração de bioeletricidade para a rede, com base em dados da safra canavieira 2020/21, pode ser estimado em 151 TWh, advindo sobretudo da reforma do parque existente e no aproveitamento da palha e do biogás na geração de bioeletricidade.
Estamos aproveitando 15% do potencial de geração de bioeletricidade sucroenergética para a rede. Esse potencial de 151 TWh representa mais de duas vezes a geração da Usina Itaipu e quase cinco vezes a produção da Usina Belo Monte em 2021, mostrando as grandes oportunidades para aproveitar melhor o potencial dessa fonte renovável e sustentável, a partir de uma biomassa já existente nos canaviais.